Tudo muito inverossímil

 

Até agora nada escrevi sobre o ex-ministro Silvio Almeida, tomada pelo luto de que alguém a quem eu alçava à beira da perfeição para o cargo cometer tamanhas atrocidades, ainda não comprovadas. Concordei com seu afastamento imediato, porém, agora o colunista Reynaldo Azevedo levanta uma questão que não pode ser ignorada.

Não que o inocente. Isso só ocorrerá, ou não, quando as investigações chegarem ao fim e seu processo transitar em julgado. Não deixou de ser curioso, porém, que as denúncias tivessem vindo à tona às vésperas do ato bolsonarista pelo impeachment de Alexandre de Moraes.

Que continua firme como rocha no STF.

A reação indignada de Sílvio Almeida, baluarte de fama internacional na luta pelos direitos humanos e cidadania, poderia dar alguma pista. Ou não. 

O fato é que a Mee Too – ONG americana financiada pela Fundação Ford, que também financia Anielle Franco – teve seus interesses contrariados numa milionária licitação pelo Ministério de Almeida antes da fulminante denúncia.

E, se nossa ministra acima de qualquer suspeita, irmã de Marielle Franco, foi de fato importunada, ela não deveria ter permitido que o caso passasse em branco. Ou cobrava uma atitude do governo ou deixava a pasta se não fosse atendida.

Por outro lado, se Almeida sabia que uma ameaça contra ele crescia, deveria ter tomado providências para se defender  ou deixar o cargo. Difícil crer que ele tenha se submetido a uma ONG falando em nome de denunciadoras anônimas.

É tudo muito inverossímil.

Realmente não havia como Almeida ser mantido no cargo por Lula sob tal acusação atroz. Só que o presidente sempre valorizou a presunção de inocência e Almeida não pode virar vilão sem que seu crime seja comprovado.

Já a resposta furiosa da ONG à nota de Almeida antes de deixar o cargo está longe de ser um ponto final, enquanto extremistas de direita inimigos do feminismo se solidarizam com Anielle só para atacar as causas progressistas, as políticas de reparação e o livro de Almeida sobre racismo estrutural.

Hipocrisia, no mesmo pacote do ato bolsonarista, do pedido de impeachment de um ministro que só fez cumprir as leis e da defesa de Elon Musk no banimento do X. Enquanto pedem anistia à turba que de fato as descumpriu.

De minha parte, torço para que o ministro consiga provar sua inocência. Que o processo siga em sigilo, já que as supostas vítimas não querem se tornar públicas e que a verdade venha à tona, a tempo de Almeida voltar ao cargo, se ele de fato não tiver cometido o suposto assédio.