Decifrando a política

Carlos Lacerda, paladino anticorrupção
Ademar de Barros, o rouba mas faz

No início, o governo Bolsonaro unia militares, lavajatistas, olavistas, evangélicos e liberais de mercado. Os olavistas eram os animadores de torcida e, com sua expertize em redes sociais, empurraram o governo para a extrema direita. Já o lavajatismo servia para limpar a imagem de um governo radical perante a classe média urbana conservadora. Um encaixe imperfeito. Como bolsonaristas e lavajatistas tinham antipatia pelo PT, se aliaram. O lavajatismo, porém, criava um problema para o presidente: é odiado pelo Centrão, por seus métodos para eliminar o fisiologismo.
Sem base no Congresso e sem conseguir negociar com o Centrão, Bolsonaro passou o primeiro ano e meio mergulhado na instabilidade, até avistar a possibilidade de impeachment. Tentou então dar um golpe de estado, só que os militares não toparam.
Tanto o lavajatismo quanto o Centrão representam um revival da política brasileira. O governador de São Paulo, Ademar de Barros, representava o populismo do rouba mas faz, voltado aos mais pobres, enquanto o governador do Rio, Carlos Lacerda, igualmente populista, atraía a classe média conservadora. O lavajatismo é o lacerdismo, com a marca de anticorrupção de Moro. Como os Bolsonaro estão imersos na lama, os bicudos não se bicaram. Não poderiam se afinar.
Lacerda era contra Getúlio, seu PTB, e também contra a corrupção ostensiva de Ademar. O lavajatismo é antipetista e também anticentrão. O mesmo mecanismo. Se o Centrão só quer conquistar cargos, ele pode abandonar Bolsonaro e aprovar o impeachment. Como foi com Dilma. Se o objetivo é evitar Moro presidente, porém, o Centrão fica até o fim.
Em 1964 Lacerda participou das conspirações, apostando que os militares arrumariam a casa e entregariam o Brasil em 1965. Não foi o que se viu. Como Lacerda, Moro achou que ia se dar bem, só que se viu usado e pulou fora. Na ditadura, os militares se perpetuaram no poder com a Arena, cujo perfil político equivalia ao do Centrão. A história se repete.
Agora, militares e Centrão mandam no governo. Bolsonaro calou a boca. A ‘direita lacerdista’ tenta se organizar, com Moro, Mandetta e João Dória. Quando Bolsonaro torna seu governo antilavajato, o Centrão o estabiliza, só não suporta a confusão dos olavistas, promovidos e relegados ao segundo escalão. Ou seja, mudam as coalizões para o reequilíbrio das forças. Nisso, Bolsonaro perde as elites e o auxílio emergencial segura sua popularidade junto aos mais pobres.
Resta saber se Paulo Guedes vai abrir mão do seu liberalismo e arrumar dinheiro para a renda mínima que segura a adesão dos mais pobres. Quem viver, verá. (Fonte: Meio, com Pedro Dória).


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