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Mostrando postagens de novembro, 2024

Golpe na tradição espanhola

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  Herdamos a tradição portuguesa de evitar o derramamento de sangue nos eventos extremos, como golpes de estado, por exemplo. O ditador Antonio Salazar (1889-1970) foi um que chegou ao poder através de um pacto sem sangue. O que não quer dizer que não sejamos violentos. A violência existiu - oculta - na colonização dos povos indígenas, nas senzalas dos escravos, nos porões das ditaduras militares. O marechal Deodoro da Fonseca – o primeiro presidente do país após o golpe que derrubou a monarquia - sequer teve coragem de dar pessoalmente a ordem de prisão ao primeiro ministro, Visconde de Ouro Preto, em 1889. Até no golpe militar de 1964 o aloprado general Olímpio Mourão Filho comandou os tanques de Minas Gerais ao Rio sem uma gota de sangue, enquanto João Goulart, o presidente deposto, escafedeu-se para Montevidéu (embora haja dúvidas se ele foi assassinado pela Operação Condor, que envolve nossos vizinhos de origem espanhola). Não houve bombardeio a palácios presidenciais ...

Kids pretos e Auschwitz

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  Quando a gente acha que não existe nada mais escabroso para ser revelado no inquérito da PF, eis que aparece o diálogo entre o ex-faz tudo, Mauro Cid, e seu grupo de kids pretos, falando sobre a criação de campos de concentração. É tão tenebroso que dá até para duvidar. Essa foi uma das discussões do grupo “Dosssss!!!”, criado por Cid e integrado por seus colegas de curso das Forças Especiais – os kid pretos, para os quais o Inelegível sequer conseguiu passar. Um major perguntou se alguém pretendia criar um “CPG sem aparelhos”, sigla para “Campo de prisioneiros de guerra”. Ao que o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, responde: “Auschwitz” (foto). No relatório, a PF esclarece que aquele foi o mais mortal dos campos de concentração nazista, criado no sul da Polônia de 1942 a 1944, onde foram assassinadas cerca de um milhão de pessoas. Na maioria judeus. E por que será que esses militares se interessavam por Auschwitz  – equipado com câmara de gás e crematório ...

CCJ quer retroceder 74 anos

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  Que tal retroceder 74 anos na história? Isso é o que propõem bolsonaristas da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, ao aprovar na quarta-feira a PEC de Eduardo Cunha - condenado por corrupção –, que não mais considera legais os abortos provocado por estupro, risco de vida e anencefalia. A interrupção da gravidez por estupro ou risco de vida foi legalizada em 1940, e por ausência de cérebro, o que já é uma condenação à morte, em 2012. O pior é que a votação da PEC nada a teve a ver com Deus – imaginem se Ele obrigaria uma menina de 10 a 12 anos a parir o filho de um estuprador? -, mas com a velha estratégia dos bolsonaristas de desviar a atenção sobre o inquérito da PF. Mais vil, impossível. Desde o início da votação mulheres protestavam aos gritos de “Criança não é mãe” e “Estuprador não é pai”. Em vão. Caroline de Toni, a bolsonarista totalmente desconectada dos anseios populares que preside a CCJ transferiu a sessão para outra sala e proibiu a entrada das manifest...

Esperando Gonet e sua turma

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  Já deu para perceber que a pressa não é uma característica do PGR Paulo Gonet. Tanto que, apesar da lei estabelecer um prazo de 15 dias para que ele se manifeste sobre o inquérito da PF sobre os atos golpistas, Gonet não deve levar menos de três meses para liquidar a questão. Pois foi seu antecessor, Augusto Aras, de triste memória, quem criou o Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos (GACC) que, desde o início, se debruça exclusivamente sobre o quebra-quebra do 8 de janeiro. E o que deve prorrogar o trabalho destes nove procuradores – coordenados por Joaquim Cabral da Costa Neto, da PRM de Garanhuns (PE) e por uma maioria feminina, entre elas, Adriana Scordamaglia Fernandes, da 3ª Região – é a conjugação do inquérito aos das vacinas e joias. Até dezembro de 2023 a equipe foi coordenada pelo subprocurador-geral Carlos Frederico Santos, responsável por boa parte das denúncias contra os vândalos do 8 de Janeiro. Na época, Santos chegou a chamar de narrativ...

