Mostra evoca todos os sentidos

 


Entrar na exposição “Há. Ma Terra, Mar e Ar” é acionar e provocar o gozo de todos os sentidos. Sabe aquela mostra em que as fotografias ficavam expostas nas paredes, estáticas? Esqueça. E prepare-se para esta viagem.

As imagens de Kitty Paranaguá (foto) e Paulo Marcos Mendonça Lima, em exibição no Sesc-Ramos, pendem do teto em delicada impressão sobre tecido de voil. O resultado é surpreendente: além de permanecer em suave movimento, convida às sensações táteis.

E os tecidos podem ser vistos de todos os lados.

Permitem que os visitantes atravessem florestas, cachoeiras, ondas do mar, em inusitada participação com as obras. As crianças vibram. Os adultos saboreiam.

Não apenas o que se vê, como o som ambiente de pássaros, da cadência do movimento do rio, da explosão de ondas e cachoeiras com suas águas revoltas, que convidam a audição a participar da festa, e condenam o modelito até então predominante ao envelhecimento precoce.

Já não era sem tempo...

E, para permitir um mergulho ainda mais profundo nesse festival dos sentidos, as imagens passaram por um tratamento que homogeneizou azuis e verdes. O resultado, que talvez o visitante nem se dê conta, é uma maior unidade no todo.

Foi o jeito que Kitty e Paulo Marcos encontraram para dar  seu recado em tempos tão bizarros de mudanças climáticas, que alagam e secam com a mesma intensidade, como resultado de uma atividade humana que não quer cessar.

E aqui no Sudeste com temperaturas de fritar ovos no asfalto, antes mesmo da chegada da estação mais quente. 

Apesar desse assustador 2023, em que os sintomas dessa tragédia anunciada se intensificaram de forma nunca vista, a dupla de craques não apenas direciona suas objetivas ao que a natureza tem de mais singelo, como busca ampliar os significados pela multiplicação de significantes.

Não sei avaliar se eles inventaram algo de absolutamente novo, ao explorar ao mesmo tempo a visão, a audição e o tato. Me parece que sim. E é hora de ampliar essa sacada para outras terras e outros ares. A mensagem tem de se multiplicar.

O que de fato importa é que é impossível alguém sair da exposição como entrou. Assim como um visitante imprimiu uma imagem em sua própria camiseta, e as crianças espalham mensagens de alegria e esperança após brincar entre os tecidos, o impacto tem potencial para produzir mudanças.

Há de ser possível preservar este rico e exuberante meio ambiente para que nossos filhos e netos continuem a usufruir do privilégio que pudemos experimentar: degustar plenamente a beleza entre o céu e o mar.  

Comentários

  1. Carlos Minc
    Que lindo.
    Arte invade olhar e sentimentos.
    💪🏽💃📽️😍💥🦋💚🦉🌈

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  2. Branca Moreira Alves
    Descanso necessário!

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    1. Foi só uma pausa para homenagear uma grande amiga. Amanhã tem mais...

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  3. Gostei muito da ideia!!! Vocês vão trazer isso depois aqui pra S. Paulo?

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  4. M Christina Fernandes
    Até quando fica essa exposição? Gostei da sua descrição.

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  5. Christine Barros Ajuz
    Parabéns pra Kitty Paranaguá e pro Paulo Marcos!👏👏👏

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  6. Kitty Paranaguá
    Hoje, quando li o blog fiquei emocionada com a delicadeza e o afeto do texto.
    A fotografia só se completa com o outro, ou seja, quem vê. Perceber que houve esta troca, e que o visitante saiu transformado, é um luxo. Expor é uma necessidade de dialogar com o outro, um lugar para levantar questões e convidar o visitante a um diálogo. Estabelecer essa conexão é um desafio.

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