Sair da inércia

  Desde a Vaza Jato, o império de ética e moralidade erguido em torno do ex-juiz Sérgio Moro e do então procurador Deltan Dallagnol só fez desmoronar. O cargo no ministério da Justiça no governo do capitão seria a gota d’água. Se fatos novos não continuassem a se suceder. O mais recente foi a denúncia de extorsão sofrida da dupla pelo advogado da Odebrecht, Tacla Duran. Agora, chegou a vez do proprietário da empresa, Emílio Odebrecht, em seu livro de memórias publicado pela Topbooks. No Estadão, o empresário acusa a força- tarefa de criar uma “fábrica de delações” para forjar provas. Ele relata blitz de madrugada nas celas dos executivos da construtora, em Curitiba, para forçar depoimentos por meio de humilhação.    Era a tática para assegurar o fluxo de operações. Como se sabe a operação prendeu Marcelo Odebrecht, filho do empresário e outros quatro diretores da construtora, então, a maior do país, que sofreu um apagão de contratos, bloqueio de recursos e fechamento de cante

  Chegam a ser bandeirosos os detratores do PL das Fake News – que deveria chamar-se regulação das plataformas digitais, como no resto do mundo, e será votado nesta terça-feira. São bolsonaristas e lavajatistas. Quase a mesma coisa. Tanto assim que os aliados do capitão referem-se a ele como o “PL da Censura”, como se o objetivo da proposta fosse cercear a liberdade nas redes sociais. Passamos os últimos quatro anos engolindo falácias como a eficiência da cloroquina no tratamento da Covid-19, para citar um exemplo. Com as ameaças às nossas crianças, graças ao poder de tão poucos - não eleitos - sobre tantos, como os Elon Musk (Twitter) e Pavel Durov (Telegram) da vida, não dá mais. A última semana foi pródiga, com o deputado lavajatista Deltan Dallagnol – o mesmo do power point que incriminava Lula – disseminando nas redes que a regulação proibirá a publicação nas redes dos versículos bíblicos. Mentira sobre o projeto da mentira. Como se não fosse inconstitucional, do que ele

  “Foi mal, tava doidão.” O meme , que ironiza a desculpa esfarrapada do capitão para justificar o compartilhamento do vídeo que contestava os resultados das eleições dois dias após o 8 de janeiro, refere-se à cortina de fumaça para encobrir o verdadeiro responsável: seu filho Carluxo. Segundo o colunista Leonardo Sakamoto, o papai está apavorado do 02 ser preso. De qualquer forma a mentira deveria ser melhor calçada. Soraya Smoili, professora de farmacologia na Unifesp defende no G1 que só concentrações muito altas de morfina causariam confusão mental. “O argumento é ruim, porque a morfina causa mais constipação com a redução do fluxo intestinal”, diz. Distribuindo sorrisos – que deviam encobrir sua real preocupação -, o ex-presidente afirmou que fez a postagem sem querer. Querendo. Mesmo que a autoria seja de seu filho, é claro que foi aprovada pelo pai. O depoimento ocorreu no inquérito que investiga quem são os autores intelectuais do quebra-quebra nas sedes dos três podere

  O feitiço começa a virar contra o feiticeiro. Era mesmo muita pretensão dos bolsonaristas criar a CPI dos Atos Golpistas - aberta ontem no Congresso - para culpar as vítimas. O capitão quer a participação de seus filhos Flávio e Eduardo para correr do prejuízo que se anuncia. Os próprios correligionários do PL não veem como o ex-presidente possa sair ileso dessa, segundo Bela Megale.  Ricardo Cappelli (foto), secretário-executivo do Ministério da Justiça e agora interino no GSI, comemora  no site Congresso em Foco a  decisão do ministro Alexandre de Moraes de tornar públicas as 160 horas de gravações do 8 de janeiro. Agora todos os pratos estão postos na mesa.  E levam a essas, entre outras conclusões: “Onde está o general Heleno? Alguém sabe? O general Heleno desapareceu. Um homem público, ministro de Estado, que sai das eleições e desaparece. Quem explica o sumiço dele?” E o mais grave: “Onde é que está a valentia do general Heleno? Acho que o desparecimento dele fala por si.

  Nesta última segunda-feira o Brasil foi inundado por uma luz que andava apagada há quatro anos. Criado em 1988 para estreitar os laços culturais entre os países lusófonos, o Prêmio Camões – o maior da língua portuguesa -, chegou finalmente às mãos de Chico Buarque.     Já concedido a Rubem Fonseca, Mia Couto, José Saramago, João Cabral de Melo Neto, Raquel de Queiroz e Jorge Amado, entre outros, a honraria ao artista foi negada pelo capitão. Assim como relegou nossa Cultura ao lixo. Com uma rara gravata branca, Chico deu o seu recado: “Aquele governo foi derrotado nas urnas, mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça fascista persiste, no Brasil como um pouco por toda parte. Reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula. Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileir

