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Mostrando postagens de janeiro, 2020

Requintes de crueldade

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Impressionante o requinte de crueldade do Banco Itaú, com todos os requisitos para protagonizar um filme de terror. Ele no papel de vampiro. Já falei aqui do fatídico golpe que me surrupiou R$ 8,3 mil entre dezembro e janeiro (primeiro no débito, depois no crédito). Logo depois recebi um e-mail do banco me tranquilizando, dizendo que o valor seria estornado em poucos dias. Já no início de janeiro, porém, uma ligação do mesmo me avisou que o valor seria cobrado na minha fatura de fevereiro, e só então soube do pavoroso gasto também feito no crédito. Esse ano faço bodas de prata, motivo mais do que justo para comemorar. Ontem comecei a me mexer para comprar passagens e fazer reservas na América do Sul. No primeiro passo, o cartão recusou a compra. Liguei para lá e, como sempre, não digitei a senha pedida na ligação, ainda mais depois do golpe. Ao chegar no atendente, ele afirmou: se eu não digitasse a senha a operação não seria aprovada. Algo parecido com o golpe: ao ligar par

Verão da geosmina

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Existe uma explicação para essa água intragável que a Cedae nos tem empurrado goela abaixo. Ao tomar posse, o governador – o mesmo que liga ao vice-presidente, grava a conversa e põe nas redes sociais e diz que é para atirar na cabecinha -, indicou o pastor Everaldo para controlar a estatal. Ambos são do mesmo Partido Social Cristão (PSC). O pastor, por  sua vez, indicou à presidência Hélio Cabral, cuja missão é sucatear a Cedae para que ela seja privatizada e honre o empréstimo contraído dos  franceses no governo Pezão, a quem Helio Cabral também serviu, com vencimento em dezembro. Cabral – por coincidência, sobrenome mais sujo que pau de galinheiro – demitiu no ano passado 54 engenheiros de carreira que cuidavam, entre outras coisas, da qualidade da água fornecida pela Cedae. Embarreirou, ainda, projetos que poderiam melhorar a qualidade da nossa água, sob o pretexto de falta de verbas. Só que o lucro da empresa no ano passado foi de R$ 800 milhões. Já Witzel diz que as obras n

O resgate das bromélias

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Aechmea blanchetiana Quando o artista plástico Pablo Menezes começou a plantar mudas de bromélias no Parque Guinle, em 2013, ainda havia uma sombra em torno das espécies - do gênero botânico da família Bromeliacea e, e subfamília Bromelioidea , assim batizadas em homenagem ao botânico sueco Olaf Bromelius (1639-1705) . A  capacidade dessas plantas para armazenar água seria um atrativo aos mosquitos aedes aegypti , transmissores da dengue. Hoje, porém, o papel de vilã da bromélia caiu por terra, após uma pesquisa da Fiocruz, indicando que elas não representam riscos. E quem passou a imperar neste nefasto pódio é a abundante goesmina, alga multiplicada pela proliferação de esgoto nas águas do Rio Guandu, que abastece o Rio de Janeiro. A tal da goesmina não apenas empresta à água gosto e odor insuportáveis, como atrai os mosquitos da dengue. Aechmea tillandsioides As bromélias, portanto, não têm nada a ver com isso. Especialmente ao ar livre, quando a água que acumulam se acidi

Assim é se lhe parece

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Um dia, já passava dos 33, duas filhas amamentadas, troquei de roupa junto a jovens colegas do Jornal do Brasil e constatei: estou um bocado passada, ao observar aqueles seios ainda rígidos. Anos depois, já na Revista Isto É, depois dos 40, me conformava em ver as fotos de Vera Fischer, alguns anos mais velha que eu, esbanjando beleza já na fase dos “enta”. Ao mesmo tempo, buscava uma maturidade, como pessoa e também no meu texto, que custavam a chegar. Ainda no meu primeiro casamento, imaginava que o tal amadurecimento nunca chegaria, até porque minha vida era careta demais, convencional demais. Aí vieram a separação, seguida de uma traição que me tirou o rumo, a urgência de criar duas filhas com o salário medíocre de jornalista e, nada. Nada da tal maturidade, enquanto as rugas já davam o ar da sua graça. Quando cheguei à faixa dos 50, a famosa meia idade, senti que o envelhecimento me perseguia, embora ainda não tivesse chegado de fato. O amadurecimento era inevitável, porém,

Educação para todos

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Darcy Ribeiro Quando entrei no Jornal do Brasil, em 1980, aos 24 anos, ainda não tinha clareza da hierarquia de importância entre saúde, educação e segurança. Mudava de ideia conforme o contexto. Até que virei setorista do primeiro governo Brizola (1983-1987). Nunca me esqueço da inauguração do Ciep Tancredo Neves, o primeiro do Rio, na Rua do Catete. Com um entusiasmo que fazia seus olhos brilharem, Darcy Ribeiro (1922-1997) - agora com a escola de cinema que leva seu nome também sob ameaça - exultava: “Isso aqui vai ser o palácio dessas crianças!”. Começou a ficar claro o papel da Educação. Não haveria saúde sem educação, e muito menos segurança. O exemplo da Coreia do Sul está aí para provar. Durante os anos de chumbo da ditadura militar ao invés de aprofundar o básico, inventaram a inútil Moral e Cívica, tudo sob uma retrógrada ideologia fascista. Após a oxigenação da democracia, nunca imaginei que voltaria a ver esse cenário, embora ainda não comparável ao Brasil pós 196

