A história se repete


Há cem anos, ao meio dia de 21 de novembro de 1918, soaram as sirenes em São Francisco, nos EUA. Era o anúncio do fim do confinamento e o convite à volta à normalidade. Fora um árduo ano de sacrifícios, sob as duras medidas adotadas para conter a gripe espanhola, que matou 50 milhões de pessoas no mundo. A Primeira Guerra acabara dez dias antes e a população saiu às ruas, cheia de motivos para comemorar. Ninguém aguentava mais o isolamento. Todos voltaram eufóricos aos restaurantes, aos teatros e jogaram suas máscaras no lixo. Festejavam a vitória à mais mortal pandemia que até então já atingira o planeta.

São Francisco fora das primeiras cidades americanas a se submeter ao distanciamento e ao uso obrigatório de máscaras. Só que poucas semanas após aquele relaxamento os casos e as mortes voltaram a subir. E quando as autoridades tentaram reativar as medidas obrigatórias de prevenção, que ninguém aguentava mais, começaram os protestos. A “Liga-Anti-Máscaras” - cuja existência já mostrava a resistência a medidas tão impopulares - , reagiu duramente. As autoridades não conseguiram retomar o controle e a população passou a se recusar a voltar ao isolamento. O resultado foi dramático: São Francisco se tornou a cidade mais atingida pela pandemia no país, com 45 mil novos casos de infectados e 3 mil óbitos.

Enquanto isso, em Los Angeles, a apenas 600 quilômetros, as autoridades e a comunidade médica mantiveram a exigência do uso de máscaras para conter o vírus. Foi instituída uma “semana de limpeza”, que promoveu uma desinfecção geral na cidade, além de limites ao horário de funcionamento do comércio. A “semana para ficar em casa” teve baixa adesão e igrejas chegaram a abrir, à revelia das ordens.

Em dezembro, as restrições foram flexibilizadas e as escolas reabriram. O resultado foi mais uma trágica retomada da doença, que passou também a infectar as crianças, o que obrigou a um novo fechamento das escolas. Até que o governo conseguiu aprovar um pacote de apoio financeiro e uma nova ordem de quarentena para conter a pandemia.

Cem anos depois a história se repete. As ondas vão e voltam, conforme o humor das autoridades e da população. Naquela época, o único remédio foi o isolamento, sequer havia antibióticos. Agora, o planeta aguarda, ansioso, a criação da vacina para acabar de vez com esse pesadelo. Enquanto isso, a única proteção é ficar em casa.    

  

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