  Você tem pena de Anderson Torres? Eu mesma não tenho nenhuma. Ontem sua defesa conseguiu adiar seu depoimento à PF sobre a operação montada para impedir o acesso dos eleitores de Lula às urnas eletrônicas. Como sentir pena do homem responsável pela segurança de Brasília, que viajou para Orlando – pátria da extrema direita - antes de iniciadas suas férias, informado da violência prevista para ocorrer justo na sua ausência? Que guardava em sua casa a minuta do golpe, chamada por ele de ‘lixo’, recebida de sua secretária, que negou tal informação? Cuja autoria ele diz ignorar... Que, segundo Marília Alencar, ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça, atendeu ao pedido do chefe – o então ministro da Justiça, Anderson Torres – de mapear os locais onde Lula tinha sido mais votado no primeiro turno? Para dar base aos bloqueios nas estradas no segundo turno. Esta foi a razão do ministro Alexandre de Morais ter mantido a prisão de Torres, apesar do parecer contrário da PGR.

  Talvez nunca uma CPI, que começa essa semana, nasceu tão controversa. Tudo começou com a convocação do deputado André Fernandes (PL-CE, foto): “Neste fim de semana acontecerá, na Praça dos Três Poderes, o primeiro ato contra o governo Lula. Estaremos lá!”, reproduziu o Portal Meio. Fernandes chamava para o que terminou em quebra-quebra, no 8 de janeiro, ao qual ele não compareceu por “motivos pessoais”. Mesmo distante, comemorou devidamente nas redes os resultados do vandalismo. Aliado do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o 03, Fernandes elegeu-se no Ceará pelas redes, repercutindo conteúdos do mentor. Ele motivou o ato antidemocrático e hoje defende a investigação sobre aquilo que ajudou a convocar. Por quê? Para tentar inverter tudo e culpar o governo Lula de conivência com o golpismo. Eles fizeram o golpe, porém, as vítimas não são os alvos do golpe, e sim os arruaceiros que o promoveram. Mais absurdo impossível. Quando a CNN – versão de Jovem Pan para adultos - vazou as

  A última dos bolsonaristas é tentar provar numa CPI que eles não tiveram nada a ver com o 8 de janeiro e que a culpa de tudo foi do próprio governo. Que tal? Dessa vez, porém, se eles conseguirem gastar o dinheiro público com essa falácia, não poderão contar com a máquina de fake news de Carluxo. Como se sabe, o filho 02 já não comanda a operação das redes sociais do papai. Mortalmente ofendido, disse ter sido tratado como um rato. Quem será que cometeu uma heresia dessas? E por que o paradoxo? Os atos antidemocráticos estão sob a investigação da PF – agora não mais aparelhada – e a prioridade do governo são  a  votação do arcabouço fiscal e da reforma tributária. É sabido que os extremistas querem apenas tumultuar as investigações, com falsas ilações de que tudo ocorreu por falta de reação do governo. Como se vê, o STF já tem maioria para tornar réus os 100 golpistas denunciados pela PGR. A PF acaba de prender 13 supostos envolvidos no quebra-quebra, entre eles o tenente-coro

  Sabemos que a oratória e o timbre de marreco não favorecem Sérgio Moro. Pois o ex-juiz escorregou feio quando foi rebater o pedido de prisão feito pela PGR por conta de suas calúnias contra o ministro Gilmar Mendes. Em tom de brincadeira durante uma festa junina no ano passado, Moro falou em vídeo que viralizou sobre “comprar um habeas corpus de Gilmar Mendes”.  O tom foi usado pelo próprio para justificar a calúnia. Só que um senador deveria saber até onde é possível brincar em casos como esse, ainda mais sabendo que estava sendo gravado. Na hora em que foi responder à acusação da PGR Moro gaguejou, expondo a insegurança que a situação lhe causava quando tentou explicar que “falas foram descontextualizadas”. Bem diferente da irônica arrogância usada quando se referiu ao ministro do STF.   Pouco a pouco a situação do ex-juiz fica cada vez mais complicada. Ele tinha o poder e a caneta na mão para determinar a prisão de Tacla Duran, o advogado que defendia a Odebrecht durante

  Entre comemorações e reações adversas, a viagem à China significou acordos que chegaram a R$ 50 bilhões, e mais de R$ 12 bilhões com os Emirados Árabes (sem joias). Os 15 acordos assinados entre Brasil e China incluem a cooperação espacial, em pesquisa e inovação, economia digital e combate à fome e intercâmbio de conteúdos de comunicação, entre outros. Ao contrário da viagem aos EUA, de onde Lula voltou quase de mãos abanando, ficou evidente a simpatia entre os dois chefes de estado. Tanto que o encontro privado entre eles previsto para durar 15 minutos levou mais de uma hora.   O que ficou sem resposta foram as provocações feitas por Lula ao presidente americano – que não prima por prestigiar a relações com a América do Sul, embora tenha sido o primeiro a apoiar o novo governo em meio ao 8 de janeiro. Só não dá para entender como Lula responsabiliza a Ucrânia pela guerra, quando se sabe que o país foi invadido e brutalmente agredido pela Rússia. Desse jeito vai ficar difíci

