Ascensão e queda da Carioca

O charme do "Café do bom, cachaça da boa"

A Rua da Carioca se mantém no quadro de decadência que impera no Centro do Rio. No ano passado fiz uma reportagem sobre ela para o Jornal do Brasil – em seu curto retorno ao papel. De lá para cá, a situação só fez piorar.
 A via começou a surgir no remoto ano de 1697 como um caminho ao pé do Morro de Santo Antônio. Ali, a Ordem Terceira de São Francisco ergueu um hospital, demolido na reforma de Pereira Passos de 1905, quando seu lado ímpar passou a reunir conjuntos neoclássicos e, do lado par, os ecléticos, todos tombados.
 Dos tempos áureos, quando por ali circulava o high society carioca, restaram o Cinema Íris, hoje um pornô com shows de striptease, e o Cine Ideal, transformado numa elegante Maison Leffiè, casa de festas retrofitada no melhor estilo Belle Époque. Seu grande atrativo na época, a cúpula que abria para refrescar o ambiente, assinada por Gustave Eiffel – o mesmo da torre – porém, está desativada.
Outro point que atravessou o século foi o Bar Luiz, desde 1927 no endereço, que volta e meia anuncia o fechamento e a cada um desses movimentos volta a renascer das cinzas. Predomina ali um curioso e eclético comércio, lojas de malas, bolsas e mochilas; de instrumentos musicais, agências bancárias e de Correios, de material de construção, roupa masculina e bares.
 Em meio ao esvaziamento generalizado – o número de lojas fechadas quase empata com as abertas - também sobrevive a Casa do Choro, instalada no castelinho mouro, de bela e bem conservada arquitetura. Outro campeão da resistência é o charmoso “Café do bom, cachaça da boa”, um mix de bar, restaurante, sebo com roupas indianas, sociedade entre a arquiteta Lucy Galindo, e seu filho, Yansel Galindo. O sobrado tinha uma extensão até a Confeitaria Cavé, na Rua Sete de Setembro, que logo passou a competir com a Confeitaria Lalê, onde hoje está o café. “Havia a brincadeira, quem vê de cá, vê; quem vê de lá, lê”, diverte-se Lucy.
A maldição da Carioca se deve ao Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário que, em 2012, adquiriu 18 casas para transformá-las em um shopping que manteria as fachadas tombadas. A autorização para a obra não sai e o altíssimo aluguel cobrado pelo fundo inviabilizou o comércio local. Soma-se a isso um total abandono pelo poder público. Será que ainda tem jeito?

Fachada do Cine Iris

A Maison Leffiè e a cúpula desativada

Casa do Choro no castelo mourisco




 

Comentários

  1. Caramba! Não sabia que o Opportunity estava por trás de tanto imóvel fechado na Carioca. Que absurdo! Banco não se importa com nada que não seja o próprio lucro. A cidade que se dane! Passei lá a pé pra ir comprar ingresso no Carlos Gomes, está o ó.

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  2. Essa do Opportunity proprietário ganancioso eu não sabia.
    Triste, a cidade perde e os comerciantes locais também

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  3. Adoro teus textos Celina ! Sempre aprendo muito com eles
    São saborosos , leves e cheios de conteúdo
    Quero sempre mais 😍

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  4. Continuarei a me esforçar, e a me divertir!

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