Reflexos do isolamento

Edward Hoppe, pintor do isolamento
Não apenas os motivos econômicos têm levado as pessoas à loucura durante o isolamento. Esta única vacina até agora disponível contra a Covid-19 também pode causar significativos e duradouros danos psicológicos, revelam estudos de renomados cientistas, como o argentino Facundo Manes, fundador do Instituto de Neurociências da Universidade Favaloro, em Buenos Aires. Enquanto o planeta está paralisado pela pandemia, contudo, os neurocientistas trabalham freneticamente.
Após o estupor inicial das primeiras semanas de quarentena, as pessoas já incorporam hábitos em seu cotidiano, como a cuidadosa e frequente lavagem das mãos. Junto a isso, porém, vieram a depressão, insônia e ansiedade, afirmou Manes ao jornal O Globo. “Resultados preliminares de investigação por nossa equipe revelaram mais de um terço acima de 10 mil pessoas com relevantes estados depressivos e ansiosos”, contabilizou.
O especialista menciona uma recorrente estratégia de ‘reavaliação’ do cérebro para lidar com este tipo de situação. “Oscilamos entre pensamentos catastróficos, tipo, ‘morreremos todos’, a outros quase irresponsáveis, como ‘nada vai acontecer’. A reavaliação pode levar a posições mais equilibradas, como, ‘estamos diante de uma séria ameaça e devemos nos cuidar para permanecer seguros’.
Do alto dos meus 63 anos, amparada pela involuntária estadia em casa desde 2019 depois de ficar desempregada, posso dizer que cheguei bem rapidamente a esse terceiro estágio a que o neurologista se refere. Meu isolamento, que não é solidão, tem sido facilitado pela companhia do meu marido que, nos últimos cinco anos, se mudou para São Paulo e só vinha ao Rio nos finais de semana.
Outras vantagens a meu favor são o fato de morar no final de uma ladeira que fica no final de uma rua, isolada em plena cidade, com vista estupenda. Outra é a tendência que sempre tive à autodisciplina e à rotina, que me levam a madrugar e fazer uma caminhada intensa de um hora pelas desertas ladeiras ao meu redor, o que areja a cabeça e exclui o risco de quilos extras, mesmo comendo de tudo.
Vista da janela
Além de viver da aposentadoria que antes não pagava minhas contas e agora quase empata, com essa forçada restrição aos hábitos de consumo. Fora a preocupação com o que vai passar e já está passando o povo brasileiro, o estupor diante do despreparado que nos preside e na contramão dos estudos neurológicos, não tenho do que reclamar. E você?
O neurocientista argentino Facundo Manes


    

Comentários

  1. Hoje eu decidi que vou sair de manhã bem cedinho , para caminhar. Está fazendo falta.
    No mais , sigo bem, com algumas horas difíceis de levar. Não é novidade.

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    1. Posso te sugerir uma caminhada com pouca gente: andar ate o Parque Guinle, subir e descer pela Pereira da Silva. Tem estado bem vazio!

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  2. Surpreendentemente estou reagindo bem ao isolamento. Talvez os anos de desempregada tenham me preparado para esse momento. Nem a falta de renda tem me abalado. Antes da pandemia, por incrível que pareça, era mais preocupante. A angústia de não ter trabalho e ter que ficar buscando freelas e bicos era meu despertador todas as manhãs.
    Parece que a ficha caiu: não tenho controle de nada.
    Agora espero pacientemente pelo fim de tudo isso, enquanto sigo cumprindo o que me cabe nessa hora: cuidar dos meus pais.
    Ando mais preocupada com o país, rumo a um fascismo cada vez mais acirrado.
    Que Deus nos proteja e cada um tenha a responsabilidade de fazer o seu melhor.

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  3. Pois é, aqui temos a pandemia e o pandemonio...

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