O milagre da cloroquina


Quando Bolsonaro pegou a Covid-19, coincidentemente em uma de suas fases paz e amor, era imprevisível o que iria acontecer. Se a doença se agravaria, se ele enfim se recolheria e aposentaria sua verve perversa ou voltaria a elevar o tom e a beligerância contra os inimigos. O que se viu, até agora, foi não nem uma coisa nem outra.

De imediato, o presidente aproveitou-se da falta de gravidade da doença em seu organismo e do privilégio de não ter sido acometido pelos sintomas que acabaram levando a internações hospitalares e ao óbito de mais de 72 mil brasileiros, causado pelo coronavírus. Manteve firme e forte sua campanha para detonar o isolamento: “O vírus é como chuva, um dia vai atingir você”, alardeou nas  redes sociais com sua habitual inconsequência.

Como se não bastasse, Bolsonaro passou a encarnar o papel de garoto propaganda do medicamento que já derrubou dois ministros da Saúde no país, considerado não apenas inócuo pela ciência no combate à Covid-19, como perigoso por seus efeitos colaterais, que levam Bolsonaro a se submeter a dois exames cardiológicos diários. “Eu confio na hidroxocloroquina, e você?”, propôs em vídeo nas redes, concluindo, “valeu, tamo junto!”. em seu exemplar português.

O medicamento, inicialmente aplaudido por Trump, depois não apenas banido pelo mesmo, como descartado por ele na providencial exportação dos estoques encalhados ao mui amigo Bolsonaro. Os ministros que não concordaram com o presidente em incluir o remédio nas recomendações do SUS e caíram por isso, foram interinamente substituídos pelo obediente militar que não titubeou em seguir as ordens do chefe, em meio à mais grave crise sanitária enfrentada pelo país e pelo mundo nos últimos séculos.

O que talvez muita gente sequer desconfie são os reais motivos da insistência de Bolsonaro em bater tanto na mesma tecla. Essa brincadeira com a vida alheia se deve aos mais de R$ 1,58 milhão gastos pelo Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército para multiplicar por cem o volume de fabricação da hidroxocloroquina, até então usada no combate à malária e doenças degenerativas.    

Fora isso, o governo importou dois milhões de doses do medicamento e está com um estoque que levará 18 anos para ser escoado, conforme a Revista IstoÉ. Isso sem falar no generoso apoio dado pelo presidente ao empresário bolsonarista Renato Spallicci, cujo laboratório, Aspen, triplicou em abril a produção de Reuquinol, à base de cloroquina, surfando na onda criada por Bolsonaro, que não se incomoda em afogar nela os brasileiros, estes sem outra opção senão embarcar nessa canoa furada.

Comentários

  1. Tristes trópicos onde o presidente é menino propaganda de remédios que em nada contribuem e onde médicos distribuem " kit covid" ...em outros tempos o nome para pessoas assim era charlatāo

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