“Nossos velhos são nosso maior tesouro”

Aldeia esperança, dos povos Yawanawá

Com subnotificados óbitos de pelo menos 23 índios pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), somados a outros 103 (até abril) pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Bruna Mello, da Agência de jornalismo independente Amazônia Real, traz luz ao horizonte. O cacique da aldeia Nova Esperança, Biraci Brasil Yawanawá, decretou bloqueio total – lockdown – à circulação entre os mais de 370 moradores da aldeia e a cidade de Tarauacá, a 400 km da capital, Rio Branco (AC). O líder indígena também mandou fechar o único acesso à aldeia, pelo rio Gregório – viagem que leva de cinco a oito horas em voadeira com motor de popa -  com troncos de árvores.
Ao contrário do nosso eugenista presidente Bolsonaro, o cacique considera os anciões da aldeia os guardiões dos saberes. “Para nós, povos Yawanawá, se perdemos nossos velhos, perdemos nosso maior tesouro. A única forma que encontramos de dizer para o mundo que estamos preocupados foi fechando o rio”, declarou.
Biraci sabe que o lockdown previne a doença, sabe, também, que as comunidades sofrerão com a falta de mantimentos. Essa ameaça foi contornada, porém, pela decisão da aldeia de plantar mais e aumentar a produção para evitar desabastecimento. “Agora, mais do que nunca, vamos precisar plantar muito. Buscamos encontrar uma estratégia para depois trazer, de forma segura, esses alimentos às nossas aldeias. Mas, enquanto estivermos nos sentindo ameaçados, vamos manter fechado”, ratificou o cacique.
A medida preventiva de Biraci foi tomada depois que a prefeitura de Tarauacá confirmou casos de coronavírus – até o último fim de semana eram 34 - entre não indígenas na cidade. Até então, o cacique havia cancelado eventos de canto, dança, cerimônias de cura e a presença de visitantes não indígenas. Grupos de indígenas também têm percorrido as aldeias para orientar sobre prevenção.
Cacique Biraci Brasil Ywanawá

Conforme o Ministério da Saúde, o estado do Acre notificava 2.234 infectados e 67 mortes na última segunda-feira (18).“Com essa situação não teve outro jeito. Estamos correndo muito risco e, se isso chegar aos nossos povos, pode virar um colapso, um massacre total”, avaliou Biraci.
Os indígenas estão receosos, contudo, porque a assistência médica, remédios e unidades de saúde estão em Tarauacá.
A reportagem de Bruna, publicada no site Colabora, informou ainda que até a última segunda-feira a Sesai contabilizava 402 casos confirmados do coronavírus entre indígenas aldeados e 23 mortes. Conforme boletim do Ministério da Saúde, são 151 indígenas - sem detalhar a etnia - “com infecção ativa, que ainda não completou 14 dias em isolamento domiciliar, a contar da data de início dos sintomas, ou, em caso de internação hospitalar, que ainda não recebeu alta médica”.
Sobre as políticas públicas do atual governo para os povos indígenas, Biraci Brasil Yawanawá lamenta: “É só para dizer que existe. Há um descaso e fragilidade no cuidado com os povos indígenas.” A liberação do garimpo em áreas indígenas e a crescente destruição da Floresta Amazônica fazem parte desse sinistro contexto.

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