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Mostrando postagens de dezembro, 2019

O paraíso é aqui!

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Não há como negar: sou chegada a um ritual, sobretudo à mesa. Assim como no meu café da manhã no Rio, nessa terceira estadia no Mirante da Pedra encontrei meu ritmo, uma sequência ideal entre as gostosuras que Nilza nos proporciona. Já nos aguardam um mamão bem pequeno e saboroso, que acompanha as garrafas térmicas de café, leite e água. Essa última, peça fundamental ao chá, que acaba de ganhar um novo recipiente, a chaleira oriental que dei de presente de Natal à Nilza. Também já nos aguardam   a manteiga feita em casa, assim como a geleia e o mel. De vez em quando, vem lá de fora um mugido das vacas que nos fornecem os laticínios. Muita coisa boa, que ordenei por prioridades. Começo com o mamão, em seguida é a vez do iogurte, agora numa fantástica consistência – Nilza explica que o segredo é fabricá-lo ao sol. Acrescento o mel da casa e a granola. Chegam à mesa os queijos minas e parmesão, também caseiros, bem como os pães quentinhos que acabam de sair do fogão de lenha. E

Pedra Selada na veia

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Vista da varanda do chalé Tinha 33 anos quando subi a Pedra Selada pela primeira vez. Minhas duas filhas eram bebês e inaugurei uma viagem a Mauá, de 10 dias, acompanhada de uma babá. Planejava tirar o atraso de dois anos nas caminhadas pela montanhas da região. O pai das meninas me deu uma montain bike, na qual só montei no oitavo dia. Com o pé preso, levei um tombo em câmera lenta que me quebrou o cotovelo esquerdo. Drama que terminou em terapia, a qual eu já devia estar fazendo há mais tempo. Mais de 10 anos depois voltei a subir, com meu querido amigo Bruno Casotti. São cerca de duas horas de trajeto, intermeado por trechos com abundância de bromélias, outros de bambus, até atingir os 755 m, com 360º de vista, essa sim, de perder o fôlego. Como gosto muito de subidas, fico sempre com um gostinho de quero mais. Até que um dia, hospedada na casa do meu ex-cunhado, entrei num (raro) caminho desconhecido e vim parar num pedaço de paraíso. O objetivo era comprar queijo, confec

Cruzada ambiental

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Era o início dos anos 1980, quando fui enviada ao Vale das Flores, em Visconde de Mauá, para fazer uma reportagem recomendada para o Jornal do Brasil. Adorei a pauta, porém, estranhei como um assunto nessa lonjura poderia ter caído neste tipo de exigência: recomendadas eram as reportagens que, por algum motivo, interessavam ao jornal e teriam de ser feitas de qualquer jeito. Fui escolhida porque a chefia já sabia o quanto eu era apaixonada – e conhecedora – da região. Teria de denunciar o descuidado traçado na linha de eletricidade que passaria a ligar Mirantão e Maringá, atravessando os bucólicos vales das Flores e Alcantilado. Era uma região onde predominavam as grandes propriedades de gado leiteiro, algo que, já naquela época, não era dos mais rentáveis. Quando cheguei conheci Lino, jovem ambientalista que trocara a carreira diplomática, para a qual já havia adquirido considerável bagagem, pela vida de bicho grilo. Com a devida dedicação às causas ligadas à preservação

Espiritualidade interditada

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Quando troquei a corrida pela caminhada, em 1992, descobri uma rota alternativa à Estrada das Paneiras. Passei mais de dez anos correndo ali todo santo dia, com ducha de cachoeira antes do trabalho. Até que resolvi experimentar andar até o Cristo. No início só podia passar pelo portão de acesso, após as Paineiras, a partir das 8h, quando já devia estar de volta. E foi um funcionário do trem, a quem dava carona, quem me deu a dica: vai pelos trilhos e pega o acesso no meio do caminho. Foi o que passei a fazer. Chegava lá em cima por volta das 6h30, quando não havia viva alma. Lojas ainda fechadas. Fazia tudo com meu doberman, ameaçador, porém, inofensivo. Na época, animais domésticos ainda não eram proibidos na Floresta da Tijuca. Passei   a ir ao   Cristo em média duas vezes por semana. E me deparar com aquela paisagem sensacional, sem ninguém, e com a mega estátua começou a me sacolejar por dentro. Fui educada na religião católica, contudo, comecei a abdicar dela durante o Cl

Pesadelo sem fim!

