Sair da inércia

  Ele tentou de tudo. Mandou para o espaço o teto de gastos, promoveu a escandalosa PEC Kamikaze, a escancarada compra de votos às vésperas do pleito, como se se incomodasse com os pobres. Pela qual pagaremos caro em 2023. No desespero, tentou adiar as eleições, sob o pretexto de fraude com a publicidade em rádios, factoides logo rebatidos pelo próprio ministro que denunciou a tentativa de trapaça. Foi também um verdadeiro tsunami de fakenews . Como se não bastasse, no dia do pleito os cúmplices do mandatário ainda fizeram o possível para atrapalhar: a Polícia Rodoviária Federal, tentou impedir a votação, sobretudo dos mais pobres, com suas operações fajutas auxiliadas pelas PMs e até pelo Exército. Bateu desespero. Eram poderosas forças contrárias, capazes de interferir numa diferença tão pequena entre os adversários. A contagem foi torturante. Como previsto, o capitão começou na liderança, já que o levantamento partia dos estados onde ele era favorecido. Já sabíamos que ele

  Foi preciso o segundo turno para o milagre se dar. Sem que Lula desse um passo nessa direção eles começaram a chegar. Apoios de todas as cores e matizes ideológicas, unidas em torno da causa essencial: a democracia. A tão desejada frente ampla aconteceu. Começou pelos artistas, que uniram seu talento e criatividade em torno daquele que sempre esteve ao seu lado, que no passado teve a ideia brilhante de trazer para o saudoso Ministério da Cultura Gilberto Gil, gênio da raça, mestre da sensibilidade. Depois vieram Henrique Meireles, Pérsio Arida, Edmar Bacha, FHC, os ex-presidentes – fora o impichado Fernando Collor -, o ministro Joaquim Barbosa, indicado por Lula que não se furtou a encurtar o caminho do ex-presidente para a cadeia, junto a outros ex-presidentes do STF. Até João Amoedo, do combalido Novo, aderiu. E as duas mulheres que conquistaram protagonismo na campanha. Uma negra outra branca. Uma representante dos ambientalistas, outra dos ruralistas. Marina Silva e Simone

  Lula hoje é um homem livre, inocentado. O mesmo não se poderá dizer do Presidente se ele não for reeleito. O próprio sabe muito bem o que o espera pela sequências de crimes que começam pela forma criminosa como conduziu a pandemia. Também estão livres Valdemar Costa Neto (PL) e Ciro Nogueira (PP), protagonistas do escândalo do mensalão, que também levou o primeiro para trás das grades.  Hoje são os principais aliados do Presidente, que nunca referiu-se a eles como “ladrões”. Outro fato de cair o queixo foi a reação do PGR de apoiar  fakenews , após ignorar solenemente o uso político do crédito consignado a famélicos do Auxílio Brasil, condenado até pelo Tribunal de Contas da União. A reação de advogado do mandatário já foi anulada pelo STF. A poeira do 'pintou um clima' ainda nem tinha assentado, quando Roberto Jefferson, em prisão domiciliar, recebeu a tiros de fuzil e granadas a PF que cumpria seu dever. Uma bomba na política armamentista do Governo. Para começar, pre

  Foi Ana Cristina Valle, a ex-mulher do Presidente e mãe do 04, Jair Renan, quem inspirou a jornalista Juliana dal Piva a titular “O Negócio do Jair”, o ótimo livro que começou a escrever desde que ela passou a cobrir a campanha do capitão, em 2018. As tais ‘rachadinhas’, consideradas pelos defensores do mandatário como um mal menor, impulsionaram a multiplicação do patrimônio do clã, em transações em espécie.   “É, sim, um esquema de corrupção e desvio de dinheiro público”, garante a jornalista ao Congresso em Foco . O patrimônio de quando Jair elegeu-se vereador eram um Fiat Panorama, dois terrenos e uma linha telefônica. Evoluiu para   duas casas na Barra, outra em Mambucaba, em Angra dos Reis, e um apartamento em Brasília. Andréa Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina, disse devolver todo mês R$ 7 mil de seu salário. “Andréa foi funcionária fantasma da família por cerca de 20 anos”, aponta dal Piva. Hoje, tanto Flávio quanto Carlos são investigados por ‘rachadinhas’. Há ta

