Antes que seja tarde

 

Como ratificam as pesquisas de opinião, Bolsonaro não prima pela inteligência. Muito menos pela cultura. Porém, é esperto como o diabo. Com um 'prontuário' de dois projetos aprovados em 27 anos de parlamento, ameaça de bomba que o expulsou do Exército, discursos pró-ditadura, misógeno, homofóbico e racista, elegeu-se presidente da República.

Com a injeção de dinheiro, técnicas e ânimo da extrema-direita, desde que passou a suceder a liderança do Trump da América como o Trump dos Trópicos, o capitão ensaia um golpe. Inusitado por anunciado. As peças, contudo, estão aí.

Bastou os ministros do STJ subirem o tom para gerarem a reação desesperada pela popularidade perdida, movida ainda pelo medo de prisão a si e aos seus. Capaz de subverter o teto de gastos para garantir o tal Auxílio Brasil – tão necessário, embora usado para fins meramente eleitoreiros.

As ameaças de impeachment a ministros do STF e de uma virada autocrática no 7 de setembro são combustível para o gado. Que, nem por isso, podem deixar de virar realidade.

Se alguém duvida, o milionário Mário Gazin foi um que já disponibilizou sua frota de ônibus para transportar gratuitamente do Paraná a Brasília os manifestantes do ato antidemocrático no 7 de setembro.

Já o Clube Militar do Rio de Janeiro, reduto do conservadorismo no país, convoca sócios e amigos em suas redes para o encontro pelas “grandes causas democráticas”, em assombrosa inversão de valores.

E aqueles tanques de desfilaram na Esplanada dos Ministérios nada tinham de sucata, estavam apenas mal regulados. A velharia da Marinha está na Ilha das Floress.

Ontem, o capitão voltou a criticar as prisões de Daniel Silveira e Roberto Jefferson, em intencional confusão entre liberdade e prática de crime. Ambos incitaram a violência contra o STF  em suas redes, o que está muito longe de liberdade de manifestação, como bem sabe Bolsonaro.

“A crítica, por pior que seja, você tem que tolerar. A liberdade de expressão é ampla, é garantida a todos nós”, tenta confundir, de caso pensado, o presidente.

E, como a toda ação corresponde uma reação, para que não acabemos devorados pelas estratégias da direita extremista, todo cuidado é pouco. 

Fez muito bem o governador João Dória em demitir o coronel Aleksander Lacerda, comandante dos 5 mil policiais de sete batalhões de São Paulo, após o convite a seus amigos à manifestação bolsonarista do 7 de setembro. Todos armados.

Fazem muito bem os 24 governadores em se unirem e cobrarem respostas do presidente, mesmo que não venham.

Ou seja, jogar sujo é com ele e sua turma. Pelo visto, o capitão mostra as garras antes mesmo do nosso Capitólio, no pós outubro 2022, quando esperamos que o pesadelo tenha acabado. Todo fôlego das instituições e da sociedade civil é pouco para deter esse celerado. Antes que seja tarde!