Cruzada ambiental
Era o
início dos anos 1980, quando fui enviada ao Vale das Flores, em Visconde de
Mauá, para fazer uma reportagem recomendada para o Jornal do Brasil. Adorei a
pauta, porém, estranhei como um assunto nessa lonjura poderia ter caído neste
tipo de exigência: recomendadas eram as reportagens que, por algum motivo, interessavam
ao jornal e teriam de ser feitas de qualquer jeito.
Fui
escolhida porque a chefia já sabia o quanto eu era apaixonada – e conhecedora –
da região. Teria de denunciar o descuidado traçado na linha de eletricidade que
passaria a ligar Mirantão e Maringá, atravessando os bucólicos vales das Flores e
Alcantilado. Era uma região onde predominavam as grandes propriedades de gado
leiteiro, algo que, já naquela época, não era dos mais rentáveis.
Quando
cheguei conheci Lino, jovem ambientalista que trocara a carreira diplomática,
para a qual já havia adquirido considerável bagagem, pela vida de bicho grilo.
Com a devida dedicação às causas ligadas à preservação e sustentabilidade.
Circulamos de carro pela região e Lino apontava, indignado: “Está vendo essa
árvore? Vai ser derrubada desnecessariamente por uma linha traçada dentro de um
escritório, sem a menor preocupação ambiental!”
A essas alturas eu já estava totalmente
envolvida com a causa. Argumentava, contudo, na tentativa de fazer um trabalho convincente: “Tudo bem, mas preciso de imagens de devastação para provar os danos
deste projeto!”.
Só sei que Lino acabou por encontrar as tais imagens que eu precisava. Na volta, ouvi o outro lado e a
reportagem foi publicada. O melhor, para meu orgulho, é que influenciou no
traçado da futura rede – sonho dos proprietários locais, que se lixavam para
aqueles tipos de danos e deviam odiar aquele ambientalista de plantão.
Tempos depois
descobri por quê pauta tão inusitada virou “reco”, como chamávamos, com desdém, na época. Se bem que, naquele caso, atendeu meus interesses profissionais
e pessoais. A mãe de Lino era amiga da condessa Pereira Carneiro, a responsável senhorinha que dirigia o JB, viúva do conde que fundou a empresa, e misturava refinamento com compromisso jornalístico. Duas das facetas que envolviam o tema em si.
Hoje os dois vales conservam o jeitão alternativo e Lino, com seus cabelos brancos, se mantém firme na sua cruzada ambientalista.
Entrada da RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural) de Lino
Mecânico e borracheiro do Vale das Flores
Fazenda das Flores, que virou restaurante
Celina, foram boas lutas que tiveram seu resultado e o JB ajudou muito na época. Sofri muitas ameaças e sem esse apoio o pior poderia ter acontecido. Agora, infelizmente a estrutura de defesa e fiscalização ambiental está desmontada e inerte.
ResponderExcluirInfeluzmente, quando ela é mais necessaria!
ResponderExcluir