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Mostrando postagens de setembro, 2020

Raposa que cuida do galinheiro

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  A Floresta Amazônica e o Pantanal queimados não têm volta. Só que foi cartão vermelho ao  cancelamento das normas protetoras dos manguezais e das restingas, vigentes desde 2002, a  mais nova barbaridade do ministro dos garimpeiros, dos fazendeiros do gado, e agora das indústrias do turismo e do concreto, Ricardo Salles. A histórica decisão, que  atendeu a uma ação popular e  fez história, foi da juíza federal Maria Amélia Almeida Senos de Carvalho, da 23ª Vara Federal Criminal.  A liminar, "por evidente risco de danos irrecuperáveis ao meio ambiente", contudo,  é provisória.   Toda essa confusão, porém, nasce de outra juíza, Rosa Weber (como ela consegue dormir à noite?), do STF. Em seu gabinete descansa, há mais de um ano, a ação  contra as mudanças no Conama. Como se sabe, o  Conama foi desidratado pela redução de 96 entidades da sociedade civil para apenas 23 membros no governo Bolsonaro.   Em três horas, a reunião do órgão decidiu não apenas dar cabo do mais extenso m

Quem se importa com a democracia?

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Comprar imóveis ou realizar grandes transações em dinheiro vivo não é crime. Porém, tem sido um dos mais eficientes termômetros para aferir sonegação e lavagem de dinheiro. Não preciso repetir aqui a frequência com que o clã Bolsonaro prioriza este tipo de operação. Será que eles curtem se deslocar com malas de dinheiro? Não se incomodam em contar   montanhas de dinheiro após as compras? O quê explica esse tipo de predileção? A prática vem de longa data. Em 1996, Rogéria Bolsonaro, mãe do 01, 02 e 03, comprou um apartamento por R$ 95 mil em Vila Isabel. Em espécie. Naquele mesmo ano, Flávio, o 01, adquiriu 12 salas comerciais na Barra da Tijuca, avaliadas em R$ 86,7 mil. Segundo O Globo, o 01 usou R$ 2,7 milhões desviados da Alerj nas rachadinhas. Ele e Queiroz serão denunciados à Justiça por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro.   Ainda casada com o presidente, Ana Cristina Valle comprou, junto com o marido Jair, duas casas, um apartamento e dois terrenos, tudo

O dilema das redes

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  Vício e dependência dos plugs “O dilema das redes” (Netflix) foi um dos mais reveladores documentários que já assisti. Grito de alerta para os rumos do planeta sob a influência dessa mídia: uma legião de zumbis que a cada dia perde seu poder de decisão. A força do filme está nos depoimentos de ex-funcionários de plataformas como Google, Facebook, Twiter e Youtube, entre outros. Todos alertam para um processo de dominação da natureza humana pelo que eles próprios chamam de 'chupetas digitais'. A motivação geral são os novos estudos que mostram como as mídias sociais afetam a saúde mental, viciam milhares de pessoas, sobretudo crianças, e têm impacto sobre casos de depressão e suicídio. Será tão grave assim? A resposta é sim para o ex-funcionário do Google, onde atuou como especialista em ética de design, Tristan Harris. Ele teria sido um dos primeiros a perceber que “a tecnologia deixou de ter o papel de ferramenta para se tornar um vício e um meio de manipulação”. Por i

Volta à normalidade

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  A disputa do bem que inicialmente favorecia a vacina de Oxford, em parceria com a Fiocruz, perdeu fôlego após duas interrupções nos testes. Apesar de retomados, especialistas e leigos baixaram as expectativas. Quem toma a dianteira é a CoronaVax, imunizante da chinesa Sinovac, cuja eficácia deve ser confirmada em outubro. A parceria com o Butantan permite ao governador de São Paulo, João Dória, programar o início da vacinação para a segunda quinzena de dezembro. Claro que por trás disso existe uma competição invisível. Talvez nem tanto... A vacina de Oxford poderia ser associada ao governo Bolsonaro, que investiu mais de R$ 500 milhões no imunizante. Enquanto Dória conseguiu arrecadar com doações R$ 97 milhões da meta de R$ 160 milhões, o já ministro Pazuello mandou identificar fonte orçamentária para contribuir com mais R$ 145 milhões para o imunizante. Nesse caso, duas situações são favoráveis aos brasileiros: o obediente Pazuello aparentemente sequer cogita politizar o assunto