  Para quem já tinha se acostumado a pautar as eleições, a campanha do Presidente volta a entrar no modo pânico. Após o ‘pintou um clima’, o vazamento de que Paulo Guedes quer pagar a compra das eleições com a desindexação do salário mínimo da inflação e o tiroteio do ex-aliado Roberto Jefferson, vem aí uma bomba com alto poder de octanagem. Na última terça-feira o deputado André Janones, porta voz da campanha virtual de Lula, deixou-se fotografar em almoço com o empresário Paulo Marinho, outro ex-aliado do mandatário abandonado, atual suplente de Flávio, o 01. Marinho tem o celular de Gustavo Bebianno, incansável mentor do capitão, abandonado após pressões de um enciumado Carluxo.  De posse do misterioso celular, sobre o qual já se especularam as mais bombásticas informações, Janones promete destruir não só o clã, como a candidatura à reeleição: “Mortos não falam, mas os celulares deles sim! Lembra desse dia Carlinha (Zambeli)? Lembra o que foi falado aqui? Isso aqui é só o frame

  Mesmo que se desconsidere as mágoas de uma ex-mulher, são estarrecedoras as denúncias da dentista Andrea Barbosa sobre Eduardo Pazuello – o ex-ministro da Saúde, deputado com a segunda maior votação do Rio de Janeiro. Nesse momento de amnésia coletiva sobre a tragédia que se abateu sobre os brasileiros na pandemia, pela mais absoluta ausência de gestão – para não falar negacionismo –, Andrea revelou que “Manaus foi feita de laboratório para testar a imunidade de rebanho". Será que as pessoas conseguem esquecer a tragédia que se abateu sobre a cidade, com gente morrendo de asfixia pela falta do oxigênio não providenciado por Pazuello? Andrea estava na capital amazonense na época da crise de oxigênio e publicou em sua rede no Instagram: "Nunca vou perdoar esse governo e quem compactuou com ele".  A ex revelou ainda que a "cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz, era prescrita até para grávidas em estado febril pelo aplicativo TratCov". Apesar d

  O chanchada de Roberto Jefferson seria o enredo de um golpe eleitoral frustrado. Quando ele fez a escancarada provocação à ministra Cármen Lúcia – como advogado criminalista que é – sabia que seria preso. E teria planejado receber a PF a tiros, quem sabe ser ferido e assassinado para virar mártir da liberdade de expressão bolsonarista. Segundo Otávio Guedes, quando a PF chegou, ele disse que se entregaria, o que relaxou quaisquer defesas dos policiais antes do tiroteio iniciado pelo advogado. O que aumentou ainda mais seu potencial explosivo. A filha Cristiane Brasil postou nas redes que "Xandão estava assassinando seu pai". Teria o papel da facada em 2022. Havia uma convocação para que bolsonaristas acompanhassem a cena do lado de fora. Para Fernando Gabeira, Jefferson teria planejado o próprio assassinato para sacudir a estabilidade das pesquisas na reta final. Tempestade perfeita a poucos dias do pleito que deu ruim. Isso por que os policiais não teriam embarcado n

  O absurdo episódio de um preso domiciliar, como Roberto Jefferson, que xinga uma ministra do Supremo de “prostituta arrombada” pelas redes sociais, quando não deveria ter acesso a elas, e reage à ordem de prisão a tiros de fuzil e granada, ilustra bem a tese do cientista político Ivan Lago. “Estou convencido de que Bolsonaro é uma expressão fiel do brasileiro médio, retrato do modo de pensar o mundo, a sociedade e a política do típico cidadão do nosso país.” Esse brasileiro médio está longe da imagem romantizada do brasileiro receptivo, solidário, criativo e malandro. “Refiro-me à sua versão mais obscura e, infelizmente, mais realista.” No mundo real “o brasileiro é preconceituoso, violento, analfabeto (nas letras, na política, na ciência... em quase tudo). É racista, machista, autoritário, interesseiro, moralista, cínico, fofoqueiro, desonesto.” Apesar de o machismo ter se tornado crime, “ele sobrevive no imaginário da população, no cotidiano da vida privada, nas relações af

