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Mostrando postagens de novembro, 2021

Tiro pode sair pela culatra

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  Se você é daqueles que tenta combater disseminadores de fake news com a verdade, saiba que pode estimular ainda mais esses fanáticos. A tese foi levantada pelo blogueiro Davi de Carvalho, da Unicamp, e tem nome: efeito backfire . O ‘tiro pela culatra’, em tradução livre, resulta dessas novas formas de exercer a política via redes sociais, mais amplamente dominadas pela direita e pela extrema-direita. Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, não tem nada a ver com burrice ou ignorância, e sim com raciocínio motivado, outra peça que surge nesses novos tabuleiros. Corresponde a uma forma de pensar integrada por elementos que nos agradam, o que nos leva a chegar às mesmas conclusões a que já havíamos chegado antes. Um exemplo do efeito backfire na politização que envolveu a pandemia está em minimizar a crise sanitária e compará-la a uma ‘gripezinha’, como fizeram os presidentes dos EUA, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro. Seguidores dos presidentes passaram

Justiça seletiva

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  Amanhã, a segunda turma do STF julga se o caso das rachadinhas que envolveu o então deputado Flávio Bolsonaro aconteceram de fato ou se não passaram de mera ficção, digna do esquecimento. O julgamento atende ao pedido da defesa do 01, ou seja, no que depender da habilidade dos advogados, tudo não passou de intriga da oposição. E ainda dizem que a Justiça é cega... Não, Flávio não usufruiu do esquema armado por Fabrício de Queiroz, que recolhia a maior parte dos salários dos assessores do então deputado na Alerj e a devolvia ao primogênito de Bolsonaro, em depósitos ou em dinheiro vivo, conforme demonstraram as operações flagradas pelo Coaf. E foram testemunhadas por ex-assessores do deputado, como Luiza Souza Paz, que entregou todo o esquema, pelo qual ficou apenas com R$ 800 dos R$ 4 mil que recebeu. Sem falar nos famosos R$ 89 mil depositados por Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.   Alto lá, o Coaf ultrapassou fronteiras proibidas ao exibir, com números

Heróis & vilões

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  O gelo de Bolsonaro em Olaf Scholz no encontro do G20 (provavelmente por não ter ideia de quem ele era), o desmatamento cada dia maior, apesar das promessas em contrário, ampliam a imagem de párias diante de nosso maior parceiro comercial na União Europeia. Por incrível que pareça, porém, apesar de todos os esforços contrários do presidente, conseguimos trocar de papeis com a Alemanha em relação à pandemia da Covid. Enquanto eles enfrentam uma quarta onda, com mil mortes diárias, estamos conseguindo controlar nossa crise sanitária. Segundo o colunista Lauro Jardim, esse foi o destaque da última edição da Der Spiegel , uma das mais importantes publicações europeias. O texto compara os avanços do país, que já foi o epicentro da pandemia, com o atual caos alemão.   A publicação revela o comportamento de Bolsonaro de minimizar a pandemia, atrasar a compra de vacinas e citou até  que os imunizados poderiam virar jacarés, conforme o presidente chegou a ironizar. Absurdo suficient

Polarização a três

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  A provável vitória de Lula em 2022, sem favas contadas, e a ascensão de Sérgio Moro é consenso entre o cientista político Christian Lynch e Ricardo Rangel, da Veja, no Canal Meio. Os afagos de Lula às ditaduras de esquerda são atribuídas por Lynch às “migalhas que ele joga aos radicais”, enquanto Rangel vê uma estratégia de crescimento nas redes, à la Bolsonaro, do tipo falem mal mas falem de mim. Só que a postura do petista em relação aos aliados, para Lynch, é diferente da do mandatário. “Ele enrola esse pessoal, enquanto o presidente governa com eles”, compara.     Enquanto Rangel acha essencial a aproximação de Lula do Centro, Lynch acha que ainda não é hora. “Se fizer isso agora se fragiliza”, avalia. Para ele, o ex-presidente faz um “ recall ” que compare seu governo ao atual, como foi a viagem à Europa. “Tudo é calculado, está só lustrando a memória do eleitor”, diz. O cientista estranha o sossego de Bolsonaro. E atribui o comportamento ao arranjo com o Centrão e Art

