Poesia em tempos de pandemia

 

A editora Chiado, que em 2017 publicou meu terceiro livro, “Útil ao agradável, história de amor, humor e boa forma”, inventário de uma vida de exercícios físicos (sem deixar de lado os amorosos), me convidou para a “V Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea”. Participo com o inédito “Sem Norte”, que reproduzo abaixo:

Dói no corpo. Dói na alma

Não peguei Covid. Não perdi amados de Covid

Ainda assim

A dor do planeta invade. E arde.

 

Tantas vidas que se foram

Tantas histórias perdidas, tantos afetos sepultados,

E eu aqui, testemunha ocular

A vagar

Nesse lugar em que a dor extrapola

Imiscuída à ganância, ignorância, sofrência

Demência

Com a volta de um passado que ainda ameaça

Não passa

Ressuscita fantasmas dos perdedores

Horrores

Que agora querem de volta o poder

Nas asas de um capitão do mal

Animal

Que nos conduz a queimadas, a dores passadas

Agora presentes

Impõe remédios que não curam

Despreza o que poderia nos salvar

Nos acalmar

Distanciamento, máscaras, vacinas, solidariedade

Caminhos à eternidade.

 

A história ainda vai contar esses dias sombrios

Os martírios

Versões da verdade que resistirão às ameaças

Trapaças

Falta de oxigênio

Ódio

No pódio dos vilões

Machões decadentes

Reacionários armados de mentiras

Sementes que envenenam os crentes.

 

Somos o país do futuro que anda para trás

Atrás da saúde, do dinheiro, da felicidade

Do dia em que voltaremos a respirar

O ar puro

Seguro

Do amor ao próximo

Tentando desesperadamente escapar da pandemia

Mesmo anêmicos de vida

Em fuga da morte

Sem norte

 

 

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