Pessoas erradas no lugar errado

Não foi só o negacionismo de Bolsonaro, ou o afastamento de dois ministros da Saúde no auge da pandemia do coronavírus que ajudam a explicar os mais de 81 mil mortos e estatísticas acima de dois milhões de contaminados no Brasil. Dos R$ 39,9 bilhões disponibilizados ao ministério da Saúde para combater a Covid-19, foram gastos apenas R$ 11,7 bilhões, ou 30,1% dos recursos.
Quando se fala na falta de equipamentos essenciais pelo país afora e até de remédios, como anestésicos – sem os quais é impossível entubar um paciente -, como explicar que havia recursos para isso, só que eles não foram usados?
Independente de seu (des) conhecimento sobre medicina, se há uma qualidade que poderia se esperar do ministro interino, Eduardo Pazuello, seria a sua capacidade de estrategista. Parece que até nisso ele falhou. Sem falar na ausência de planejamento ou na coordenação das ações das secretarias estaduais e municipais para combater a doença.
O Tribunal de Contas da União (TCU) deu até duas semanas a Pazuello para prestar esclarecimentos sobre essa distorção, que incluiu outra crítica grave à gestão, ou à falta dela: a ausência de critério na destinação dos recursos aos estados, de acordo com suas respectivas necessidades. Tal falha configuraria a possível troca de favores entre os amigos e a sabotagem aos inimigos. Chamou a atenção do tribunal, por exemplo, o fato do Pará e do Rio de Janeiro, quando ocupavam a segunda e a terceira maior taxa de mortalidade por Covid-19, serem dois dos três estados do país que receberam menos recursos per capita para combater a pandemia.
Na última terça-feira, o general foi chamado ao Senado para se justificar, e alegou que os valores estavam separados para serem usados e que houve “dificuldade” para a compra de equipamentos de proteção individual (enquanto isso morriam médicos e profissionais de saúde), para a contratação de leitos de UTI e ainda para conseguir ventiladores pulmonares. Que dificuldades justificariam a aquisição de equipamentos tão essenciais neste momento, ainda mais com os recursos já disponíveis?
O próprio Pazuello admitiu que, apesar da liberação de R$10 bilhões a estados e municípios, autorizados pela MP 969/2020, não foi pago um centavo sequer. Como explicar esse absurdo? Para piorar, o general disse considerar “bom” o ritmo das despesas. “É bom que tenha algum saldo para que a gente possa manobrar”, argumentou. Ele parece não se dar conta de que a morte não pode esperar.
A MP que autoriza a contratação temporária de profissionais da Saúde é outra que está estagnada, embora existam R$ 338 milhões para este fim  e o próprio ministério contabilize 441.437 profissionais disponíveis para botar a mão na massa nesse momento tão crítico. Alguma dúvida de que há pessoas erradas no lugar errado e na hora errada no Brasil?



Comentários

  1. Não. Não há dúvida alguma sobre esta comédia/ tragédia que tem sido a gestão da crise da saúde no Brasil. Aliais Educação, Cultura,Meio ambiente....

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  2. Essa tese de gente errada no lugar errado é mais ampla, deixa claro que não envolve apenas a saúde e sim o País: essa gente está errada no governo errado, no Brasil errado. Não cabe neste País. Os eleitores que elegeram esse estrupício estavam no lugar errado na eleição errada. Foi uma brincadeira de mau gosto que vai custar mais de 100 mil mortos a escolha de um bolsonaro que carregou para o seu desgoverno mais 3 bolsonaros todos ligados a crimes de várias espécies, rntre eles a milícia.

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  3. Não há dúvida alguma, Celina! Desatino criminoso.

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