Bolsonaro na Corte de Haia

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No dia 24 de janeiro os senadores da CPI da Covid têm encontro marcado na Corte de Haia, para pedir investigação de Bolsonaro por Crime contra a Humanidade por sua condução da pandemia. A acusação aponta as atitudes negacionistas do presidente, como sua definição da doença mortal como “gripezinha”, por criticar o uso de máscaras, fazer propaganda de remédios sem eficácia e atrasar a compra das vacinas. A notícia foi antecipada pela jornalista Monica Bergamo, que admite que a iniciativa pode não dar em nada, como a maioria dos cerca de 900 processos que chegam por ano à corte.  “Só que é um documento levado por representantes do estado brasileiro, não é qualquer um”, pondera. E só o fato da Corte aceitar recebê-lo já pode ser considerado um primeiro passo, embora a denúncia, se aceita, seja capaz de se arrastar por muitos anos. De qualquer forma, a entrega do processo aos juízes internacionais terá grande impacto, tanto dentro quanto fora do Brasil. “O risco existe e o governo sem

Mais togas para Bolsonaro

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  Apesar de aprovar no CCJ da Câmara seu projeto para revogar a PEC da Bengala – que passa de 70 para 75 anos o limite à aposentadoria dos ministros das cortes supremas – a deputada Bia Kicis levou uma rasteira de Arthur Lira.   Conforme Andrea Sadi, o presidente da Câmara não pretende levar a proposta ao plenário. E sim, outra PEC, que amplia de 65 para 70 anos a idade máxima de indicados para os tribunais. Igualmente interessante ao Executivo e ao Centrão. Na prática, o projeto da bolsonarista de carteirinha tinha um objetivo. A mudança obrigaria os ministros Rosa Weber e de Ricardo Lewandowski a se aposentarem em 2022.   O que representaria a abertura de mais duas vagas a serem preenchidas por indicados de Bolsonaro. Ou seja, a sonhada extensão dos tentáculos do presidente ao único órgão de Estado que ainda funciona como barreira às suas sandices.   E, em eventual reeleição, o presidente ainda poderia escolher os substitutos de Gilmar Mendes (65) e Luiz Fux (68).  Já pensou que trag

Democracia em declínio

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  Se você ainda tem alguma dúvida sobre o processo de destruição de nossa democracia instaurado por Bolsonaro, o estudo do Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (Idea), sediado na Suécia, tem certeza. O Brasil já pertencia a esta categoria desde 2016, porém, no recém-lançado “Estado global da democracia”, o país é citado como o que registrou “o maior declínio democrático” entre as outras 150 nações avaliadas. Conforme reproduziu o Globo, “a gestão da pandemia foi tomada por escândalos de corrupção e protestos, enquanto o presidente desprezava a crise sanitária”. Bolsonaro colocou em cheque as instituições democráticas, ao acusar magistrados do Supremo Tribunal Eleitoral de armar fraudes para as eleições de 2022, assim como declarou que não obedeceria ordens do STF, que o investiga por fake news . E, pela primeira vez, os EUA de Trump também entraram na lista, ao lado da Índia, Filipinas, Polônia, Hungria e Eslovênia. Aparelhamentos, como o do TCU,

Uma embaixada ao aliado

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  Sabe aquela história da raposa cuidando do galinheiro, tão recorrente no governo Bolsonaro? Pois é, volta a acontecer.   O ministro do TCU, Raimundo Carreiro, o mesmo que julga os excessos do cartão corporativo da presidência, vai ser nomeado embaixador do Brasil em Portugal. Independente dos méritos de Carreiro, cuja indicação já tem a concordância do governo português, alguém acredita que ele vai criar algum caso com a gastança do clã? Elias Vaz (PSB-GO), da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, acaba de entrar com um pedido de suspeição contra Carreiro. Motivos não faltam. Segundo o Globo, o custo médio por mês da família presidencial é de R$ 1,5 milhão. Haja leite condensado! Até outubro, os gastos acumulados chegavam a R$ 14,4 milhões. “A transparência é regra, o sigilo é a exceção”, defende Vaz, para quem a segurança seria a única justificativa para a manutenção de sigilo do cartão. No último dia 4, Bolsonaro derramou-se em elogios a seu mais

Triunfo do projeto ecocida

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  A quem eles pensam que enganam? Como bem disse Mirian Leitão, o  governo brasileiro fez papel de delinquente na Cop26, ao esconder os números do sistema PRODES sobre o brutal aumento do desmatamento na Amazônia. As informações sobre a destruição de 13.235 km²   - crescimento de 22% em relação a 2020, ou nove vezes a cidade de São Paulo - chegaram do Inpe em 27 de outubro, antes, portanto, do início da Conferência de Glasgow. Nesse momento em que as mudanças climáticas e emissões de C02 são prioritárias no planeta, o Brasil tem o maior desmatamento desde 2006, de 14.286 km² naquele ano. Como se sabe, quanto mais são eliminadas as árvores (foram 745 milhões em um ano), mais a floresta perde sua biodiversidade, a capacidade de refrescar o planeta e reduzir o aquecimento global. Só que o governo Bolsonaro passou a boiada, com a redução de multas e de fiscalização. Junto ao empurrãozinho da bancada ruralista, que ainda não chegou ao século 21 e desconhece o quanto a preservação am