  Existem muitos Jair, cada um para cada um de seus públicos. Um para os cristãos, outro para os gamers , outro para os pais e mães de família. Um feito só para você.    É assim que  funciona a extrema direita. Na capilaridade e no multi discurso. Segundo Theodore Adorno, a comunicação e propaganda fascistas da Segunda Guerra começam pelo discurso personalizado. O líder não fala ao povo como um todo, só ao seu povo para fanatizá-lo a partir de sua dupla força: a de um homem comum, simples, meio gigante contra o sistema. Ao mesmo tempo, é um escolhido superior, enquanto transparece não saber e nem entender sobre nada, o que gera coesão no grupo. Prega continuamente que promove uma batalha contra uma força imaginária e por isso é perseguido por todos, numa revolução às avessas. Lembra alguém? Discursos contra o establishment foram importantes em 2018 para distanciar Bolsonaro de seus 30 anos na política e gerar esse líder messiânico que quase morreu pelo povo. Ganha escala com a

  Como se não bastasse a corrupção escancarada do orçamento secreto, o Bolsolão, o ministro Paulo Guedes já tem pronto um projeto a ser implantado em 2023 para preencher as lacunas deixadas pelo indevido uso do dinheiro público. Para frear as despesas que pressionam o Orçamento, ele vai propor que as aposentadorias deixem de ser vinculadas ao salário mínimo. E este, ao invés de ser corrigido pela inflação, o será pela projeção da inflação para o ano seguinte. O projeto enterra um dos principais avanços da Constituição de 88, que passou a corrigir o mínimo pela inflação e o atrelou à previdência e aos projetos sociais. Aliás, já são quatro anos sem aumento real do salário mínimo, enquanto no governo Lula a valorização foi de 77%.   A Folha comparou: o reajuste de 10,16%, proporcional à inflação de 2021, poderia cair para 5,03%, conforme o IPCA projetado no início de 2022. Ou ainda para 3,5%, no caso de considerar a meta de inflação no exercício do ano. A proposta, apresentada por

  Em meio ao mal estar causado pelo atual estelionato eleitoral, Eduardo Moreira (foto), fundador do Instituto Conhecimento Liberta (quase que uma heresia para o governante) desmontou, uma a uma, as peças de campanha sobre as supostas conquistas do Presidente. Todas mentirosas: 1 - O principal argumento é que ele fez o Pix. Quem fez foram os funcionários do Banco Central, para que os bancos não perdessem os clientes que começaram a fazer suas transferências via aplicativos. 2 - A transposição do rio São Francisco não é dele. 90% das obras já estavam concluídas. 3 – Sobre o Auxílio Emergencial: sua primeira proposta, de 23 de março de 2020, era suspender os contratos de trabalho por quatro meses e mandar o trabalhador para casa, sem nada. Após as reações negativas, o governo ofereceu R$ 200. A oposição achou pouco e subiu para R$ 500. O Presidente aumentou para R$ 600 para chamar de seu. E agora faz o Auxílio por quatro meses, 100% eleitoral. 4 - Diz que começou a vacinar no com

  Nesses quase quatro anos de governo, quando alguém ouviu o Presidente pedir desculpas? Pois bem, desde agosto, ele não tem feito outra coisa senão se desculpar pelos absurdos cometidos, em sua versão paz e amor. Nem é preciso dizer, por razões eleitorais. Abaixo, uma sequência das barbáries cometidas pelo capitão, com aquela arrogância na medida certa para atrair aplausos do gado. A mais recente foi uma tentativa desesperada de reverter os prejuízos eleitorais gerados pelo tal “pintou um clima”. “Se as minhas palavras, que, por má-fé, foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas”, balbulciou, ao lado da Primeira-dama que havia corrido para apagar o incêndio. Michelle é mesmo uma heroína (ou interesseira?), para defender o marido flagrado na prévia de um adultério. Enquanto morreram quase 700 mil brasileiros, a maioria  vitimada pela catastrófica gestão governamental da mais gra

