Que venha o final feliz!

Goiabinha chocando atrás das grades

A novela do pandemônio no reino animal continua. Contei aqui sobre o drama shakesperiano vivido pelos cisnes do Parque Guinle, que acaba de ganhar um novo capítulo. No início da pandemia, durante minhas passagens diárias pelo parque anexado ao palacete que levou à falência o empresário Eduardo Guinle (1846-1919), felizmente aberto ao público a partir de 1940, observei, aflita, o desaparecimento dos três ovos chocados por Goiabinha – atual mulher de seu pai, Romeu, desde que Julieta, sua mãe, foi assassinada por um cachorro – drama incestuoso de final quase feliz.
Quase porque, ao contrário de Hamlet, a novela de Shakespeare, não existe incesto no reino dos cisnes. Embora sejam monogâmicos, eles não sofrem esse tipo de restrição, a mesma proibição que originou a cultura e a vida social tal qual conhecemos. E, drama para valer, porque descobri que os ovos teriam sido roubados por criadores para revender os futuros cisneszinhos, transferidos a uma chocadeira mecânica.
A novela continua porque houve uma dissidência entre os que, civilizadamente, têm se dedicado às aves que habitam aquela área hoje tão bem cuidada – ao contrário dos demais parques geridos por um alcaide que não gosta de trabalhar. Foi a partir da criação do grupo Abraça Aves que tudo começou. Como conheço os dois lados desse racha, prefiro não dar nomes aos bois para não criar suscetibilidades.
Soube, contudo, que a responsável pela doação do casal de cisnes original – denominado Romeu e Julieta não sob a nobre inspiração do bardo britânico, e sim pela dobradinha goiabada com queijo, cuja filha, para seguir a tradição gastronômica, ganhou o nome de biscoito recheado – havia se comprometido a proteger a mamãe gestante com uma cerca e câmeras de circuito interno. Parece,  contudo, que não há recursos para tanto, apesar da generosa oferta do Abraça Aves, que acabou recusada por razões que ignoro. Vaidade, ciúmes ou algum outro pecado capital.
Ontem vi que pelo menos a cerca, bem feiosa, embora necessária, foi instalada para preservar a privacidade de Goiabinha. Nada da tal câmara, por enquanto. Continuarei na torcida, contudo, para que a família possa se constituir dessa vez, que a mamãe curta em paz sua ninhada e Romeu – vaidosos como um pavão - possa festejar a continuidade de sua linhagem. Que dessa vez venha o final feliz!  
Romeu, o vaidoso futuro papai

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