Prova do Bolsalão

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  Se você acha que o mensalão foi um escândalo de corrupção, espere para conhecer as denúncias do delegado Waldir (PSL, foto) ao Intercept sobre o orçamento secreto. Estarrecedoras. Arthur Lira, peça fundamental no governo Bolsonaro, foi eleito presidente da Câmara através do pagamento de R$ 10 milhões a cada deputado que votou a seu favor. O chamado Bolsolão é a compra de votos em vigor pelo orçamento secreto. Só que o dinheiro não cai direto no bolso dos parlamentares. Ele chega aos municípios direto dos cofres da União, após a destinação feita pela Casa Civil. E significa reeleição. Lira foi eleito em primeiro turno com 302 dos 513 votos da Casa. Cargo que representou o presidente não ser impichado e conquistar consecutivas vitórias na Câmara, como a aprovação da PEC dos Precatórios, ou, do Calote. E Waldir não expôs a tramoia por ser ilibado. Pelo contrário. Ele resolveu botar a boca no trombone por não ter recebido a sua parte, R$ 40 milhões, o dobro de seus pares, por q

Símbolo do aparelhamento

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  O episódio Allan dos Santos é um retrato do Brasil de Bolsonaro. Em sua fuga aos EUA, em agosto de 2020, onde entrou com visto de turista vencido, ele escapava das operações do STF no inquérito das fake news . A evasão do blogueiro teria sido facilitada por Eduardo, o 03, que alugaria o bunker onde Santos trabalhava, em Brasília. Como se sabe, a delegada da PF Silvia Amélia da Fonseca, responsável pelo setor de envio de documentos do Ministério da Justiça, foi demitida. Excesso de competência? Não. Ameaça aos interesses da famiglia , com a devida adesão do ministro da Justiça, Anderson Torres, capacho do clã. Agora, conforme o colunista Igor Gadelha, o mesmo ministério prepara parecer sobre a posição oficial do governo brasileiro contra a extradição do blogueiro, determinada em 21 de outubro pelo ministro Alexandre de Moraes. Extradição, por quê? Ele é tão bonzinho, trabalha com tanto afinco para espalhar as fake news que ajudam a alimentar a permanência dos Bolsonaro no

Clube do Bolinha do poder

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  Era o mês de maio, quando o Estadão denunciou o esquema de favorecimento dos aliados do governo pelo orçamento secreto. Só seis meses depois, a liminar da ministra Rosa Weber suspendeu a estratégia de compra de votos. Só que o presidente da Câmara, Arthur Lira, continua a resistir para tentar manter sua galinha dos ovos de ouro, em troca de transparência das emendas secretas. Até o governo passou a apoiar o Senado, que se articula para dar suporte ao fim do esquema. Governistas querem retomar o comando da articulação política das mãos de Lira.  O fato é que, para escapar do impeachment, Bolsonaro se entregou ao Centrão, após terceirizar seu governo aos olavistas e aos militares. Até o ex-presidente Michel Temer – outro contra as emendas secretas, assim como o vice Mourão – foi acionado para salvar o presidente da crise criada por ele no 7 de setembro.     Ainda em fevereiro de 2020, porém, o quadro era bem diferente da atual hegemonia do Centrão. Um irritado general Heleno, hoje con

O que será o amanhã?

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  Meu candidato à sucessão em 2022 será aquele capaz de vencer Bolsonaro. Até lá, ou pelo menos até o segundo semestre do ano que vem, pretendo me limitar a informar por que caminhos andam os demais concorrentes. Só que agora é irresistível falar do contraste entre as viagens internacionais do presidente, pelo Oriente Médio, e de Lula, pela Europa. Mesmo dando o desconto de que a plateia que o aplaudiu de pé, no Parlamento Europeu, era de esquerda. O mesmo Olaf Scholtz, ignorado por Bolsonaro em reunião do G20, foi o primeiro encontro agendado por Lula. Afinal, será o sucessor de Angela Merkel na Alemanha, nosso principal parceiro econômico no velho continente. Igual com Macron, o presidente francês bombardeado pelo capitão, que falou mal até de sua mulher. Para quem só encontrou interlocutores entre os garçons, imagine o que Bolsonaro diria aos dois líderes europeus? Defenderia a cloroquina? Afirmaria que as vacinas podem provocar Aids? Mentiria que a Floresta Amazônia não q