  Apesar da repetição pelos analistas políticos de que o Presidente não tem mais de onde cavar milagres, ele segue conseguindo comer pelas bordas nas pesquisas de opinião. No último Ipec, por exemplo, cresceu entre os mais pobres. Motivo? Credito consignado. Sim, essa mágica multiplicação do Auxílio Brasil, que de repente engorda o caixa sem que ninguém – ao menos os que nada sabem de finanças – saiba como. Embora também não saiba que vai pagar um preço caro pela ‘ajuda’ logo adiante. A perversidade é tanta que nem os grandes bancos, como o Itaú e o Bradesco, compactuaram com o golpe tão abaixo da cintura. Que já traz os resultados desejados. E o clima que pintou com as adolescentes venezuelanas, de um homem sexagenário e poderoso que, se estivesse lidando com prostitutas menores de idade deveria denunciar. Porém, preferiu ver no que poderia dar. Quem apaga o incêndio? Primeiro o ministro Alexandre de Moraes, que resolveu mostrar o quão equilibrado é ao proibir a divulgação do

  Para quem até já garimpou na Bahia nos tempos de Exército, e se orgulha de ter “sangue de garimpeiro”, o Presidente nunca escondeu de que lado ele está, independente das fortes críticas internacionais. Porém, o que o Observatório do Clima constatou é estarrecedor: desmatar dá votos. O capitão venceu no primeiro turno em oito das dez cidades mais desmatadas no ano passado. Sua quarta maior votação aconteceu em Novo Progresso (PA): 79,6% dos votos. Em 2018 já tinham sido 72,7% de votos na mesma cidade. Foi lá que aconteceu o “dia do fogo”, em que empresários, fazendeiros e madeireiros incendiaram uma grande área simultaneamente, em agosto de 2019. Outras cidades que seguiram a mesma tendência, todas alvos de muita destruição, foram Altamira (PA), que passou de 54,3% em 2018 para 57,7% no primeiro turno; São Félix do Xingu (PA), de 52,7% para 63,1%; Itaibuna (PA), de 47,5% para 57,8%; Apuí (AM), de 46,4% para 58,9%; e Colniza (MT), de 62,1% para 71,1%. Lula só venceu em Lábrea (

  O que prometia ser o maior trunfo contra o Presidente – o tal ‘pintou um clima’, associado à pedofilia pela campanha petista -, acabou por murchar, após o mandatário ler no debate de ontem a ordem de suspensão da notícia por Alexandre de Morais, que de canalha, foi alçado a aliado... Pena que a pior das mentiras, sobre a criação do orçamento secreto, não tenha sido desmentida no ar. Rodrigo Maia, acusado pelo capitão de tê-lo criado, correu ontem às redes para desmentir e assegurar que o pai da ideia foi o general Luiz Eduardo Ramos, com a assinatura do Presidente. Realmente deve ser muito difícil para Lula ouvir sequências de mentiras sem poder revidar. E ter de manter o controle. O ex-presidente liderou o primeiro bloco, ao trazer um assunto indefensável para o capitão: as mortes na pandemia. O primeiro tête-à-tête entre os adversários repetiu o que se viu durante toda a campanha: sequências de ataques sem que fosse apresentada sequer uma proposta de governo. Assistimos a um

  Para quem defende tanto a liberdade, sempre achei algo incompatível com a memória da ditadura militar, igualmente propalada pelo mandatário. Até que consegui entender a bizarra filosofia do bolsonarismo. Como vimos, o Presidente destrói a Educação, a Cultura e o Meio Ambiente desde que assumiu, obedecendo à lógica de Olavo de Carvalho que, felizmente, já se foi. Os três setores representam a opressão das classes dominantes, que devem ser destruídas a qualquer custo. Pois bem, a liberdade é cada um cuidar de si e não depender mais do Estado para isso. A educação, infiltrada pelo comunismo nas escolas, por exemplo, deve ser substituída pela homeschooling , que afastará as ‘más influências’ dos professores sobre nossas crianças. Cada um decide se deve ou não se vacinar. Pode significar a volta da poliomielite, do sarampo. Que importa, se as pessoas exercem sua liberdade? Claro que se alguém se contaminar com uma doença já erradicada é problema desse alguém.  Para que estimular a