Reflexos do mal

 

Pesquisadores já demonstraram como a adesão dos brasileiros ao que o Presidente tem de pior – machismo, misoginia, racismo, ignorância por exemplo - é o reflexo de um espelho.

O mais recente exemplo foi o ataque do deputado bolsonarista Douglas Garcia à jornalista Vera Magalhães, que referiu-se a ela com a mesma frase do Presidente: “Vergonha do jornalismo nacional”. Embora o filho Eduardo tenha reagido contra – sem convencer uma mosca, graças a seu histórico -, o pai calou-se. Por motivos óbvios.

O episódio de recusa da cesta básica a Ilza Ramos Rodrigues pelo empresário Cássio Cenali reúne o oportunismo (ele recebeu Auxílio Brasil) à crueldade de negar alimento a uma apoiadora faminta de Lula. Voz do espírito bolsonarista de se dar bem a qualquer preço, versão atualizada da Lei de Gerson.

Isso para não falar de casos mais graves, como os assassinatos dos petistas Marcelo Arruda e Benedito Cardoso dos Santos por bolsonaristas, sem que o mandatário esboce qualquer reação para que casos assim não se repitam.

O máximo que o filho primogênito fez foi dizer que o Presidente não tem como controlar seus seguidores. A quem ele armou até os dentes.

Até pesquisadores do Datafolha têm sido alvo de violência. A diretora geral, Luciana Chong, disse à Folha que pessoas acusam o instituto de comunista. Desde terça-feira foram registradas dez intercorrências em diferentes locais do país.

Em agosto, 3,2% dos 1.200 entrevistados pelo mesmo instituto disseram ter sofrido violência por escolha política e 67% têm medo de serem agredidos.

Não por acaso, o Presidente perdeu um ponto na avaliação de ontem do Datafolha: passou para 33%. Lula manteve 45%. A rejeição também subiu dois pontos, para 53%, Lula caiu a 38.

Entre os setores aliados – que devolvem ao mandatário o apoio prometido – um dos mais radicais é o agro ogro, adepto incondicional das pautas mais violentas, como a liberação de armas, desmatamento ilegal e arroubos antidemocráticos.

Fora os que adotam o trabalho escravo, fazem grilagem de terras públicas com ajuda de políticos corruptos e não veem nenhum problema em eliminar indígenas ou em estuprar suas mulheres como pano de fundo à exploração da madeira ilegal.

E se o gado continua a aderir aos delírios presidenciais – o mais novo é posar de vítima, desdizer afirmações assassinas da pandemia e choramingar que passará a faixa se perder -, ao menos há quem esboce uma reação.

Pela primeira vez, o Parlamento Europeu aprovou sanções comerciais a produtos brasileiros resultados de desmatamento.

Ainda é pouco. Porém, já é alguma coisa.