Tragédia anunciada


Moro perto do Palácio Laranjeiras e, como jornalista que sou, tenho aguçado senso de observação. Me lembro bem do estardalhaço de helicópteros sobre a residência do governador quando Garotinho foi preso. Ok, agora, quando a Polícia Federal lançou a Operação Placebo, que pode levar à prisão de Wilson Witzel, não poderia ser diferente. Por que será, contudo, que ontem e hoje, às 6h, o ruído dos helicópteros da PF voltava a fazer barulho naquelas imediações? Fico imaginando os policiais acatando as ordens do presidente de exagerar na performance, embora pela Constituição a Polícia Federal não seja órgão do governo, mas do Estado.
Especulação não infundada. A investigação que corre para apurar as interferências de Bolsonaro na PF está na mesa, com a obviedade da imediata troca do diretor geral, do superintendente do Rio e da troca de mais 100 cargos na corporação. Ok, tudo indica que – como seus antecessores – Witzel errou, com gravidade acentuada pelo dramática crise sanitária da pandemia. Porém, além da possibilidade de arrastar o antigo aliado e atual inimigo ao banco dos réus, nada mais conveniente a Bolsonaro do que afastar seu nome das manchetes negativas, nuvem de fumaça semelhante à preconizada por seu incendiário ministro do Meio Ambiente.
Em meio à tragédia que se avizinha, de ter um errático presidente conseguindo pelas linhas mais tortuosas concentrar cada vez mais o poder, ainda somos obrigados a conviver com a sina do Rio de Janeiro. Tudo indica que o homem que saiu do anonimato insuflado pelas estratégias do clã Bolsonaro e já chegou ao poder anunciando que seus snipers mirariam na cabecinha –  na linha da violência miliciana que ganha cada vez mais espaço -  está com seus dias contados. Confesso que o horror que senti pela criatura tinha até se amenizado quando o feitiço virou contra o feiticeiro, no caso, o alinhamento a Bolsonaro.
Depois de Garotinho, Rosinha, Moreira Franco, Cabral e Pezão, o cargo de governador do estado do Rio parece uma praga. Nesse momento, agravada por circunstâncias que apressariam ainda mais esse desfecho, inciado antes do circo ser montado, palhaços mal entrando em cena. O mais grave é que ninguém se diverte nesse nefasto cenário, muito pelo contrário. Morre mais gente do que devia pelo coronavírus, tanto pela incapacidade do presidente de exercer o cargo, quanto pela ganância do governador de se dar bem a qualquer preço, mesmo encurralado pelo pandemônio.
E nada como um dia atrás do outro. Talvez a tal interferência do presidente sobre a PF ainda não tenha contaminado todos os braços do órgão de Estado, como sugeriu a operação montada ontem em torno dos bolsomínions...
Palácio Laranjeiras, obra que levou o empresário Eduardo Guinle à falência


Comentários

  1. Depois de Garotinho, Rosinha, Cabral, Witzel, talvez fosse melhor fazer a eleição pra governador do RJ por sorteio. Talvez desse mais certo

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    Respostas
    1. Com a educação andando para trás e essa maré de fake news não sei onde vai parar

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  2. Será que um dia ainda vamos aprender a votar?

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