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Mostrando postagens de janeiro, 2022

Terra sem lei

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  Viramos uma nação anestesiada. Ainda em meio aos dramáticos efeitos da pandemia, ainda sem dar trégua, convivemos com crimes diários. Como se eles simplesmente não existissem.  O mais recente foi duplo: a PF acusou Bolsonaro de vazar um inquérito sigiloso. Este, por sua vez, se recusou a prestar  depoimento – em seu prazo final – solicitado pelo ministro Alexandre de Moraes. Desobediência civil. Imagino o desânimo do magistrado, diante da arrogância do mandatário, do desdém do Congresso sob o domínio do Centrão e da apatia do PGR Augusto Aras. Bolsonaro se dá ao luxo de fazer o que bem entende, por saber que nada acontecerá contra ele. E, após meses de atuação da CPI da Covid, que escancarou os mal feitos do mandatário, como embarreirar as vacinas, estimular o uso de remédios ineficazes e aglomerações e condenar o uso de máscaras, ele continua a fazer tudo igual. Nega-se a se vacinar e inclui a filha na transgressão, atrapalha a vacinação infantil e endossa o tratamento pre

A dança dos vices

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  Bolsonaro disse que já escolheu seu (a) vice, cujo nome só será divulgado em momento oportuno. Após a facada pelas costas de Michel Temer em Dilma Roussef, e tantos outros episódios de traição em nossa história, salta aos olhos a importância dessa escolha. No caso do presidente, sabe-se o quanto o atual titular, o general Hamilton Mourão, funcionou como uma contenção ao impeachment . Não por representar as Forças Armadas, e sim porque ninguém sabe o que se passa de fato em sua cabeça. Poderia ser uma troca de seis por meia dúzia. Dilma já alertou Lula sobre o fato de que Alkmin possa ser seu Temer. O ex-presidente, porém, voltou a sustentar que esse é seu desejo, seja para conter um possível afastamento ou apenas para aproximá-lo do Centro. Enquanto a escolha já chegou até a valorizar nosso combalido Real, com os afagos de Lula a FHC - que já fincou pé em apoiar Dória -, volta a se falar em outra alternativa: Josué Gomes, filho de José de Alencar (último vice do ex-president

Beco sem saída

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  Após 21 anos de ditadura militar, quando o progressista Ulisses Guimarães (MDB) comandava a Assembleia Constituinte, uma ala de seu partido, alinhada a José Sarney, reagia às ações do chamado Centro Democrático. Nasceu aí a formação do bloco que congrega vários partidos de centro-direita conservadora, integrado também por filiados à Arena, hoje majoritariamente formado pelo PP, o PL de Bolsonaro e o Republicanos. Desde então, tornou-se peça chave para a governabilidade. Nunca, porém, nenhum presidente entregou-se a tal ponto a eles quanto o capitão para fugir do impeachment . Ontem Bolsonaro até se deu ao luxo de faltar ao depoimento marcado ontem à PF pelo ministro Alexandre de Moraes. Sabe que Arthur Lira não fará nada contra ele. Para entender melhor basta pensar numa balança. Se o lado do poder executivo está esvaziado, seja lá porque razão for, o equilíbrio se dá pela presença do grupo capaz de deter esse poder. Alguma dúvida de que é o Centrão quem manda? A tal ponto qu

Quem acerta, erra

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  Não sei o que é pior. Ser governado por Bolsonaro ou integrar sua equipe e não estar entre os bovinos. No que depender do ministro Marcelo Queiroga a resposta deve ser óbvia. Primeiro, ele foi crucificado pelas associações médicas e pela população ao retardar a vacinação infantil. Tudo para agradar ao chefe. Bastou, porém, declarar que a cloroquina não é eficaz contra a Covid-19 para cair em desgraça com o presidente. E, depois de remover do site do ministério da Saúde (MS) a portaria do olavista Hélio Angotti Neto – sim, eles ainda nos assombram com seu sinistro negacioismo -, parece ter sido demais para Bolsonaro. Angotti Neto defende o tratamento precoce e desqualifica as vacinas. Bastou para Bolsonaro cogitar transferi-lo da secretaria de Ciência e Tecnologia do MS para a Anvisa. Já que não pode remover o contra-almirante Antonio Barra Torres da presidência da Anvisa, poderia infiltrar a agência com um representante da sua facção terraplanista. Para ele, constatar que Q