Messias do mal

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Quiçá movidos pela insegurança em relação a seu próprio candidato, páginas bolsonaristas já alimentavam a desconfiança às urnas eletrônicas desde o pleito de 2018. A constatação é do estudo do Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Tecnologias Digitais da Universidade Positivo, no Paraná, com o Facebook , revelado pela Carta Capital. Como se sabe, as  fake news  sobre as urnas eletrônicas foram um dos motores dos atos antidemocráticos do 7 de setembro, junto aos ataques ao STF pelo presidente e seus apoiadores.   A mentirada, que pode ter sido criada em conjunto, com coordenação centralizada, foi amplamente divulgada pelas páginas A Terra é Plana; Bernardo Kuster; Conservador e Patriota; Desperte; Thiago Lima; Diego Rox; Dr. Rey; Gospel Prime; Naturalmente Saudável; O Jacaré de Tanga; e Terça Livre TV, de Allan dos Santos.  “É criado um grande descrédito dos elementos que compõem o cenário eleitoral brasileiro”, descreve Olívia Pessoa, pesquisadora do grupo, referindo-se ao estud

Racha no bolsonarismo

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  Apesar de todos os enroscos de Bolsonaro com milicianos, como Fabrício Queiroz e Adriano Nóbrega, o aparelhamento de Estado ainda não permitiu que a verdade viesse à tona. Sabe-se, contudo, que a grande maioria das PMs do país obedecem ao presidente, e não aos governadores. Quando se comenta à boca pequena que quem manda na PM do estado do Rio é Flávio Bolsonaro e que o governador Claudio Castro não passa de um fantoche, eis que começa a brotar um racha. Assim como as forças contrárias a Bolsonaro também racham. Após o presidente sancionar a lei que cancela o reboque imediato de motos e veículos sem placa – típica medida do crime para apagar rastros -, eis que deputados bolsonaristas começam a ameaçar as PMs que mantêm a prática. O presidente, por sinal, chegou a participar de uma motociata em São Paulo, em junho, com uma moto com placa coberta por fita crepe. O olha que nem falo de rachadinhas... O deputado e subtenente Bernardo, do PTB, foi um que postou nas redes ameaç

Efeitos imediatos do aparelhamento

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  Se você é daqueles que não entende o alcance do aparelhamento de órgãos do Estado, seguem aqui alguns exemplos que ilustram os benefícios que podem ser conquistados por quem usufrui dele. No caso, Bolsonaro. Quando postei aqui os absurdos episódios que envolvem Flávio, o 01, faltou acrescentar que a apuração do Caso Queiroz, que envolveu o então deputado, ajudou a derrubar o superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi. Outro filho, Jair Renan, o 04, também provocou turbulências na PF. O diretor geral da PF, Paulo Maiurino, exonerou o delegado Hugo de Barros Correia, após seis meses no comando da Superintendência da PF no Distrito Federal . Conforme seus colegas, a justificativa seria ele não ter avisado aos superiores sobre a operação que envolveu Tatiana Garcia Bressan, suspeita de ser informante de Allan dos Santos, aliado  do clã na divulgação de notícias falsas . Na prática, porém, as principais causas seriam as investigações tocadas por ele sobre Jair Renan e as fake new

Judiciário, a bola da vez

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  Enquanto André Mendonça, futuro ministro 'terrivelmente evangélico' aguarda a geladeira do Senado para a vaga no STF, Bolsonaro dá continuidade a seu projeto de aparelhar – também – o Judiciário. Como se sabe, seus critérios são atender seus redutos eleitorais - o agronegócio já tem duas vagas prometidas - e proteger sua família da lei. Saber jurídico? Para quê?  Conforme a Folha, ele prepara a maior canetada já desferida na história recente do terceiro poder com a nomeação, em 2022, de 75 desembargadores para os seis tribunais regionais federais do Brasil. Quando o próprio presidente admitiu que já tem 10% do STF – devidamente correspondido por seu nomeado, Nunes Marques, que votou contra a liminar de Rosa Weber pela extinção do orçamento secreto -, a iniciativa evidenciará os prováveis resultados do ato presidencial. O tsunami bolsonarista será viabilizado pelo aumento de cerca de 50% das vagas, que abrem 57 novos cargos em cinco tribunais, aprovado pela Câmara no iní