O quê as pandemias têm em comum?


Há102 anos, propunha-se o quinino e o cloroquino para curar a gripe espanhola – que de espanhola não tinha nada, ela teria se expandido no planeta a partir dos EUA. A caipirinha surgiu nessa mesma época, como remédio para curar o mal do século (passado). Acabou por entrar nos cardápios como coadjuvante das feijoadas, com a consagrada mistura de cachaça, limão e mel. Também inventavam-se medicamentos (foto). Assim como hoje, as autoridades negavam e mascaravam a pandemia, que levou entre 30 mil a 50 mil brasileiros à morte.

As informações estão em “A bailarina da morte – a gripe espanhola no Brasil”, de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, que acaba de ser lançado para resgatar a pandemia praticamente apagada pela história, apesar de seu alto potencial destruidor. Bailarina era como também se chamava aquela dança rumo à morte, mais letal que a guerra.

Assim como as covas rasas se espalharam pelo país em 2020, mortos eram empilhados nas ruas, enquanto crianças órfãs choravam os pais junto a seus corpos, em 2018. Anúncios nos jornais ofereciam os pequenos abandonados à adoção. Os sintomas eram mais cruéis: antes de morrer, em poucas horas, as vítimas sangravam pelo nariz e ficavam com a pele roxa.

Outro traço em comum é o da desigualdade. Assim como no passado os principais alvos eram os negros e pobres, a mortalidade dos hospitais particulares é inferior ao das  emergências do SUS. Já a ciência era mais prestigiada naquela época de grandes sanitaristas, como Oswaldo Cruz.

No passado, conforme constataram as autoras, a segunda onda da gripe espanhola foi ainda mais mortal que a primeira. Se aquela pandemia foi causada pelo vírus H1N1, agora controlado por vacina, a esperança de que a história não se repita é o avanço dos imunizantes. Se chegarem a tempo de deter o Sars-CoV-2, o planeta ainda poderá ser salvo de mais uma matança em massa, como se avizinha na Europa.

No que depender das autoridades não há muito o quê se esperar. Segundo Starling disse ao Globo, “o Brasil de hoje espantaria os governantes do passado”. Como numa espécie de campeonato para aferir quem consegue ser pior...Agora, a última de Bolsonaro é a não obrigatoriedade pela população de tomar vacina.

 


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