A hora e a vez do mimimi do Inelegível

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  Lembra quando o Inelegível referia-se ao sofrimento das vítimas da Covid 19 como mimimi? Pois é, chegou a vez dele fazer seu mimimi. Ontem, ao chegar no Aeroporto de Brasília ele assumiu seu desespero e comentou:   "Eu posso ser preso agora, ao sair daqui (do aeroporto)”. Ok, a ficha caiu que ele pode de fato ser preso. Só que o ex-presidente sabe muito bem que não será nada imediato. Ontem o ministro Alexandre de Moraes encaminhou o inquérito da PF sobre os atos golpistas à PGR e muita água ainda vai rolar até que seja de fato decretada sua prisão. E ele sabe disso (a não ser que planeje algo para provocar uma prisão preventiva). Só que no mesmo dia em que Moraes retirou o sigilo do inquérito golpista – e a m...se espalhou feito tsunami -, o capitão aproveitou para fazer seu showzinho de vítima. De eterno perseguido. Como se nada tivesse feito para tanto. “Ninguém vai dar golpe com general da reserva e mais meia dúzia de oficiais. Da minha parte, nunca houve discussão...

Retrocesso pode ter salvo a democracia

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  Na semana passada, me encontrei com   um tio idoso que desdenhou dos planos de assassinar Lula, seu vice e o ministro Alexandre de Moraes. “Assassinato? Você acredita nisso?”, como de fosse um absurdo desprovido de provas. É como  também  deve pensar o gado bolsonarista... Mais de 50 gravações de troca de mensagens em aplicativos, contudo, detalham a tal operação Punhal Verde e Amarelo , para assassinar o trio e manter o Inelegível no poder. No melhor estilo Tabajara, que teve no general Mário Fernandes - ex-secretário executivo da Secretaria Geral da Presidência - (foto) um de seus principais artífices. “Qualquer solução, caveira, tu sabes que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais”, avisa Fernandes a um kid preto . “Tá na cara que houve fraude. Não dá mais para a gente aguardar essa p...”, prossegue o militar. “Talvez seja isso que o alto comando quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja para inflamar a massa. Para que ela s...

A dor no bolso pode ser um começo

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  Enquanto o Inelegível continua agindo como se não houvesse amanhã, seria para lá de saboroso imaginar sua reação à suspensão de seu salário de R$ 12,3 mil, recebido mensalmente por ser ex-presidente da República. Melhor ainda seria a reação de seus milicos de estimação a perderem seus suculentos proventos. O general Augusto Heleno, por exemplo, ganha R$ 36,5 mil mensais, enquanto Braga Netto leva da viúva R$ 35,2 mil e o ex-faz tudo, Mauro Cid, R$ 27 mil. Imaginem perder essa boquinha de repente, sem mais nem menos?   É o que propõe Lucas Furtado, subprocurador-geral do MP: a suspensão do pagamento dos salários dos 25 militares ativos e da reserva do Exército indiciados pela PF. Lucas Furtado lembra na representação, enviada ao TCU, que o custo dos salários dos militares é de R$ 8,8 milhões por ano. Seria uma mão na roda para quem busca corte de gastos. E vamos combinar que seria bastante justo, afinal, eles ganham para zelar pelo Estado, não para destruí-lo... ...

Quando o mal volta ao poder

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  O circo de horrores de Trump já teve sua primeira baixa: o topetudo Matt Gaetz (foto), candidato à vaga de procurador-geral/ministro da Justiça dos EUA. Gaetz desistiu do cargo porque sua barra está mais suja do que pau de galinheiro. Ele abriu mão da escolha do futuro presidente dos EUA por saber que não escaparia da sabatina do Senado, mesmo sob a atual maioria republicana. Entre as acusações de que é alvo no Comitê de Ética da Câmara está um campeonato de sexo entre legisladores. Ao vencedor, o maior número de relações com estagiárias, virgens e universitárias. Isso sem falar no uso de drogas e outros problemas sexuais. Pois agora veio à tona o arquivo de um hacker , que inclui o depoimento juramentado de uma mulher que disse ter feito sexo com Gaetz em 2017, quando ela tinha 17 anos. Outra mulher disse ter testemunhado o tal encontro. Nada é por acaso.  O principal motivo que seduziu o chefe à escolha da republicana Kristi Noem - há cinco anos governadora de...

