Antídoto à obsolescência

Pinto no lixo nas Paineiras, 40 anos depois
Em 1980, quando comecei a transformar a Estrada das Paineiras no quintal das minhas corridas que passavam a ser diárias, usava uma sandália de plástico azul. No dia em que botei um tênis Adidas (nacional) nos pés saltei dos 4 km para 8 km. Na própria pele, constatava a importância da tecnologia para a prática do jogging.
Apesar da eterna preocupação  em economizar da jornalista então no começo de carreira, evoluí para o New Balance e para o Nike. Me lembro a sensação indescritível que foi entrar há mais de 35 anos numa loja da Nike, em Nova York, e sair dali com dois tênis que me conduziram aos céus.
Doze anos depois, troquei a corrida pela caminhada e me mantive fiel aos tênis de qualidade, quando minhas filhas me sugeriram experimentar o Asics. Outro salto de qualidade, já na faixa dos 50, quando aos poucos retomei as corridas, turbinada pela confiança proporcionada pela musculação. 
Um dia encontrei casualmente em uma banca de revistas um corredor que via pelas ruas. Com jeitão de guru indiano que descobri se tratar de um cearense, ele me falou do poder do gel nos tênis Asics. “São caros, mas valem o investimento!”.
Declinei, até que minha filha me presenteou com um desses no meu aniversário, em junho de 2019. Outro voo ao céu, dessa vez sem escalas. Difícil explicar o efeito: parecia que meus pés corriam sozinhos. Nesse meio tempo, percebi que o Asics que tinha anteriormente furou exatamente na altura da unha do meu dedão direito. Como assim?
Seis meses  depois o super tênis, embora mantivesse o solado perfeito, furava no mesmo lugar. Não custei a perceber o óbvio: aquela tecnologia perfeita tinha uma séria falha ao consumidor, redenção do comerciante: a obsolescência programada, ou precoce.
Me lembrei dos tempos de Colégio São Vicente, onde ouvi essa expressão pela primeira vez : uma arma do sistema capitalista para nos obrigar a comprar compulsivamente. Teoria da conspiração que caía como luva aos jovens de esquerda, como eu, sempre na busca de antídotos aos rigores da ditadura militar, na época a todo o vapor. Só que dessa vez eu mesma achei esse antídoto: um pequeno pedaço de helanca achado no armário, agulha e linha. Subverti a obsolescência: meu tênis ficou novo, sem que eu gastasse sequer um tostão!
(A partir deste domingo vou interromper minhas atividades de blogueira porque vou para um mato sem Internet. Na quarta-feira de cinzas estarei de volta!)
Solado, com gel, perfeito

Remendo subversivo
Mesmo buraco, ainda não remendado


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