Pinto no lixo

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Tive o prazer de conhecer Cecília Costa quando passei pela deliciosa experiência de voltar ao Jornal do Brasil, de fevereiro de 2018 a janeiro de 2019 - no curto  revival desse periódico que fez tanta história no país. Simpatia que misturava o temperamento tímido ao extrovertido, se é que isso é possível  ser conciliado numa mesma pessoa, Cecília, com sua formação em Letras, experiência no jornalismo e convivência com o já falecido marido, o acadêmico Ivan Junqueira, me brindou com a deliciosa resenha sobre meu meu romance, "A colcha escarlate", no Correio da Manhã - jornal que permanece duas semanas nas bancas - reproduzida abaixo. A foto é da querida Ana Lúcia Araujo.

Rio X São Paulo

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Foto MAM Gabriel de Paiva Já cansei de declarar meu amor pelas belezas naturais do Rio, imbatíveis, cenários das corridinhas matinais. A cidade em si, porém, é cada dia mais caótica. Muito impressionante a foto de Gabriel de Paiva dos moradores de rua, por total falta de alternativa, dormindo no pilotis do Museu de Arte Moderna, premiada obra de Affonso Eduardo Reidy. Pobreza sufocante. E aos constantes desmandos de nosso bispo alcaide, hospitais à míngua, agora se soma a água intragável, nunca vista, de responsabilidade de um governador que não viu aí motivo para interromper as férias na Disney. Pateta perde. No início do ano, com meu tempo já tomado por um bendito trabalho, soube por uma amiga que o Metrô Rio, assim como o de São Paulo, passara a admitir gratuidade a partir dos 60. Chance de reduzir meus custos? Surgiu uma brecha e corri à estação Central do Brasil. Teria de esperar pelo menos uma hora na fila. Notei, contudo, que ninguém ali parecia ter 60, certamente todos já

Casamento no mato

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Quando Leco chegou aqui em casa com sua malinha, em 3 de março de 1995, disse que nunca tinha casado oficialmente e perguntou se eu topava. Como eu já tinha passado por um divórcio, toparia se fosse algo espiritual. Meu primeiro casamento se limitou ao papel, estava afastada da religião católica e   pensei então numa cerimônia budista. Sem saber desse detalhe, ele argumentou: então vamos casar na igrejinha do banco! Feliz com o novo amor, entendi que essa igrejinha ficava no terreno que fora do meu bisavô, Franklin Sampaio, no Vale do Bonfim, em Correas, onde eu gostava muito de caminhar. Topei. E quem gostou mais, claro, foram minha mãe e avó. Fui  com essa última  ao local – uma pequena igreja branca de estilo espanholado, perdida nas plantações de verduras e flores dos colonos que assumiram a posse da área abandonada por meus tios-avós, hoje Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Emocionada, vovó contou que a obra fora de Jorge, seu irmão, para seu próprio casamento. Na vésper

Primórdios da Pousada Alcobaça

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Um leilão movimentou a serra fluminense em 1910. Estava à venda o Sítio Santa Helena, sete alqueires a partir da linha da Estrada de Ferro Leopoldina na altura de Correas, banhados pelo então cristalino Rio Morto. Era pule de 10 que o vencedor seria o empresário Carlos Guinle. Outro poderoso empresário, o português Manoel da Silva Monteiro, porém, estava entre os candidatos e recebeu uma preciosa informação de bastidor: Guinle descera ao Rio de Janeiro por achar que era lá que ocorreria o leilão, na realidade, realizado na porta da propriedade. Monteiro levou.   Esses foram os primórdios da história da Pousada Alcobaça, inaugurada em 1990 na casa de estilo normando erguida em 1914 pelo empresário português. O projeto foi do premiado arquiteto Heitor de Melo, autor também do Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara Municipal, na Cinelândia. Além do charme da sede, o enorme terreno ganhou os cuidados das mãos de fada de Laura Góes, mulher do neto de Manoel Monteiro, cujo talento se e