O pesadelo não dá trégua. Tudo começou há oito dias, quando recebi uma ligação no fixo de alguém que se dizia da segurança do meu cartão de crédito. Perguntava se eu reconhecia uma compra de R$ 6,8 mil nas Casas Bahia da Barra da Tijuca. Assustada, neguei e pedi o estorno. A pessoa me orientou a ligar para o número no verso do cartão de crédito para solicitar o bloqueio e o estorno. Fiz isso em seguida, reconheci a gravação do banco, e quando veio o atendente, me disse para quebrar o cartão com uma tesoura, mantendo a integridade do chip e levá-lo a uma agência na Barra. Respondi que seria impossível – tinha um compromisso e estava com pressa, o que ajudou a turvar meu raciocínio. Ele, então, me ofereceu um portador, motoqueiro que chegou em minha casa pouco depois. Como dois cartões do meu marido também foram clonados este mês, achei que seria uma nova precaução dos bancos. Passadas duas horas, fui alertada do golpe. Corri para ligar para o banco e minha conta e cartão foram bl

A força das estátuas equestres

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A imponência de D. João VI na Praça 15 Houve tempos em que o fino do marketing era uma estátua equestre. Tempos ancestrais. O Rio guarda, contudo, dois exemplos que não apenas confirmam a máxima, cujo trabalho seria infinitamente maior que o de uma campanha publicitária, como se mostram fora de lugar. A praça, antes chamada de Largo do Paço, que ganhou o nome da data da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, deveria ostentar a imagem do marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), responsável pelo golpe de estado que destituiu a monarquia, montado naquele que com certeza deveria ser um garboso cavalo. Contudo, a estátua equestre no maior símbolo da nascente República é a do general Osório (1808-1879). Além de monarquista, ele ascendeu a barão e visconde e tinha espírito liberal. Cedeu o nome também à praça em Ipanema e não teve nada, absolutamente nada a ver com a Proclamação da República, como poderia sugerir sua presença naquele nobre endereço. Outra presença que

“Narrativa caleidoscópica”

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Na prateleira da Blooks Botafogo Semana passada fiz o terceiro lançamento do meu primeiro romance (quarto livro), A colcha escarlate , na Blooks Botafogo. Coincidiu com a festa de Natal do Jornal do Brasil, onde trabalhei 17 anos não consecutivos. Formamos uma confraria de ex-colegas e nunca um encontro foi tão intenso e caloroso. No frigir dos ovos, vendi bem, porém, peno como escritora desconhecida e, para completar, sou uma negação em marketing. Para seduzir novos leitores, ou quem sabe a quem procura um presente de Natal diferenciado, reproduzo, abaixo, comentários de pessoas que já leram. O livro pode ser encontrado na Blooks, Argumento, Travessa e Galileo. “ Acabei seu livro. Ainda estou curtindo a leveza do texto. Fez-me bem. A história, a Índia, a colcha mágica, as orquídeas.. .” (Crítica de literatura, Maria Cecília Costa Junqueira)   “ Estou lendo e a-man-do “A colcha escarlate”. É uma história de amor, com suspense, cultura, história, geografia, feminismo, p

Mais uma vítima da prefeitura

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O nascimento da Avenida Marechal Floriano não foi dos melhores. As atas da Câmara dos Vereadores, de 1632, davam conta de que foi ali que nasceu o primeiro foco de crimes da cidade, com o serviço de cargas de produtos das zonas suburbanas. Até o início do século 20 havia ali duas vias, Estreita e Larga de São Joaquim, assim batizada ao ser alargada para 20 m de largura. Depois de 1832, passou a Marechal Floriano, o primeiro presidente do Brasil. Após uma ascensão, com a chegada do Colégio Pedro II, pioneiro em instrução secundária oficial, em 1837; da Light, em 1905 e do Palácio do Itamaraty, construído por Francisco José da Rocha, conde de Itamarati, entre 1851 e 1855, a decadência do endereço foi acentuada no século XXI pelas obras do VLT e abandono do Centro, que provocaram uma sucessão de fechamentos no comércio local. A resistência, porém, continua. Aníbal Gonzales, proprietário da tradicional Principado Louças, fundada em 1º de abril de 1959, garante que as obras não
Não caia nesse golpe! No início da noite de ontem, quando me preparava para sair para um compromisso, recebi uma ligação do suposto setor de segurança do meu cartão. O interlocutor perguntava se eu reconhecia um gasto de mais de R$ 6 mil, nas Casas Bahia da Barra da Tijuca. Disse que não, pedi o estorno e ele me orientou a ligar para o telefone atrás do cartão para falar com o setor responsável. Fiz isso, apressada, porque tinha de sair. Atendeu uma ligação idêntica à do banco, só estranhei quando ela não me deu a alternativa de digitar meu CPF e se limitou a pedir o número do cartão. Pediu a senha e não informei. Voltei a estranhar porque não veio aquele “dado não informado”, e apenas seguiu em frente até que veio um atendente. Estranhei também uma certa velocidade no processo, porém, ao mesmo tempo foi um alívio, porque tinha pressa. Fui confirmando as informações solicitadas e também o pedido de bloqueio do cartão. Fui orientada, inclusive, a mudar a senha, o que já era ó

