Gênese do Big Brother
Foto Marcos Tristão
Uma das
coisas que mais me fascinou quando estudei Michel Foucault (1926-1984) na faculdade, foi
a palavra pan-óptico. Ela integrava o “sistema disciplinar” classificado pelo filósofo com o que passou a permitir, a partir do século XVIII, uma vigilância
cada vez mais eficaz (“Vigiar e Punir”,
de 1975), como base da sociedade de controle. Qual não foi minha surpresa ao
descobrir que existe no Rio um exemplar deste sistema?
No ano
passado fiz uma reportagem para o Jornal do Brasil sobre as obras realizadas no
Instituto de Atenção à Saúde São Francisco de Assis, unidade que passou anos
pichada e semi-destruída na Avenida Presidente Vargas. Em dezembro passado as
obras, iniciadas 10 anos antes, estavam 80% concluídas. Pelo andar daquela
carruagem, suponho que até hoje não tenham terminado, embora, àquela altura, já
houvessem resgatado o grosso dos prédios de estilo neoclássico, administrados
pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis, formada por leigos.
O sistema
pan-óptico, criado em 1785 pelo jurista inglês Jeremy Bentham - que permitia o
policiamento de um presídio por um único vigilante, sem ser visto pelos presos –
, instalado na torre 5 do gigantesco complexo de 4,8 mil m², já estava
concluído, embora seu uso, como tal, não volte a ser necessário.
Tudo começou com a
inauguração do Asylo da Mendicidade, em 1849, para receber três grupos
marginais num mesmo saco de gatos: os pobres, bêbados, drogados, loucos e
ladrões. O asylo integrou o tripé: Casa de Correção, na Rua Frei Caneca, primeiro presídio do país,
inaugurado em 1852; e o Hospício Pedro II, na Praia Vermelha, também de 1852.
No fim
do século XIX, começou a segunda etapa da obra na então Visconde de Itaúna, hoje
Presidente Vargas, com a construção de mais três prédios que configuraram o
sistema pan-óptico. Bentham e Foucault jamais podiam supor o que viria pela frente, a partir
do controle exercido por celulares, Internet e câmaras all around, na sociedade big
brother do século XXI.
É bom manter
essas informações bem longe do presidente, que adora retomar as experiências do
passado, sobretudo na área da repressão e controle.
Que beleza de pesquisa de resgate minha amiga !
ResponderExcluirVigiar e punir .... ou acolher e manter a liberdade e as redes vivas de sociabilidade !!
Mudança de paradigma que resiste aos bárbaros há muito , com um vigor espantoso .
Obgada mais uma vez !
Pior é que continua atual!
ResponderExcluirSem dúvida !
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