Oito dias no Xingu

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Lagoa à beira da Aldeia Kamayurá Após falar dos assédios que sofri nos tempos de repórter, agora é a vez de lembrar a experiência que me deixou profundas  marcas : os oito dias que passei na aldeia dos índios Kamayurá, no Xingu. Escreveria  sobre a festa Yamarikumã, em que as índias praticam os rituais masculinos,  para a Revista de Domingo do Jornal do Brasil.  Foi a primeira e única vez em que fui a Brasília. Combinei esperar o antropólogo às 7h no hotel, próximo à Praça dos Três Poderes. Duas horas depois, soube que o avião bimotor que nos transportaria passava por reparos e o voo só sairia no dia seguinte. Já no aeroporto, acompanhei o voo experimental do avião, com a equipe da Escola Nacional de Saúde que iria vacinar os índios. Decolamos e sobrevoamos uma densa mata até pousar em São Felix do Araguaia, para reabastecer. Lá, descobrimos que o óleo tinha vazado e precisaríamos dormir na cidade, até o conserto do avião. Passamos uma agradável tarde regada à cerveja no genero

De volta à meditação

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Reserva ambiental no Mosteiro Morro da Vargem Era o ano de 2002, quando um querido fotógrafo que trabalhava comigo na IstoÉ me falou de um mosteiro budista em Ouro Preto. Até então, minha experiência com o budismo se limitava ao Kum Nye, técnica desenvolvida pelo Lama tibetano Tartang Tulku, com  interessantes  ensinamentos, porém, pelo que eu conhecera , sem muita prática de meditação. Resolvi tentar um sechin – retiro de 3 dias em Ouro Preto. Cheguei ao Mosteiro Pico de Raios após cansativa viagem de ônibus e fui conduzida por um táxi até o alto do morro onde o mosteiro era instalado, vista de 360º para Ouro Preto. Fui recebida pela monja Mariângela. “Bom dia, sou a Celina, do Rio.”, disse. “Eu sei, você estava sendo aguardada”, respondeu ela, friamente.  O local era da mais absoluta simplicidade. Mariângela me introduziu às normas da casa, trabalho de limpeza, despertar às 4h30,   primeira oração seguida de zazen, kihin zazen, e esclareceu como era o zazen: 40 minutos de m

Adeus à decadência

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Quando me mudei para Laranjeiras, em 1980,   o Largo do Machado era um antro, por onde poucos se arriscavam a passar. Não tenho o registro preciso de quando isso aconteceu: a mudança começou pela ocupação do espaço pelos quiosques de flores e presença policial. Mudou para melhor. O largo foi assim chamado por conta de André Nogueira Machado, proprietário de terras na região, batismo reforçado pelo açougueiro de sobrenome Machado, que ornou a fachada de seu estabelecimento com um potente machado. Hoje não seria exagero compará-lo a Montparnasse (só faltam Sartre e Simone de Beuvoir...), sobretudo depois da chegada da nova filial da padaria-bistrô de nome francês, que ocupou o local antes de um restaurante decadente. As fachadas originais de estilo eclético foram restauradas e logo chegou a vizinhança de um hortifruti e outros charmosos bares, que mais uma vez confirmam a máxima: ocupar para revitalizar. Especialmente agora, sob o perfume da floração dos abricó de macaco ( Cou

Barrada no baile

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Antes de chegar ao portão fechado, peguei o sol na corcova do cartão postal Há dois anos, pleno verão, encontrei a Pista Cláudio Coutinho fechada. Ainda não eram 6h, horário da abertura, e me lembrei do comentário de uma amiga jornalista: “É a única pessoa que conheço que acontece uma coisa dessas”, brincou, referindo-se aos meus hábitos de madrugar. Jurei que isso nunca mais ia acontecer. Pois hoje aconteceu. Passavam cinco minutos das 6h – programei bem minha chegada, semana passada medi o tempo que gasto da Praia de Botafogo até ali, para evitar esse entrevero. Um senhor muito gordo e suado comentou com o pequeno grupo que já começava a se formar que tinha pedido a chave para o soldado abrir. Logo em seguida o milico apareceu com a dita cuja e consegui entrar no paraíso. Entrei com a gloriosa sensação de que encontraria a pista sem ninguém. Não foi o que aconteceu. Logo após a primeira subida de acesso, já no plano, vi dois senhores caminhando logo adiante. Não daria

Festa da endorfina

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Ontem falei do meu percurso predileto: da Praia de Botafogo à Pista Cláudio Coutinho. Porém, além de acreditar que variar realça a opção, a canetada que acabou com o horário de verão esse ano me trouxe problemas. Para começar, antecipou meu despertador biológico para em torno de 4h30. É algo muito louco, espécie de ‘defesa inconsciente’ para não encarar o sol na moleira durante a corrida, pior castigo. E como o portão da Cláudio Coutinho só abre às 6h, correr o risco de chegar lá antes disso corta o barato. Ninguém merece interromper a corrida. Fiz todo esse nariz de cera – no jargão jornalístico – para explicar que também inventei um percurso de 8 km no Aterro. Pode ser, ou não, tão belo quanto. Desço minha ladeira e deixo o carro no Parque Guinle – nessa madruga sempre tem uma vaguinha. Começo a correr na Gago Coutinho, passo pelo Largo do Machado – algum estresse na travessia de sinais – e sigo pela Dois de Dezembro até o Aterro do Flamengo, obra-prima de Burle Marx e Lota de