Estrela da Baía de Guanabara
Qual deve ter sido o desbunde dos portugueses ao entrar, a bordo das caravelas, na Baía de Guanabara, e se depararem com o formato pontiagudo da enorme pedra cercada de Mata Atlântica, depois batizada de Pão de Açúcar? Seria deles a autoria do nome, inspirados nos blocos de açúcar transportados para a Europa em uma forma de barro cônica, durante o apogeu do cultivo da cana-de-açúcar?
Ou foi dos tamoios o batismo, que a chamavam de “Pau-nh-açuquã”, ou morro alto, isolado e pontudo, no idioma tupi? O que importa? A rigor, nada. O fato é que a pedra, com seus 396 m, continua a encantar cariocas e visitantes de todos os costados e se mantém na liderança – ao lado do Corcovado – entre as maiores atrações turísticas da cidade. Que não são poucas, em matéria de natureza.
O nome Pão de Açúcar pegou mesmo a partir da segunda metade do século XIX, quando o Rio recebeu as missões artísticas do alemão Johann Moritz Rugendas e do francês Jean Baptiste Debret, capazes de reproduzir o fascínio da pedra que poderia ser mais uma divindade para os índios politeístas. Beleza que se tornou acessível, com as deslumbrantes paisagens de quem a sobe, há 107 anos, desde a inauguração do bondinho, em outubro de 1912.
Hoje a pedra continua em todas, ajudou, até, a viabilizar o Festival de Cinema do Rio, cuja edição de 2019 quase foi cancelada por falta de recursos – como quase tudo que acontece na cidade, da Saúde à interdição de vias como a Niemeyer, Paineiras e Vista Chinesa – e acabou brindado pelo patrocínio do bondinho, entre outros, em meio ao desprezo à cultura por todas as esferas do poder público.
A beleza irradia da Praia de Botafogo à Pista Cláudio Coutinho, que capta a forte energia entre o mar e a montanha. E se eu passei a década de 1980 correndo nas igualmente belas Paineiras, respirando o ar da floresta, em 2017 baixei à planície do litoral e elegi o percurso de 8 km da Praia de Botafogo à Cláudio Coutinho como predileto. Predicados não faltam.
São 1,25 km ao pé do Pão de Açúcar, de onde a pedra pode ser avistada dos mais inusitados ângulos, ao som das ondas que quebram na rocha e do canto dos passarinhos. De março a maio, frequentada pelas borboletas azulonas.
Já escalei, quase uma caminhada, pela parte frontal, à exceção de um trecho que requer cordas, para escrever sobre as orquídeas endêmicas que brotam por ali. Onde mais eu poderia encontrar tanta maravilha?
Um lugar especial para admirar e recarregar as baterias.
ResponderExcluirAdorei , Celina!
Quem é?
ExcluirQue coisa mais bela, potente, inspiradora esse seu cantinho de exercícios poéticos!
ResponderExcluirDelicia de comentario literario!
ExcluirGosto de ir para lá de bicicleta, também, saindo de onde moro, em Laranjeiras e depois fazer o percurso da Cláudio Coutinho a pé. Uma delícia!!!
ResponderExcluirQue bom que vc tb aproveita tanta beleza!
ExcluirMinha referência de Rio desde que acordo quando olho pela janela me deparo com ele brilhando contra o céu azul ou semi encoberto pelas nuvens que anunciam ou prenunciam chuva. Adoro caminhar pelo aterro pela praia de Botafogo nos finais de semana . Lindo e poético este convite seu para sair da inércia. Obrigada Celina.
ResponderExcluirObrigada por esse delicioso comentario!
ExcluirCelina , teus olhos apaixonados pelas belezas dessa cidade , me enchem de alegria e esperança por tempos mais luminosos , por um poder publico q é eleito e pago por nós , decente e competente !
ResponderExcluirSeguindo vc e tuas estorias deliciosas