Ainda sem alternativas para 2022

 






Não estamos só sem uma esquerda, perdemos também o nosso Centro moderador, que fazia o balanço doutrinário do jogo político. A conclusão é do cientista político da FGV, Jairo Nicolau, na entrevista dessa semana do Meio. Ele falou do livro que acaba de lançar, “O Brasil dobrou à direita”, onde radiografa os meandros que culminaram na eleição de Bolsonaro.

Após ler o livro, o próprio Pedro Dória, editor do Meio, resumiu sua interpretação da análise. O PT já havia perdido o apoio da classe mais alta e letrada, assim como dos universitários nas últimas duas eleições. A culpa foi a corrupção. Em 2018, ele perdeu também a classe média baixa, os analfabetos e os que chegaram ao ensino fundamental (isso antes do auxílio emergencial). Esse grupo votou contra o desemprego e a falta de segurança. Dobradinha, por sinal, que só fez crescer na atual gestão.

Para Nicolau, o PT e a esquerda perderam a capacidade de se comunicar com um crescente público conservador e evangélico – em 2010, estes últimos representavam 10% do eleitorado, agora são um terço. “O desafio é a retomada do mundo urbano, dos jovens universitários, até então território clássico do PT”, avaliou.

O PT, por sua vez, continua falando para um público que não existe mais: os sindicalistas e operários, agora substituídos pelo universo digital, dominado por Bolsonaro. O cientista político vê um crescimento do conservadorismo não só entre os evangélicos, como entre os católicos, judeus, kardecistas e a população em geral. “A esquerda tem na cabeça um Brasil que não existe mais”, diz.

Nicolau não ousa cravar que o fenômeno evangélico chegou para ficar, até por conta da infinidade de credos existentes sob essa mesma denominação. E lamenta que o papel do Centro seja equivocadamente preenchido pelo Centrão, que só se interessa pelo próprio umbigo.

Mais do que isso, ele lamenta o vazio de lideranças vivido no país. “Nossos líderes estão muito provincianos, pouco antenados, empobrecidos intelectualmente”. Como se vê, desde 2018 não se toca na agenda das mudanças climáticas, que tanto mobiliza as lideranças mundiais. O que ouvimos por aqui é a pobreza de ideias de Bolsonaro. Nem mesmo a pandemia foi capaz de mobilizar opiniões mais evoluídas.

Nesse caldeirão de decadência, Nicolau fala de outro fenômeno em ascensão, o mundo agro que, ao mesmo tempo em que combate o desmatamento com alguma autonomia e lidera as exportações da economia brasileira, mergulha de cabeça no conservadorismo. É mais um universo perdido pela esquerda, focada nos sem terra e na agricultura familiar.

Ou seja, ainda sem alternativas para 2022.       

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