Velório de um país chamado Brasil


 Párias? A vergonhosa denominação já é passado. Fomos ‘promovidos’ a ameaça global. É o que testemunha o correspondente Jamil Chade, em post reproduzido pelo amigo Cláudio Savaget que resumo aqui. 

“Recebi um telefonema de um casal de diplomatas de um país da América do Sul. Precisavam voltar a seu posto na Europa e, antes do voo, a companhia aérea deu aos passageiros a péssima notícia: o avião teria de fazer escala no Brasil. O medo os levou a duvidar se deveriam embarcar.(...)

Ao entrar na sede da ONU em Genebra fui parado pelo correspondente do New York Times assombrado com o que leu sobre a reação de Bolsonaro diante da crise. 

Em alguns locais, os comentários vêm permeados por ironias e até uma solidariedade sincera com o que ocorre no Brasil. Em outros, o tratamento vem de forma mais séria. Mas todos com profunda desconfiança sobre o país.

Os berros das manchetes dos jornais britânicos estampavam uma "caçada" das autoridades sanitárias a uma pessoa com o "vírus brasileiro". De tanto usar a nacionalidade chinesa para designar a doença, Bolsonaro e sua milícia digital passaram a ter de engolir de seu próprio veneno ao ver o nome do Brasil, agora, qualificar um vírus ainda mais perigoso.

Aeroportos de todo o mundo passaram a tratar qualquer um vindo do país como suspeito (...) A ideia de que somos pária no mundo não é verdade. Isso já está ultrapassado. Hoje, somos ameaça. Em 24 horas, mais de 20% dos novos contaminados no planeta pela covid-19 estavam no Brasil. 

Na última semana, representamos 12% de todos os mortos. E pior: não há controle ou estratégia para sair de um velório sem fim. (...) A ameaça que alimenta a desconfiança vem de quem está no poder. (...) O que existe no país equivale a um grupo de bombeiros cegos enviados a combater um incêndio.(...)

Se os incêndios na Amazônia em 2019 elevaram Bolsonaro a uma espécie de "vilão do mundo", sua gestão da pandemia nos tornou tóxicos aos olhos do planeta. 

Não sabemos quantos ainda morreremos (...) mas, entre os efeitos colaterais do "vírus brasileiro", já temos algumas certezas: uma parcela da história do país vem sendo enterrada em cada caixão, assim como seu lugar no mundo.”

 

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