Orçamento para o Centrão

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O que é mais importante, as necessidades do país   ou a disputa eleitoral? Por quê Bolsonaro manteve R$ 4,9 bilhões do Fundo Eleitoral e retirou R$ 739,9 milhões da nossa combalida Educação? Alguma dúvida de que o orçamento sancionado pelo presidente busca unicamente a sua reeleição? Haja dinheiro, haja agrados ao Centrão para compensar o derretimento da popularidade a cada pesquisa de opinião. Mesmo com as despesas obrigatórias, como previdência social e pagamentos de servidores, a mágica com o teto de gastos proporcionou uma festança de emendas secretas, com seus R$ 16,48 bilhões assegurados, além de investimentos diretamente ligados ao bem estar dos aliados. A credibilidade das contas públicas é problema menor. Nesse momento, Bolsonaro e seus aliados sabem que é ou vai ou racha. O país que se dane. Até mesmo a Defesa do possível vice Braga Netto – a essas alturas parece que ele vai mesmo perder para o nome indicado pelo Centrão – sofreu um corte de R$ 8,8 bilhões. Não por

Já vai tarde...

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Perdemos Paulo Gustavo para a Covid-19. Perdemos Aldir Blanc, Nelson Sargento, Tarcísio Meira, Nicette Bruno e tantos outros, em luto que parecia não ter fim. Tanta gente boa que era recorrente a reflexão: por que não se vão os maus? Até que aconteceu. Segunda-feira foi a vez de Olavo de Carvalho, guru e protagonista de alguns dos piores momentos desse nefasto governo. Embora de início a família não anunciasse a causa- mortis , a filha Heloisa de Carvalho – rompida com o pai e provável candidata a deputada estadual pelo PT em Atibaia -, revelou em seu Twitter que a causa foram complicações da Covid-19. Ela mesma rogou: "Deus o perdoe de todas as maldades." O detalhe é que o astrólogo, autointitulado filósofo, costumava repetir que o coronavírus não existia e não matava. Ironia do destino. Negacionista, morreu de complicações do vírus e não se vacinou. Até agora Bolsonaro teve mais sorte... Como se sabe, Carvalho era um dos gatos pingados que sustentava o governo no i

Desastre ambiental em curso

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  Quem achou que alguma coisa mudaria com o afastamento de Ricardo Salles do ministério do Meio Ambiente, se enganou. Como se sabe, o advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, terminou de fazer o serviço sujo que Salles deixou pela metade. Ele conseguiu liberar os 131mil m³ da madeira suspeita de ser ilegalmente removida de florestas públicas da Amazônia, em benefício da MDP Transportes. Quem assinou a decisão foi o juiz Ney Bello, cotado para uma vaga ao STF por indicação de Bolsonaro. Mais um Augusto Aras da vida...Em outubro, Bello já havia determinado a devolução da carga apreendida para outras seis empresas. A madeira foi detida na divisa entre o Pará e o Amazonas pela Operação Handroanthus, em dezembro de 2020. Segundo a Folha, equivaleria a 6.243 caminhões lotados de carga. Já o “ambientalismo de resultados” do sucessor Joaquim Leite deixou como rastro um novo recorde em 2021: os bilionários fundos de proteção ambiental Amazônia e do Clima continuam bloqueados pelo atual mi

Como poderia ter sido...

