Católicos e evangélicos unidos no retrocesso
Na minha
juventude, atropelada pelos 21 anos da ditadura militar, a igreja católica era quase
que sinônimo de direitos humanos, com a Teologia da Libertação. Padres e
frades foram presos e torturados pela causa da liberdade.
Só que
nesses tempos estranhos que vivemos, onde os mais jovens simplesmente
desconhecem os horrores da primeira e segunda guerras mundiais, movidas a
extremismo, fascismo e nazismo. Desconhecem a tragédia do Holocausto, que matou
cerca de cinco milhões de judeus.
Informam-se
pelas redes sociais e oscilam de acordo com a maré de seus ídolos, muitos deles
populistas reacionários que vivem às custas de fake news, como o inelegível aqui e Trump nos EUA. Dito isso, já não se
faz igreja católica como antigamente. A Teologia da Libertação foi devidamente enterrada
por gente como o papa Joseph Ratzinger.
E não se
fala mais nisso.
O que se vê
não podia ser pior. Segundo a professora de Antropologia da Unifesp, Lilian
Sales, o fatídico PL 1904, que criminaliza o aborto, é resultado de uma aliança
entre católicos e evangélicos, “não mais para impedir avanços sexuais, mas para
impor retrocessos”, diz ela.
Como se
sabe, à frente dessa turma de reacionários está o deputado Sóstenes Cavalcante
(PL-RJ, na foto com o inelegível), que já admitiu à jornalista Andrea Sadi que a finalidade do projeto é
testar Lula, que se diz contra o aborto.
“Quem mais vai
sofrer com esse PL são as crianças, as meninas que demoram para descobrir a
gestação”, lamenta a antropóloga na Carta Capital, porque a grande maioria delas não faz
ideia das consequências que podem vir de um estupro.
(O boicote à educação sexual nas escola é outra iniciativa dessa turma que anda para trás).
Acuado pela
rejeição dos evangélicos a seu governo, devidamente orquestrada pela extrema direita,
Lula custou, posicionou-se, porém, sobre a malvadeza do projeto.
“Eu sou
contra o aborto. Entretanto, como o aborto é a realidade, a gente precisa tratá-lo como uma questão de saúde pública e eu acho que é insanidade
querer punir uma mulher com uma pena maior do que o criminoso que fez o estupro”,
disse o presidente, na Itália.
Diante dos
imediatos protestos no Rio, São Paulo e Brasília, a bancada evangélica recuou e
já admite adiar a votação do PL para depois das eleições municipais. Como se
sabe, sua excrementíssima aprovou o regime de urgência para o texto em votação
de 23 segundos na última quarta-feira.
O mais surpreendente é que essa dupla do mal achou que ia conseguir aprovar o PL nesse afogadilho, como se o Brasil fosse o Irã e os brasileiros o talibã. É muita presunção!
O governo,
que inicialmente engoliu aquele sapo sem regurgitar, agora bate pé que vai
barrar o avanço do PL no Congresso. Antes tarde do que nunca. Onde, contudo,
ele estava na quarta-feira 12, o Dia dos Namorados?
Esses
homens engravatados ainda estão longe de largar a mania de que podem fazer a
mulher de gato e sapato. É verdade que ainda estamos longe de uma representação
política significativa. Somos, porém, a maioria da população brasileira e não
hesitaremos em brigar por nossos direitos.
Entre eles, a liberdade de fazermos o que quisermos com nosso corpo. Ninguém melhor do que nós para saber a dor que é interromper uma gravidez, seja lá por que motivo for.
O que não dá é relegar às mais pobres o fardo de uma gravidez indesejada,
porque elas são as que têm menos condições de encher mais uma barriga.
Ou será que
o estupradores vão bancar a saúde e a educação do bebê que vai chegar e vão cuidar da mãe-baby?
O Brasil guarda dentro de si, um enorme Talibã. Somos um país que quase deu certo.
ResponderExcluirSerá que ainda estaremos vivos quando der certo?
ExcluirCarlos Minc
ResponderExcluir😔😔🥸🥸🤔🤔💪🏽💪🏽💃💃🌏🌏🎷🎷
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTião Santos
ResponderExcluirLamentável!
Ñ se trata, da igreja católica, mas de setores dela, infelizmente
ExcluirJean Schleuderer
ResponderExcluirVocê descreve a nossa realidade, a nossa saúde social debilitada, a extrema manipulação de pretensos e falaciosos valores, a avassaladora projeção das mídias sociais, o absoluto desconhecer da História recente, a tibieza reticente e quase inevitável resposta de um Governo acuado.
Você descreve os passos que a sociedade brasileira está sendo induzida a tomar, no rumo do que alguns de nós sabe e o grosso dela não.
A coragem das ruas mostrou sua força na rejeição ao PL1904, por ora recuado, principalmente porque não teve, como não deve ter, participação de nenhum partido político.
Esta é a única força de que dispomos.
Não temos mais nada com que contar.
Nem com a Igreja Católica, nem com o Congresso, nem com o Governo.
Devemos fazer com que esta força seja bastante para impedir o já quase inevitável regresso ao Fascismo.
Tantos tolos! Que não tem a menor ideia do que os espera.
Sim, pelo que a História ensina ainda vamos comer o pão que o diabo amassou
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ResponderExcluirroque furtadoro
Celina Côrtes nos fala sobre ditadura e PL 1904
Wilson Tosta
ResponderExcluirA direita perdeu. Lira teve de recuar, devido à mobilização das mulheres. Foi a segunda derrota dessa turma do PL mais Centrão em poucas semanas. A primeira foi na PEC das Praias. O caminho está aberto, é preciso não ter medo e enfrentar.
Ruth Rosa
ResponderExcluirEu já tenho até medo de estar no mesmo lugar que essas criaturas..... por nojo e medo.
Quem normaliza a gravidez de uma criança ou adolescente, vítima de estupro, está normalizando o estupro e a pedofilia.
A maioria dos deputados que negaram prioridade para tornar pedofilia como crime hediondo é a mesma que apoia esse PL.
Que tempos sombrios!!
Tem como despachar esse povo para a idade média??