Passado sem volta

Imagem de morador do Pereirão

Nos aos 1990, quando troquei a corrida pela caminhada (para a qual já voltei), comecei a investigar os arredores da minha casa, em Laranjeiras. Um dia, percorri o caminho que vejo da janela, até o cume do Morro São José. Lugar ermo – passava pelo Clube do Parque, esqueleto do que sobrara de um investimento de endinheirados do Parque Guinle -, ladeiras íngremes, muita mata e vista de perder o fôlego para a Baía de Guanabara.
Semelhante à da Vila Pereira da Silva, o Pereirão, com o devido destaque ao Pão de Açúcar, mais abrangente, porém. Comecei a fazer o percurso, intenso, e de curta duração, acompanhada pelo meu cão doberman. Até que, em 2000, chegou ali o Bope, que recuperou o Clube do Parque, ajudou a evitar a junção das comunidades Tavares Bastos e Pereirão, trouxe mais segurança aos arredores e fechou o acesso.
Um dia, o inglês Bob Nadkarmi, que por muitos anos explorou o simpático The Maze, mistura de pousada e restaurante na Tavares Bastos, me revelou em entrevista que foi dele a ideia, levada a Garotinho em sua gestão no governo do estado (1998 a 2002), de ocupar o local com o Bope. O objetivo era evitar a junção das duas favelas e aumentar a segurança, conselho ouvido e seguido pelo então governador.
Minha caminhada terminava em uma instalação cercada que nunca soube bem o que era, provável filial de algum órgão público para aferir alguma coisa, me parecia algo ligado ao clima, porque tinha antenas. Chegava lá com a língua de fora, feliz, contudo.
Passados quase 20 anos da chegada do Bope, cuja sede foi transferida em 2010 para as imediações da Maré, embora tenha mantido instalações em Laranjeiras, a segurança de fato aumentou na região. Hoje de manhã, entretanto, foi mais um dia em que fiz um passeio pelos arredores e me surpreendi com a instalação de um centro terapêutico junguiano ao lado das assustadoras caveiras que anunciam a chegada ao batalhão.
Ao mesmo tempo em que me sinto mais segura, sem necessidade de cachorro, lamentei profundamente por nunca mais poder chegar àquele divino olimpo, vedado ao livre acesso popular. Pena que na época não havia a facilidade dos registros  no celular, tudo ficou restrito à memória. Um passado sem volta.


  

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