  Desde o massacre na escola de Blumenau não tive coragem de tocar no assunto, a consequência mais boçal da política de armamento do governo anterior. Essa semana, porém, respirei aliviada ao ver sugestões de especialistas em  O Globo : “Embora os massacres em escolas sejam um fenômeno preocupante, ele é bastante localizado. Nos últimos vinte anos, tivemos pouco mais do que vinte eventos com vítimas fatais num universo de duzentas mil escolas no país. As chances de um episódio acontecer na escola do seu filho ou filha são muito pequenas, uma em dez mil – merece atenção, mas sem pânico. Acompanhando nas redes sociais as comunidades que cultuam massacres, identificamos algumas poucas centenas de usuários ativos. Apenas uma pequena minoria destes jovens efetivamente tentará uma ação violenta. Nos últimos dias, adolescentes que sinalizaram que estão planejando um ataque foram visitados por agentes de segurança pública. Essas ações policiais preventivas alertam os pais, alertam a esco

  A novela das 'rachadinhas', modus operandi do clã até hoje não comprovado, deu mais um passo. O Laboratório de Tecnologia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro do MP, a pedido da Justiça, terminou o laudo sobre o destino das verbas para contratação de funcionários no gabinete de Carlos (na charge com a mamadeira de piroca), o filho 02. Ainda assim, continuaremos sem saber de nada, porque o inquérito corre em sigilo. A base de tudo foi a reportagem publicada na   Época - que nem existe mais -, em junho de 2019. Segundo a revista, o gabinete de Carluxo empregou sete parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher do capitão e madrasta do vereador.  Só que nenhum deles dava as caras no batente. tos Quatro admitiram que não trabalhavam no gabinete de Carlos na Câmara do Rio, apesar de nomeados e assalariados. Entre eles, a professora de educação infantil Marta Valle, cunhada de Ana Cristina. Ela morava em Juiz de Fora e passou sete anos na folha de pagamento do gabine

  No embate entre o ex-juiz Sérgio Moro e o advogado Rodrigo Tacla Duran, o primeiro marcou um ponto. O TRF-4 acaba de derrubar a decisão do titular da 13ª Vara de Curitiba, Eduardo Appio – herdeiro dos processos da Lava Jato -, que revogava a ordem de prisão contra Duran. Como se viu, quando caiu a tal ordem contra Tacla Duran, este recheou seu depoimento a Appio, em março, com provas de que ele tinha sido vítima de extorsão por Moro e seu assecla, Deltan Dallagnol, através do advogado Orlando Zucolotto, sócio de Rosângela, mulher do ex-juiz. E também padrinho de casamento do casal. Duran, que mora na Espanha, preparava-se para voltar ao Brasil ontem (sexta-feira14) para uma audiência de justificação diante do MPF e da PF. Moro deve ter mexido seus pauzinhos para impedir a continuidade de um processo que pode até levar à cassação de seu mandado no Senado. Nunca saberemos, porém, e vamos aguardar os próximos capítulos, com suas prováveis reviravoltas.   Enquanto isso, o colun

  O Ministério Público Eleitoral (MPE) manifestou-se a favor do pedido de inelegibilidade do capitão na última quarta-feira  (12) na ação movida pelo PDT. A primeira de uma lista. O que parecia óbvio aos leigos foi consenso no MPE: indícios de abuso de poder político nos ataques do ex-presidente ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas na reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada, em julho de 2022. Para quem não vê a hora do capitão ser colocado fora de combate – enquanto os correligionários do PL já reclamam de sua aversão ao trabalho, apesar do salário de R$ 41 mil a ser aumentado em maio -, há um grave porém sobre o desfecho. Isso pelo desserviço do ministro Ricardo Lewandowsky ao país ao antecipar sua aposentadoria, prevista para o dia 11 de maio, quando o processo já poderia estar julgado. Ele será substituído por Kássio Nunes Marques, de quem pode se esperar tudo. Escolhido a dedo pelo inominável para fazer o que seu mestre mandar, ele pode desequilibrar a tendên

  Já aprovada pela Câmara em 31 de março, acaba de chegar ao Senado a MP que vai afrouxar as regras de proteção à Mata Atlântica, da qual hoje restam apenas 12,4% da área original, sendo 80% em áreas privadas. Socorro! Nesse momento em que o país faz das tripas coração para cumprir o desmatamento zero determinado por Lula e pela COP-15, é de arrepiar o que pode vir com a aprovação da MP. Antes mesmo que a tragédia se concretize, Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas do SOS Mata Atlântica, alerta: "Esfacelaram com a lei da Mata Atlântica". Desde que a lei foi criada, em 2006, o desmatamento estava em queda. E, claro, a MP foi editada durante o governo de Bolsonaro. De início, era voltada apenas a uma prorrogação para que imóveis rurais aderissem ao Programa de Regularização Ambiental. Virou, contudo, um Frankenstein com os dispositivos introduzidos pelo deputado Sérgio Souza (MDB-PR), ex-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária. Entre eles, a flexibilizaç