Inquérito poderia acabar em pizza?

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  Me pergunto o que diria o general Hamilton Mourão sobre as revelações da PF. Além de grande defensor da anistia aos golpistas, o ex-vice presidente do Inelegível radicalizou ao comentar a operação Tempus Veritatis , do 8 de janeiro: "Não tenho dúvidas de que estamos caminhando para a implantação de um regime autoritário de fato no país. (...) O que se vislumbra nessa onda de prisões e apreensões deflagradas hoje é a intenção de caracterizar as manifestações da população como fruto de uma conspiração golpista". Pois bem, dessa vez, nem uma palavra sobre a prisão dos kids pretos ou sobre o inquérito da PF. Segundo o colunista Lauro Jardim, o general não retornou às suas ligações e seu único comentário nas redes se restringia ao Dia da Bandeira. "Hoje, no Brasil, devemos celebrar o símbolo maior da nossa pátria, a Bandeira Nacional! Homens e mulheres do Brasil devem rememorar a dedicação e a bravura dos que nos antecederam", pregou. Quem te viu quem te vê...n...

PF levanta a bola para PGR e STF cortarem

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  Após dois anos de diligências policiais, quebras de sigilo, colaborações premiadas e buscas e apreensões, entre outras medidas judicialmente autorizadas, a PF indiciou o Inelegível, os ministros Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e outros 33 (sendo 25 militares), entre eles, Alexandre Ramagem, Valdemar Costa Neto e Filipe Martins. Foi identificada uma "organização criminosa que atuou de forma coordenada, em 2022, na tentativa de manutenção do então presidente da República no poder”. Há provas do comando de tal grupo pelo ex-presidente. A bola foi levantada para a PGR e o STF cortarem. Ou não. Se ambos aceitarem a linha de investigação da PF, os 37 indiciados se tornarão réus. Daí começa a tramitar o processo no Judiciário, com direito a defesa e várias etapas até o julgamento final.   Ou seja,  ainda leva algum tempo para  os mais ansiosos pela punição dos prováveis culpados. As cartas, porém, foram colocadas na mesa. A PF contabiliza a atuaçã...

Bolsonaristas querem controlar a OAB

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  Não se pode acusar os bolsonaristas de desarticulados. Após a entrada no Conselho Federal de Medicina (CFM), em agosto, agora essa gente nefasta luta para influenciar a OAB que, até dia 30, elege suas novas seccionais nos 26 estados do país. O mantra é isolar candidatos “de esquerda”. O próprio Inelegível pediu a cada advogado em recente entrevista que “veja quem está ligado à esquerda e não vote nessa chapa”. Isso porque sua turma achou que a OAB não conseguiu garantir o devido processo legal aos investigados e réus golpistas no STF por ataques à democracia. (O que fica cada vez mais difícil com os avanços da PF). Quer dizer, não livrou a cara desses criminosos. Uma das chapas da seccional paulista é a de Caio Augusto Silva Santos, que tem como candidata a vice Ângela Gandra (foto), filha do jurista Ives Gandra Martins, aquele que considerou que o artigo 142 da Constituição dá aos militares o poder moderador, a última palavra em conflitos entre os Três Poderes. A tribuição...

PF identifica mandantes do golpe

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  Cronologia da tentativa de golpe após as eleições presidenciais, em fim de 2022 e início de 2023: 12/11: Reunião na casa do general Braga Netto entre o ex-presidente, o general Augusto Heleno e o kid preto e general da reserva Mário Fernando*, que imprimiu o plano traçado por eles no Planalto. No mesmo dia, o militar  envia áudio ao ex-faz tudo Mauro Cid, dizendo que o capitão aceitara o assessoramento dos militares para o golpe. 9/12 – O general Estevam Theophilo vai ao Palácio Alvorada dizer ao ex-presidente – recolhido por uma 'depressão pela derrota' - que topava o golpe, desde que este assinasse a minuta. Começa, sob a pressão do agro e de deputados, o planejamento para o assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e de Alexandre de Moraes. Por envenenamento. Multiplicam-se os acampamentos nos quartéis militares, sobretudo em Brasília. 15/12 – Data prevista para o início do golpe, batizado de  'Punhal Verde e Amarelo' . 16/12 – Data em que seria criado um Gabinete de C...