Invasão ao cartão postal

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Só mesmo o autoritarismo poderia justificar a autorização para que fosse erguido o Edifício São João, esse ponto quadrado que reflete à luz do sol, ao pé do nosso cartão postal, invadindo as sinuosas linhas dos morros que compõem a entrada da Baía de Guanabara. O conceito do entorno, tão caro à preservação do patrimônio - no caso, nossa mais importante atração turística - foi para o espaço. O esdrúxulo prédio residencial fica atrás do Centro Marechal Newton de Andrade Cavalcanti, dentro da Fortaleza São João, na Urca, onde funciona o Centro de Capacitação Física do Exército, à beira da praia cujo acesso só é permitido aos militares. Será que nenhum energúmeno foi capaz de questionar a obra, antes que ela passasse a poluir a imagem da cidade justamente onde ela nasceu? 

Laranjeiras com vista para o mar

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Depois Antes Quando comecei a procurar apartamento, recém casada, em 1980, vi um anúncio em Laranjeiras, com vista para o mar. Mentira, pensei. O anúncio continuava lá e resolvemos conferir. Quando chegamos era verdade: da janela se descortinava a Baía de Guanabara,  morros ao fundo. M ais um bocadinho, daria até para ver o   Pão de Açúcar. Paixão à primeira vista. Na verdade nem eram apartamentos, mas casas, oito unidades idênticas, como um prédio horizontal, com entrada e portão individuais, feito uma vila. Mais do que poderia sonhar. Escolhemos a casa 03, a que tinha a vista mais ampla para o azul do mar. Dez anos depois me separei e voltei a casar. Continuei no mesmo endereço. Minha única queixa é a chegada do verão, porque o teto de laje transforma a sala num forno. Temia também a tomada  pelo Pereirão -  que sequer existia quando chegamos -,   da mata  que também avisto da janela,  acima do Liceu Molière, integrante  da APA São José . A comunidade de fato avanç

Gênese do Big Brother

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Foto Marcos Tristão Uma das coisas que mais me fascinou quando estudei Michel Foucault (1926-1984) na faculdade, foi a palavra pan-óptico. Ela integrava o  “sistema disciplinar” classificado pelo  filósofo com o  que passou a permitir, a partir do século XVIII, uma vigilância cada vez mais eficaz (“Vigiar   e Punir”, de 1975), como base da sociedade de controle. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que existe no Rio um exemplar deste sistema? No ano passado fiz uma reportagem para o Jornal do Brasil sobre as obras realizadas no Instituto de Atenção à Saúde São Francisco de Assis, unidade que passou anos pichada e semi-destruída na Avenida Presidente Vargas. Em dezembro passado as obras, iniciadas 10 anos antes, estavam 80% concluídas. Pelo andar daquela carruagem, suponho que até hoje não tenham terminado, embora, àquela altura, já houvessem resgatado o grosso dos prédios de estilo neoclássico, administrados pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis, formada por leigos

Estrela da Baía de Guanabara

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Qual deve ter sido o desbunde dos portugueses ao entrar, a bordo das caravelas, na Baía de Guanabara, e se depararem com o  formato pontiagudo da enorme pedra  cercada de Mata Atlântica,  depois batizada de Pão de Açúcar? Seria deles a autoria do nome, inspirados nos blocos de açúcar transportados para a Europa em uma forma de barro cônica, durante o apogeu do cultivo da cana-de-açúcar? Ou foi dos tamoios o batismo, que a chamavam de “ Pau-nh-açuquã ”, ou morro alto, isolado e pontudo, no idioma tupi? O que importa? A rigor, nada. O fato é que a pedra, com seus 396 m, continua a encantar cariocas e visitantes de todos os costados e se mantém na liderança – ao lado do Corcovado – entre as maiores atrações turísticas da cidade. Que não são poucas, em  matéria de natureza. O nome Pão de Açúcar pegou mesmo a partir da segunda metade do século XIX, quando o Rio recebeu as missões artísticas do alemão Johann Moritz Rugendas e do francês Jean Baptiste Debret, capazes de reproduzir o fas

