O milagre da Flor da Lua

Era o ano de 1989 quando recebi da editora Salamandra, “Margaret Mee, em busca das Flores da Floresta Amazônica”. O sonho de desenhar a Flor da Lua, que a ilustradora botânica inglesa perseguia desde 1964, se realizou em emocionante e arriscada expedição, em maio de 1988. “Sentia-me enfeitiçada. A primeira pétala começou a se mexer, depois outra e mais outra e a flor explodiu para a vida”, exultou Mee, que perdeu a vida no mesmo ano, aos 79, em estúpido acidente de carro em Londres.

O risco corrido por Mee para realizar seu sonho, que alçou ao conhecimento mundial a floração do cactus Selenicereus wittii, foi acompanhado pelo conforto de uma transmissão virtual por 200 mil pessoas em 20 de janeiro. O magnífico espetáculo do desabrochar da Flor da Lua foi exibido pela Cambridge University Botanic Garden, na Inglaterra, em cuja estufa repousa um exemplar do cactus amazônico. 

Fiquei fascinada quando recebi, pelo Jornal do Brasil, onde trabalhava, o primoroso livro em formato de arte, cuja maior aventura só começa no fim, na página 282. Tudo teve início em 1964, quando o máximo que ela conseguiu ver, no Rio Negro, foi o cactus alijado de floração, descrito pela primeira vez em 1900 por botânicos alemães. Mee voltou ao Brasil em 1987, após uma cirurgia no quadril. A aventura propriamente dita, porém, só começou no ano seguinte, após um voo Londres-Rio seguido de outro para Manaus.

Ela voltou ao Rio Negro acompanhada da amiga inglesa Sue e de outros colaboradores brasileiros. Constatou a devastação de várias áreas já conhecidas – imaginem se ela chega aqui em tempos de Bolsonaro? À noite, 10h depois de sair de Manaus, chegaram ao Paraná Anavilhanas, “onde florestas magníficas margeavam o rio”, para se hospedar na casa onde Sue já estivera, em 1982.

No dia seguinte foram ao local onde a amiga tinha visto o cactus, que já não estava lá. Só encontram botões fechados no outro dia, quando chegaram ao igapó no meio da tarde, a bordo de uma instável canoa. “Nas primeiras horas do desabrochar um perfume extraordinário emanou. Em uma hora ela estava completamente aberta”. Era lua cheia e a flor, que abre rapidamente, voltou a se fechar no alvorecer.

Sim, 200 mil pessoas assistiram ao espetáculo, reproduzido na edição de ontem do site Colabora. A emoção, o perfume e a magia da floresta, contudo, só mesmo para quem, com a coragem e determinação de Margaret Mee, se aventurar a desbravar os mistérios da Floresta Amazônica.



Comentários

  1. Que prazer grande ler esta matéria. Existe algum registro filmado do desabrochar da flor ?

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  2. Que lindo esse episódio! A Mee era realmente iluminada. Bom ler essa matéria no meio desse turbilhão que estamos vivendo. Um beijo 💋

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  3. Que matéria maravilhosa. Mee dá um beijo!!!

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  4. Adorei! Lembrei do Drummond:

    "Entre as desesperanças da hora e à falta de melhores notícias,
    venho informar-lhes que nasceu uma orquídea..."

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