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  Uma das mais fortes acusações contra Leonel Brizola (1922-2004) foi a de ele ter estimulado o tráfico de drogas, ao proibir a polícia fluminense de subir o morro. Nessa época eu fazia a cobertura para o Jornal do Brasil do emocionante primeiro mandato de Brizola como governador do estado do Rio, a partir de 1982. Emocionante porque inaugurava-se ali uma sequência de manifestações de rua na sede do governo, em Laranjeiras, após os 21 anos de repressão da ditadura militar. Foi unânime o aplauso dos jornalistas à decisão, que na realidade não proibia a polícia de entrar nas favelas. E sim exigia mandato judicial para a polícia entrar nos barracos, como me explicou o então secretário de Justiça, Nilo Batista. Brizola, eu, Roberto Ferreira,Tarso de Castro e Ulisses Guimarães A direita, porém, acostumada ao comportamento truculento das forças policiais nas comunidades mais pobres, logo tratou de distorcer a justa decisão. Foi a fake news da época e, para muitos, entrou para a histór

Morte infantil como troféu

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  Você viu alguma mobilização de ministros em torno das mortes por Covid? Eu também não. Até a semana passada, quando Damares Alves e Queiroga correram a Botucatu  (foto) atrás de um troféu: a parada cardíaca da menina de 10 anos, após tomar a primeira dose da vacina contra a Covid.  O médico que trocou o jaleco pela política bolsonarista já havia anunciado um elevado risco de miocardite e problemas cardíacos em crianças vacinadas. Quando se sabe que, além de raros, os casos evoluíram sem sequelas. O mesmo que inventou a consulta pública e a exigência de receita para imunizar a faixa de 5 a 11 anos, meros pretextos para adiar o início da imunização, para agradar ao chefe. Em São Paulo, enquanto Queiroga dava com os burros n'água em suas piores intenções, Damares comandava a torcida pela morte da menina. Tudo pelo bem de Bolsonaro, para fazer críveis suas teses estapafúrdias.  Os esforços da ministra envolveram recursos públicos, como o avião da FAB que a levou de Brasília a

Azar do Brasil

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  Os que sonham com a derrocada de Bolsonaro em outubro não se enganem: muito do novo perfil adquirido por seu governo continuará a valer. Ganhe quem ganhar. Para começar, o mandato de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara vai até 2023. Pior: além de ter se tornado comandante supremo do orçamento da União, Ciro Nogueira trabalha para ampliar a presença do PP na Câmara. Como bem definiu o jornalista Thiago Bronzatto, no Globo, o objetivo de Nogueira é “manter em suas mãos a alma de qualquer governo”. Ou seja, assim como o Centrão já foi base de Lula, ele ganhou musculatura para se perpetuar no poder.      E, mesmo com os baixos índices de popularidade do chefe, os líderes do Centrão continuam a se desdobrar para manter as coisas do jeito que estão. Ainda ensaiam forjar algo muito fora da realidade com o lema “Nasce o novo Brasil”. O ministro da Casa Civil já mostrou como pretende manipular os fatos em seu recente e distorcido artigo sobre o filme “Não olhe para cima”, des

Barreira à terra de ninguém

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Ministros do TSE já começam a criar uma saída jurídica para suspender do país o aplicativo Telegram,   onde Bolsonaro tem um milhão de seguidores. Como se sabe, o app russo, criado pelos irmãos Pavel – conhecido como o Mark Zuckerberg local (foto) - e Nikolai Durov, não dispõe de escritório de representação no Brasil. Informalmente batizado de “terra de ninguém”, o Telegram é o paraíso da extrema-direita e congrega toda sorte de nazistas e fascistas. Não por acaso, transformou-se em temor do TSE sobre a disseminação de fake news em ano eleitoral. O ministro Luís Roberto Barroso convocou em dezembro uma reunião com Pavel Durov, para discutir formas de combater a desinformação. Foi, porém, solenemente ignorado pelo russo.   Embora os ministros entendam que a solução ideal deveria partir do Congresso, está na cara que os parlamentares não estão nem aí para isso. Sobretudo os bolsonaristas. A ideia seria interditar o app enquanto ele estiver irregular no país, de forma a envolver

