Hora de reagir à nossa tragédia

 

Como sempre acontece, toda vez que Bolsonaro se sente acuado o Brasil vive emoções fortes. 

O interessante é que a ameaça feita pelo general Braga Netto, no mesmo 8 de julho em que Bolsonaro declarou que não haveria eleições em 2022 se as urnas forem eletrônicas estremeceu mais o país que a fala do desacreditado capitão.

Com a ascensão de Ciro Nogueira à Casa Civil, por sua vez, os militares foram raquetados do tabuleiro do poder. Como se sabe, o general Luiz Eduardo Ramos sequer foi avisado de seu rebaixamento. 

Isso quando a CPI descobre que as negociatas com vacinas eram divididas entre o Centrão e os milicos. Parece que só os primeiros subirão ao Olimpo.

Todos acompanharam o sincericídio de Bolsonaro ao assumir ser do Centrão e ter nascido lá. O que poucos devem ter se dado conta é que ao passar a faca e o queijo para a mão desse grupo (são aproximadamente 200 parlamentares), o presidente assinou o que foi chamado pelo Poder360 de “contrato de semipresidencialismo rústico”.

Trocando em miúdos: o desembarque de Nogueira na Casa Civil transforma Bolsonaro em um semipresidente. Seria uma espécie de cala boca aos que se assustam com a escalada de Lula nas pesquisas eleitorais: o presidente eleito delega ao Congresso as políticas e ações do governo.

Nessa trama macabra fica implícito que Arthur Lira, presidente da Câmara, não dê andamento a qualquer dos 126 pedidos de impeachment que descansam em sua gaveta, ou que Bolsonaro seja punido por sua criminosa condução da pandemia - com quase 550 mil óbitos -, revelada pela CPI da Covid. Toma lá, dá cá. Mais um estelionato eleitoral.

Ao mesmo tempo, avançam as negociações para fundir o PSL, o DEM e o PP, nova sigla do Centrão que seria a maior do Congresso, com 121 deputados e 15 senadores. É nela que Bolsonaro pretende se filiar para concorrer em 2022.

E, como numa medíocre farsa teatral, Braga Netto soltou nota desmentindo seus arroubos golpistas. Só que ninguém acreditou nela. 

A sorte é que Mourão entrou em cena para deixar claro que não somos uma República de Bananas. Quem sabe ele não se torne mais interessante que Bolsonaro tanto ao Centrão quanto às próprias Forças Armadas? 

Ou seja, não faltam motivos para fortalecer o tripé que pode levar ao afastamento de Bolsonaro: povo na rua. É hoje, não perca a oportunidade de manifestar sua indignação contra tudo isso que está aí!