Império do Centrão

Existem lados positivos na tentativa de cassar o mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ). Primeiro, a capacidade de reaglutinar a esquerda, sempre dividida. Era de arrepiar a gigantesca fila na Rua México na última quinta-feira aguardando o ato #Fica Glauber e #Fora Lira, na ABI.

Segundo, a nítida visão de que Arthur Lira é um inimigo do povo, defensor de barbáries como a criminalização de meninas estupradas que fazem aborto e a privatização das praias. Houve, porém, um leitor que apontou: o Fora deve ser direcionado ao Centrão, pai das nossas mazelas.

Outro leitor, por sinal, lembrou a semelhança entre Glauber e Brizola, o líder trabalhista que poderia ter mudado o país se chegasse à presidência com seu foco na Educação – agora herdado pela candidata à prefeitura de SP, Tabata Amaral.

Isto posto, aos fatos. Segundo o Globo, os melhor posicionados nas próximas eleições pelos últimos levantamentos da Quaest são do PL e União Brasil, as estrelas do Centrão. O Republicanos e o PRTB vêm na rabeira.

Entre os mais competitivos a prefeito, 56% se dizem de direita, 21% de centro e 23% de esquerda. O União Brasil e o PL têm vantagem até no Nordeste, principal reduto de Lula.

“Observamos um endireitamento do Brasil desde 2018. A esquerda não investiu em novos nomes”, diagnostica a cientista política Luciana Santana.

As exceções são João Campos (PSB), no Recife, com 77% das intenções de voto, e Eduardo Paes (PSD), com o significativo diferencial de que o Rio é reduto bolsonarista. Apoiados por Lula, ambos podem vencer no primeiro turno. 

Um dos ápices desse cenário ocorre em São Paulo, onde o prefeito Ricardo Nunes recorre ao bolsonarismo para ganhar de Lamarçal, que provocou um racha no...bolsonarismo...(se bem que na última pesquisa Atlas Boulos está com 26,3%, Nunes caiu a 26,2% e Lamarçal para 19,2%).

Nunes, assim como outros candidatos, adotam o discurso bolsonarista antivacina, o mesmo que ajudou matar mais de 700 mil brasileiros na pandemia da Covid. 

Sendo que o verão se aproxima e com ele a ameaça da dengue, para a qual o governo brasileiro será o primeiro país do mundo a oferecer vacina pelo sistema público. E eles ainda predicam esses possíveis resultados!

E uma leitora me enviou números impressionantes: 61 candidatos de 44 cidades brasileiras usam tornozeleiras eletrônicas e têm mandados de prisão em aberto. É o crime que compensa colocado em prática.

No Pará, um dos estados campeões em focos de incêndio, também reinam as tendências reacionárias. Nas cidades onde predomina o garimpo ilegal, políticos ligados à prática conquistam a preferência dos eleitores. Lá, ser alvo de órgão ambiental dá voto. Que tal?

Foi o que ajudou a eleger Gelson Dill (MDB) em 2020 prefeito de Novo Progresso, por exemplo. Elel atribui parte de sua vitória à multa de R$ 4 milhões do ICMBio pelo desmatamento de uma área de 174,5 hectares.

Já o uso escuso do orçamento secreto é outro fator fundamental para turbinar essas candidaturas do mal. Nascido da luta do Inelegível para não ser cassado, é uma das principais armas de Arthur Lira, que agora o ministro Flávio Dino batalha para eliminar.

Colhemos, portanto, os frutos de tudo o que tem sido plantado de pior pelo Centrão. E os eleitores continuam caindo em todas essas esparrelas como patinhos indefesos...