O planeta de Francisco

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  É frei Betto quem dá o recado. De 26 a 28 de março de 2021, Assis, onde nasceu São Francisco, vai receber mais de 2 mil economistas e empreendedores de 115 países. Todos têm em comum menos de 35 anos de idade. Esse será o publico do encontro “A economia de Francisco”, convocado pelo papa. O Brasil terá 30 participantes. Serão debates sobre trabalho e cuidado; gestão e dom; finança e humanidade; agricultura e justiça; energia e pobreza; lucro e vocação; políticas para a felicidade; desigualdade social; negócios e paz; economia e mulher; empresas em transição; vida e estilos de vida; e economia solidária. Uma observação: milícia, corrupção e aborto não  integram debates. A inspiração de Francisco, que não a toa escolheu o nome do santo, é simples e grandiosa, como tudo o que ele faz. “Não há razão para haver tanta miséria. Precisamos construir novos caminhos”. Ele propõe uma economia “que faça viver e não mate, inclua e não exclua, humanize e não desumanize, cuide da Criação e não a de

Atestado da ignorância

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  “Poucas vezes na nossa história o povo brasileiro esteve tão bem representado por seus governantes. Ao assistir o show de horrores diário produzido pelo “mito”, esse cidadão não é tocado pela aversão, pela vergonha alheia ou pela rejeição do que vê. Ao contrário, ele sente aflorar em si o Jair que vive dentro de cada um, que fala aquilo que ele gostaria de dizer." ” Associada ao auxílio emergencial e ao desempenho do papel de candidato, e não de presidente, a análise do doutor em sociologia política, Ivan Lago, ajuda a entender a popularidade de Bolsonaro. Em meio ao discurso mentiroso à ONU, às queimadas nunca vistas da Floresta Amazônica – que acaba de perder seis estados do Rio de Janeiro - e do Pantanal, às sucessivas denúncias de compra de imóveis com dinheiro vivo por seus filhos, ex-mulheres e auxiliares, como captar essa ascensão do capitão corona na última pesquisa do Ibope? Isso sem falar nas trágicas estatísticas da pandemia do coronavírus, que já beiram os 140

Passo a passo de uma emocionante descoberta

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  O forte do neurocientista Miguel Nicolelis é a ciência. No entanto, ele deu um show de estilo literário ao inaugurar sua coluna no jornal El País. Começa lembrando a simplicidade com que Einstein chegou à Teoria da Relatividade.  Completou com a observação de seu “inesquecível” orientador, César Timo-Iaria, de que o gênio só deixara de fora de sua fabulosa equação a perda da noção de tempo. “Ele queria dizer que sem mergulhar nas abstrações mentais, sem hesitação ou temor, fica difícil fazer ciência de verdade”. Isto posto, preparou para o por vir. Citou a coordenação que assumiu do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus, no qual, passou a “navegar nas águas revoltas deste novo tempo analógico, durante boa parte de meus dias e noites”. Mencionou a experiência adquirida para assumir o cargo, quando estudou a epidemiologia das infecções hospitalares por bactérias resistentes a antibióticos, no início da carreira. Sua missão passou a ser, então, identificar as fragilidades no ini

Um Pinóquio na ONU

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  A sorte de Bolsonaro, ao abrir a 75ª Assembleia Geral da ONU, é não haver ali nenhum detector de mentiras.  Foi um discurso sobre seu mundo paralelo. Indiretamente, deu a entender que a culpa pelos mais de 138 mil óbitos e 4,6 milhões de contaminados pela pandemia foi dos 27 governadores da federação. Se apossou do auxílio emergencial, batalhado pelo Congresso, e culpou a imprensa por disseminar pânico. Pânico esse que era o contrário de tudo o que sempre fez: estimular aglomerações, evitar o uso de máscaras e lembrar que a hidroxicloroquina – que ele teve a cara de pau de citar no discurso – não tem aval científico. Claro que ele não mencionou que o país passou quatro meses sem ministro da Saúde em plena crise sanitária. Incluiu o auxílio de mais de 100 bilhões de dólares às pequenas empresas – meu marido, por exemplo, foi um que não viu um tostão sequer – e disse ter compensado a perda de arrecadação dos estados e municípios. Se fosse Pinóquio seu nariz estaria gigante.        