A relação bipolar Brasil-Argentina

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  Corre o risco do fio desencapado Javier Milei jogar por água abaixo o documento base previamente discutido pelos líderes do G20, agora reunidos no MAM-RJ. A delegação argentina aguarda uma posição do chefe sobre questões que ele discorda, como a taxação de grandes fortunas. Também contra a aliança global contra a fome, sobre a qual, ele já mudou de ideia, porém. E, c omo se vê na foto, o encontro Lula Milei no G20 foi frio e protocolar. O espalha brasas argentino, defensor do neoliberalismo, também não concorda com a inclusão no documento de temas ligados a gênero e à Agenda 2030, o plano de desenvolvimento sustentável da ONU. Se Milei discordar da íntegra documento, todo o trabalho desenvolvido até agora terá sido em vão, porque obrigará à Conferência a terminar o encontro sem um documento final. Nesse caso, qual seria seu objetivo? Transformar a iniciativa em fracasso diplomático para o Brasil e para Lula? Ou apenas marcar presença como voz dissonante, que sabe mais do ...

Ameaça aos direitos legais de abortar

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Talvez a PEC 164/2012 seja o mais forte exemplo do divórcio do Legislativo com os anseios populares. Protocolada pelo então deputado Eduardo Cunha, a tal emenda constitucional visa eliminar os direitos conquistados por lei ao aborto, em casos de risco à mãe, anancefalia (falta de cérebro) e estupro. Pode até ser admissível que a aberração seja de autoria de um homem – queria ver se a filha dele engravidasse de um estupro e ela não tivesse recursos para abortar. Pois quem incluiu a pauta na votação da Câmara da última semana foi a deputada bolsonarista Caroline de Toni (PL-SC). “Cada ser humano, desde o momento da concepção, tem o direito de viver, de ser protegido, de ser cuidado”, argumenta ela. A hipótese de uma filha da bolsonarista ou de Eduardo Cunha engravidarem de um estupro não serviria de exemplo, pois ambos têm recursos para abortar nas clínicas clandestinas frequentadas pelas mais ricas. É andar para trás. Agora, imagine uma menina de 12 anos, moradora da periferia, ca...

O que dizem os números

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Nesse momento em que Lula se dá conta de que ou corta gastos, ou seu governo explode – enquanto um terrorista aciona bombas na Praça dos Três Poderes –, circula nas redes um desabafo do presidente, cansado de sofrer pressões dos que estão por cima da carne seca. “A gente discutindo o corte de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões, e de repente você descobre que tem R$ 546 bilhões de benefícios fiscais para os ricos desse país. Como é possível?” A Confederação da Agricultura, por exemplo, tem uma isenção de quase 60 bilhões. O setor de combustíveis, de quase 32 bilhões, contabiliza.  “Você vai tentar jogar isso em cima de quem? Do aposentado, da dona de casa, da empregada doméstica?” Claro, porque sempre foi assim, em cima dos mais fracos... Lula menciona a desoneração a 17 setores da indústria que acaba de ser aprovada. “Qual é a estabilidade no emprego que eles garantem? Qual é o aumento de salário que eles garantem? Nenhuma. Apenas pegam a isenção fiscal, não têm nenhum compromisso com o ...

Discurso bipolar

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     “A defesa da democracia e da liberdade não será consequente enquanto não se restaurar no nosso país a possibilidade de diálogo entre todas as forças da nação.  E nisso as instituições têm papel fundamental . Por isso, apelo a todas as correntes políticas e aos líderes das instituições nacionais para que, neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional”. (No caso, sua própria anistia). “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou”(...) "Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança". (...) "Não é uma pessoa do TSE que vai nos dizer que o processo é seguro e confiável". (...)  Não podemos admitir um ministro do TSE também usando sua caneta para desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação". (...)  "Não vamos mais admitir pessoas como Alexandre de Moraes continue a açoitar a nossa democra...