A praga dos cem anos de sigilo

 

Quem não deve não teme, certo? Não parece ser o caso do atual Governo, que acumula situações de imposição de sigilo de 100 anos. A mais recente censura – sim, na prática trata-se de censura – foram as visitas à Primeira-dama no Alvorada.

Entre 2019 e 2021, 65 questões que deveriam ser públicas foram alvo do centenário sigilo, segundo o Estadão. Nesse misterioso pacote estão a carteira de vacinação presidencial, bem como os telegramas do Itamaraty sobre a prisão de Ronaldinho Gaúcho no Paraguai.

Para que censuras assim ocorressem, foram rejeitados pelo Governo pedidos feitos pela Lei de Acesso à Informação (LAI), termômetro do grau de democracia existente no país.

“É o governo da opacidade generalizada”, definiu Maruna Atoji, gerente de projetos da Transparência Brasil. ”São coisas que o governo não gostaria de mostrar”, acrescenta.

O escândalo de corrupção no MEC, que envolveu o ex-ministro Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura (foto), entrou nesse rol assim como os documentos e sindicâncias que envolveram a criminosa gestão de Pazuello no Ministério da Saúde.

É o tipo da curiosidade besta, sem justificativa. Que direito tem a população de tomar conhecimento de questões que não lhe dizem respeito? Onde já se viu pedidos assim numa democracia como a nossa?

Ou você ainda acha que vivemos numa democracia?

Outros casos foram identificados pelo Estadão, como o pedido de um cidadão, em junho de 2021, para saber quem organizou encontros religiosos na Granja do Torto entre Michelle e seus convidados.

O Exército é o campeão dos sigilos centenários, algo que remete aos tempos da ditadura militar. Foram negados cerca de 21 pedidos que entraram no balaio ‘informações pessoais’.

Não foi possível saber, por exemplo, quais ministros têm porte de armas, assim como o pedido de ficha funcional de Fabrício de Queiroz, o operador das ‘rachadinhas’ de Flávio.  

Os 26,5% de pedidos de informação negados pelo Governo tiveram a necessidade de sigilo como único argumento. O percentual é o dobro do da ex-presidente Dilma Roussef e quatro pontos percentuais acima do de Milton Temer.

De onde se conclui que o governo deve adoidado. E nossa democracia não passa de uma palhaçada.