A segunda onda chegou

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                                                    Aglomeração em praia na Inglaterra Enquanto a chegada da vacina se aproxima cada vez mais, a Covid-19 parece dar um novo bote. Países europeus, como Espanha e França, que haviam conseguido controlar a doença após rigorosas quarentenas, voltam a ser assombrados com o aumento de casos e de óbitos. O planeta beira a trágica estatística de um milhão de mortos e o negacionismo continua a imperar em países como Brasil e EUA, que concentra um quinto desses óbitos. No Reino Unido, cujo líder também foi negacionista até contrair a doença, as reações são tão dúbias quanto seu líder. Enquanto há ameaças de novos lockdowns em algumas cidades, circula pelos países britânicos a recomendação “jante fora para ajudar na economia”. Novas quarentenas são propostas nos bairros mais pobres do sul de Madri, onde se concentram os imigrantes. Esses, por sua vez, reagem: “Não somos guetos, querem fazer um lockdown de classes”. Já em Portugal, onde os

Os erros do passado

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Reproduzi aqui trecho da biografia de D. Pedro II por Machado de Assis, publicado na Revista Espelho. Mostrava o quão generoso e sensível era o imperador. Sabe-se, porém, que o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão, iniciativa que, embora tardia, culminou no fim do Segundo Império. O que poucos sabem, contudo, é que Pedro II assinou a Lei de Terras, em 18 de setembro de 1850, o que dividiu a Zona Rural em latifúndios. A decisão do monarca, porém, só ratificou um projeto que entrou no Parlamento em 1843, com base num anteprojeto de autoria de conselheiros do imperador. Ou seja, foram sete longos anos tramitando pelo Congresso e pela Câmara, entre impasses e reviravoltas, conforme revelou o El País. Hoje, segundo o Incra, apenas 0,7% das fazendas são superiores a 20 km² em extensão. Somadas, elas ocupam quase 50% da Zona Rural brasileira. Mais da metade das propriedades, ou 60% delas, não chegam a 0,25 km² e correspondem apenas a 5% das áreas rurais. Sobre o predomí

Quando vence o pior

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  Extraio aqui trechos do artigo de Ivan Lago, doutor em Sociologia Política, brilhante análise do drama brasileiro. Graças a um longo histórico de abandono da Educação, única ferramenta capaz de trazer lucidez à mente humana. “Poucas vezes na nossa história o povo brasileiro esteve tão bem representado por seus governantes. Ao assistir o show de horrores diário produzido pelo “mito”, esse cidadão não é tocado pela aversão, pela vergonha alheia ou pela rejeição do que vê. Ao contrário, ele sente aflorar em si mesmo o Jair que vive dentro de cada um, que fala exatamente aquilo que ele gostaria de dizer. No “mundo real” o brasileiro é preconceituoso, violento, analfabeto (nas letras, na política, na ciência... em quase tudo). É racista, machista, autoritário, interesseiro, moralista, cínico, fofoqueiro, desonesto. Capitão do Exército expulso da corporação por organização de ato terrorista; deputado de sete mandatos conhecido não pelos dois projetos de lei que conseguiu aprovar em 2

Todo cuidado é pouco!

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  Se há uma unanimidade neste momento – terraplanistas à parte – é a chegada da vacina contra a Covid-19. Há duas semanas, porém, o planeta tomou uma ducha fria com a interrupção daquela que se mostrava a mais promissora das cerca de 170 vacinas testadas no planeta: a de Oxford e do laboratório AstraZeneca. Em menos de uma semana os testes foram retomados – no Brasil o número de voluntários dobrou para 10 mil, E só agora a repórter Elizabeth Cohen, da CNN, conseguiu trocar em miúdos o que aconteceu. A voluntária que causou a pausa é uma mulher inglesa, de 37 anos, até então saudável. Treze dias após receber a segunda dose da vacina, em 3 de setembro, ela começou a sentir dificuldade de caminhar, fraqueza e dores nos braços. Dois dias depois ela foi internada e diagnosticada uma mielite transversa na medula espinhal. Conforme neurologistas, a mielite transversa é muito rara, e corresponde a um caso em 250 mil. Costuma ocorrer em reação imunológica do organismo a algum tipo de vírus.

Machado, biógrafo de Pedro II

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Um “prosador novato”, como ele mesmo se definiu, escreveu uma inédita biografia de D. Pedro II. Era Joaquim Maria Machado de Assis, em colaboração à revista Espelho. Com apenas 20 anos, em seu primeiro trabalho, Machadinho passou a assumir o nome Machado de Assis, então, um ilustre desconhecido, ainda despido da fama. Deixou 38 textos, escritos em quatro meses. A biografia do imperador entrou na edição de número 10 da revista. O achado foi da doutoranda em História Cristiane Garcia Teixeira, para a tese defendida em 2016 pela Universidade Federal de Santa Catarina. Porém, só se tornou pública no artigo recém-publicado pela Revista ArtCultura. Acredita-se, segundo Cristiane, que Machado se envolveu diretamente no processo de construção do periódico semanal O Espelho: Revista Semanal de Literatura, Modas, Indústria e Artes. Ele tinha 12 folhas e circulou apenas de 1859 a 1860. Ali, a palavra ‘moderno’ era onipresente. A revista chegou em um período de efervescentes mudanças no Rio, q