Posso ser você amanhã

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  Nesses três anos, nos anestesiamos diante do comportamento desumano de Bolsonaro. Foi espantoso ele não ter interrompido seus passeios de jet ski para se solidarizar com os baianos. O mesmo voltou a ocorrer com Minas Gerais, quando nem de férias estava mais. Alguma surpresa? Não, para quem já se acostumou com sua indiferença diante do morticínio provocado pela pandemia do coronavírus. Além de tripudiar do sofrimento alheio - como na imitação de alguém com falta de ar -, não houve uma palavra de solidariedade, a ponto de desconsiderar a morte de mais de 300 crianças pela Covid-19.  O mesmo mandatário que vetou o fornecimento de absorventes para meninas pobres acaba de aprovar os voos de classe executiva para políticos e funcionários públicos em missão internacional. Em troca de quê, dá para imaginar? É espantosa a apatia dos brasileiros diante de absurdos que sempre terminam impunes, como o desmonte das políticas ambientais, da Educação, da Cultura e da Saúde que, não fosse pel

O coral das ratazanas

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  A baixaria eleitoral começou. Pelo ex-ministro, que relegou nossa Educação ao lixo, o olavista Abraham Weintraub. Ele resolveu denunciar o que sempre soube: que Bolsonaro tinha conhecimento da Operação Furna da Onça, um mês antes de ser noticiada pelo Estadão. Como se sabe, foi ali que a parceria de Flávio Bolsonaro e Fabrício de Queiroz nas rachadinhas veio a público. Embora hoje soterrada por hábeis camadas de aparelhamento. Na realidade, a real intenção de Weintraub é fazer barulho para dar a largada a sua autocandidatura ao governo de São Paulo. Algo diferente do que deseja o clã, cujo escolhido é Tarcísio Freitas, ministro da Infraestrutura. Em ano de eleição, é hora dos ratos botarem a cara de fora. O ex-aliado Paulo Marinho já havia feito exatamente a mesma denúncia, quando afirmou à Folha ter sido informado do vazamento pelo próprio primogênito. Weintraub conta que participava da mesma reunião com Gustavo Bebiano, outro ex que também ameaçou botar a boca no trombone –

De volta aos quartéis

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  Nos tempos de Michel Temer presidente, pesquisas apontavam para a alta confiabilidade das Forças Armadas, o que aproximou da política o então comandante do Exército, general Villas Bôas. Assim começaram reuniões dos candidatos com o comandante, quando cada um deles recebia as reivindicações do Exército ao novo governo. Nascia então o “grupo de Brasília”- integrado por generais como Augusto Heleno, Hamilton Mourão e Braga Netto -, engajado a Bolsonaro. No início achavam o capitão imprevisível e indisciplinado. Por falta de opção, ele acabou sendo o escolhido. “Passados três anos de atropelos, indecisões, tomadas de atitudes e falas contrárias aos discursos, a onda chegou à praia sem força e com ela os restos de dejetos atirados ao mar durante o período”, contabiliza ao Congresso em Foco um desses generais. A desastrosa passagem de Pazuello pelo ministério da Saúde, porém, foi decisiva para ‘sujar’ a imagem dos milicos. Foi o principal motivo para levar grande parte dos mil

O rei da cara de pau

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Quem assistiu ao excelente “Não olhe para cima”, tiro no negacionismo protagonizado por Merryl Streep como presidente dos EUA, sabe que as fontes de inspiração foram os mandatários Donald Trump e Jair Bolsonaro. Pois bem, o ministro Ciro Nogueira, que responde a cinco processos criminais, tentou virar as teses defendidas pelo filme do lado do avesso em artigo publicado no Globo. “O dia seguinte de um governo que continuará com a compreensão correta de que não podemos ter um estado inchado”, propõe, referindo-se à suposta vitória do capitão. Ele esqueceu de citar o aumento prometido por Bolsonaro aos policiais federais – única categoria de servidores federais que em 10 anos teve ganhos salariais reais -, promovendo ondas de revolta em todo o setor que ameaça entrar em greve. Não seria inchaço, e sim incompetência ou oportunismo. “Um governo que diminuiu a taxa de juros e praticou a menor de todos os tempos da história recente do país?”. Mais uma vez, ele esqueceu de dizer que a