De volta ao Mirante



Hoje resgatei meu mais nobre passeio: a subida ao Mirante Dona Marta. Percebi que a patrulhinha desaparecera do local e os guardas florestais confirmaram uma redução do policiamento. Isso antes de Witzel, aquele que manda atirar na cabecinha. Agora, porém, fui beneficiada por mais segurança na Floresta da Tijuca, como me confirmou outro assíduo. Ótimo, posso voltar.
Começo pelo Cosme Velho e encaro o final da rua de mesmo nome, uma íngreme ladeira de paralelepípedos que não é para qualquer um. Por alguma razão que eu mesma ignoro, sempre gostei de subir ladeiras. E se esse primeiro trecho é um massacre, o segundo, a partir da Professor Mauriti Santos, também não dá refresco: pau puro, até chegar à Almirante Alexandrino.
A partir daí, a floresta mostra sua cara, com perfumes sutis e canto de passarinhos disputando com o das cigarras. A mata naquele trecho, contudo, é dominada pelas exóticas jaqueiras que, apesar de roubarem o espaço das espécies da Mata Atlântica, também têm sua beleza, com aqueles gigantescos frutos dependurados. Os macacos fazem a festa.Os avisos de animais silvestres na pista são para valer, como constatei com o macaco que parecia posar para fotos. Delicadas avencas tomam os muros das raras residências.
Ao passar do totem da Floresta da Tijuca, totalmente restaurado, a mata se adensa e as jaqueiras praticamente somem. Alívio, em tempos de queimadas na Amazônia, se deparar com toda aquela exuberância, copas amareladas dos Guapuruvus em destaque. O aquecimento global, entretanto, cobra seu preço com o ar pesado e abafado, com umidade digna da Região Norte. A ausência de chuva da última semana embaça o horizonte e não permite a visão da Serra do Mar no primeiro quilômetros de subida. Mesmo assim, a imagem do Cristo se descortina, absoluta.
A ladeira dá uma trégua no acesso ao mirante, entretanto, a subida logo recomeça, com aquelas bicicletas brancas impressas na estradinha que fazem lembrar a roubalheira das Olimpíadas.  Sempre opto pela vista do heliporto, único no mundo onde os helicópteros são proibidos de pousar.
Beleza estonteante, do Cristo ao Pão de Açúcar, passando pela Pedra da Gávea, Morro Dois Irmãos, praias de Ipanema e Copacabana e Lagoa Rodrigo de Freitas. De deixar qualquer gringo de quatro. Pena é a sujeira espalhada pelo chão, colada às latas de lixo, atestados da ausência de investimentos na Educação.
Sigo pela Almirante Alexandrino em direção a Santa Teresa na descida, com asfalto que promete tombos homéricos para o corredor que não prestar atenção aonde pisa. Os adoráveis grafitis de Smael, que lembram as garatujas abstratas de Joan Miró, necessitam urgentemente de manutenção.
Já a beleza e imponência da gigantesca figueira, verdadeiro avatar, continua reinando absoluta. Volto - não sei a quilometragem, percorrida por cerca de duas horas - pela aprazível Rua Júlio Ottoni, moradia da minha querida amiga Beth, onde a prefeitura não se digna a botar uma placa indicando que a ilustre ocupante da casa 495 foi a ilustradora botânica Magareth Mee (1909-1988).


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