Lá vai o Brasil, descendo a ladeira

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  “Apesar dos avanços positivos nas últimas décadas, o Brasil está em um profundo retrocesso em relação aos princípios, leis e normas de direitos humanos, de violação ao direito internacional”.  A crítica está na primeira recomendação feita pela ONU, durante o período democrático, para que o país seja alvo de uma investigação internacional por suas políticas ambientais e de direitos humanos. A iniciativa, de Baskut Tunkat, relator responsável pelos temas dos resíduos tóxicos e direitos humanos da ONU, depende, contudo, de que os governos apresentem um projeto de resolução e aprovem a proposta por maioria.  Tunkat constatou várias violações, inclusive sobre a Covid-19, durante a missão que realizou no país no fim de 2019. O informe avaliou as queimadas, os pesticidas, os ataques contra defensores dos direitos humanos e à resposta do país diante de  Brumadinho e Mariana, como ao  derramamento de petróleo nas praias nacionais. Segundo o documento, atores privados são orientados a “d

Aliança contra a destruição ambiental

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A floresta Amazônica arde como nunca se viu. E o Pantanal não fica atrás. Até então, o único sinal de indignação eram os abaixo-assinados que circulam nas redes sociais.  A boa notícia é a aliança inédita que acaba de ser formada entre 230 representantes do agronegócio e ONGs, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. Estão entre as sugestões do grupo a melhoria da fiscalização - ponto chave do qual abriu mão o atual ministro do Meio Ambiente, representante dos garimpeiros e dos grileiros.  Assim como a suspensão dos processos de regularização fundiária para áreas desmatadas e a pressão para que o governo classifique  como áreas d e proteção  10 milhões de hectares pressionados pelo desmatamento .      Em meio às cada vez mais claras manifestações das mudanças climáticas no planeta, com um governo inoperante diante da crescente degradação ambiental, despenca a posição de vanguarda brasileira não só na conservação ambiental, como por nossa  matriz elétrica 84% renovável (63,8% h

Vacinas para um mundo melhor

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  Apesar da confiança que inspira a vacina que será lançada pela Universidade de Oxford e o Laboratório AstaZeneca, a história mostra que imunizantes também podem trazer reações mortais ao organismo. Sobretudo de raras reações autoimunes, como teria sido a mielite sofrida pela voluntária britânica que paralisou os testes. Como os estudos voltaram - agora os testes no Brasil dobraram para 10 mil voluntários -, mesmo sem maiores esclarecimentos dos fabricantes, torçamos para que não seja o caso. Conforme a Veja, David Lewis, jovem soldado americano, morreu  em 1976  de uma nova cepa de influenza, então batizada de gripe suína. Gerald Ford, herdeiro da presidência de Nixon, afastado por impeachment , foi o primeiro a se vacinar. 45 milhões de americanos fizeram o mesmo. Só que 450 deles desenvolveram a síndrome de Guillan-Barré, que provoca dores intensas e paralisação. Trinta morreram. E da gripe, que não se espalhou, o único óbito foi o de Lewis. Acontece que a Guillan-Barré decorre d

Tutti buona gente

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A famiglia miliciana que nos governa   Nosso presidente tem hábitos  milicianos. Adora armas, o enriquecimento ilícito e despreza a vida. Após os revezes do mensalão e do petrolão, a máquina de furtar dinheiro público montada pelo PT, contudo, entramos na era de um crime que pode até parecer   menor: os 30 anos de saque na vida pública pela famiglia . A cada dia chegam novas evidências sobre os imóveis comprados com dinheiro vivo, como se legal fosse. Conforme a Época, a intrincada organização dos gabinetes do clã indicam o antigo hábito de preencher cargos comissionados com funcionários, entre eles milicianos, que sequer apareciam nos respectivos trabalhos.  Dos 286 funcionários que Bolsonaro e seus três filhos contrataram em seus gabinetes de 1991 a 2019, 39 deles, ou 13%, não trabalhavam de fato nos cargos que exerciam. Assim como Nathália Queiroz, filha do ex-PM e operador do clã, os funcionários exerciam, do lado de fora da Alerj, outras profissões. Essa turma foi remunerada c