Passado sem volta

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Imagem de morador do Pereirão Nos aos 1990, quando troquei a corrida pela caminhada (para a qual já voltei), comecei a investigar os arredores da minha casa, em Laranjeiras. Um dia, percorri o caminho que vejo da janela, até o cume do Morro São José. Lugar ermo – passava pelo Clube do Parque, esqueleto do que sobrara de um investimento de endinheirados do Parque Guinle -, ladeiras íngremes, muita mata e vista de perder o fôlego para a Baía de Guanabara. Semelhante à da Vila Pereira da Silva, o Pereirão, com o devido destaque ao Pão de Açúcar, mais abrangente, porém. Comecei a fazer o percurso, intenso, e de curta duração, acompanhada pelo meu cão doberman. Até que, em 2000, chegou ali o Bope, que recuperou o Clube do Parque, ajudou a evitar a junção das comunidades Tavares Bastos e Pereirão, trouxe mais segurança aos arredores e fechou o acesso. Um dia, o inglês Bob Nadkarmi, que por muitos anos explorou o simpático The Maze, mistura de pousada e restaurante na Tavares Bastos,

Ascensão e queda da Carioca

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O charme do "Café do bom, cachaça da boa" A Rua da Carioca se mantém no quadro de decadência que impera no Centro do Rio. No ano passado fiz uma reportagem sobre ela para o Jornal do Brasil – em seu curto retorno ao papel. De lá para cá, a situação só fez piorar.  A via começou a surgir no remoto ano de 1697 como um caminho ao pé do Morro de Santo Antônio. Ali, a Ordem Terceira de São Francisco ergueu um hospital, demolido na reforma de Pereira Passos de 1905, quando seu lado ímpar passou a reunir conjuntos neoclássicos e, do lado par, os ecléticos, todos tombados.  Dos tempos áureos, quando por ali circulava o high society carioca, restaram o Cinema Íris, hoje um pornô com shows de striptease , e o Cine Ideal, transformado numa elegante Maison Leffiè , casa de festas retrofitada no melhor estilo Belle Époque . Seu grande atrativo na época, a cúpula que abria para refrescar o ambiente, assinada por Gustave Eiffel – o mesmo da torre – porém, está desativada. Outr

O Rio não merece

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Em 2020, ano de eleições municipais, a prefeitura terá o maior orçamento dos últimos quatro anos, com uma arrecadação de R$ 15 milhões só de taxas e contribuições dos cariocas. Será que o alcaide ainda terá tempo para reverter o caos instalado na cidade? O drama do momento são os hospitais, a ponto do prefeito pedir “piedade” ao TST para a liberação de recursos. Se não conquistar o nobre sentimento das autoridades judiciais, os servidores municipais ficarão sem o 13º. A hipótese, porém, está longe de ser a mais dramática. Do Leblon à Zona Oeste, os servidores da Saúde estão há dois meses sem salários e paralisam o atendimento. Quem sofre? Os cariocas, cuja única alternativa é correr para a também combalida rede estadual de Saúde. O prefeito desdenha do carnaval, a mais rentável festa da cidade, e o governador está pronto a assumir o Sambódromo. Na Comlurb, um dos maiores exemplos de eficiência do Rio, diretores experientes foram substituídos por pastores. A pane só não ocor

Tempos bizarros

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 Os neo- subversivos A cultura brasileira está sob ataque. O ponta-pé inicial partiu do astrólogo, dublê de filósofo, responsável pela nefasta indicação de um anônimo para o cargo de secretário Especial de Cultura. Apesar de sua reduzida estatura, se comparada a de um ministro – ministério que nosso mandatário fez o favor de extinguir – ele tem poder. Antes da nomeação, a criatura usou a tática do olavismo-bolsonarismo  para sair da obscuridade: denegrir a nossa maior dama do teatro, Fernanda Montenegro. Virou manchete da noite para o dia. Dai em diante veio o efeito cascata. A nomeação para o comando da Casa de Ruy Barbosa para outra ilustre desconhecida, alheia ao alto nível requerido naquele ilustre ambiente, cujo maior mérito, até então, é o de fazer roteiros para a TV. E para a plural Funarte foi pinçado um extraterrestre terraplanista, capaz de associar o rock a satã. Que diz que Elvis Presley e os Beatles são parte de um plano capitalista burguês para destruir a