Batista Júnior confirma o que Freire Gomes hesitou

 

Nada como um dia após o outro. Após o general Freire Gomes amarelar em seu depoimento ao STF, tentando desdizer o que havia dito à PF – que Bolsonaro propôs uma ruptura do regime democrático e ainda passou pano na adesão de Almir Garnier, ex-chefe da Marinha - o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior (foto), confirmou ontem ao STF as duas versões. 

E a ameaça de prisão se o ex-presidente insistisse no golpe.

Freire Gomes, que chegou a ser taxado de melancia pelos bolsonaristas – verde por fora e vermelho por dentro –, ficou entre a cruz e a caldeirinha. E, entre se manter no papel de herói, optou pelo de vilão. Ou seja, se incompatibilizou com os dois lados. Covardia incompatível para um general...

Baptista Júnior, porém, pôs os pingos nos ‘is’:

“O general Freire Gomes é uma pessoa polida, educada. Ele não foi agressivo com o presidente da República, ele não faria isso. Mas é isso que ele falou”, sustentou.

“Com muita tranquilidade, com muita calma, colocou exatamente isso: "se o senhor tiver que fazer isso, vou acabar lhe prendendo" — afirmou ontem o ex-chefe da Aeronáutica aos ministros do STF.

E disse mais. O brigadeiro também avisou ao Inelegível que a equipe das Forças Armadas que fiscalizou as urnas eletrônicas não encontrou fraudes, como desejava o ex-presidente, para ter mais argumentos para sua tentativa de golpe.

E, enquanto Freire Gomes tentou livrar a cara de Almir Garnier, Baptista Júnior repetiu que ele tinha dito que “as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente.”

Garnier, por sinal, foi o único dos ex-comandantes das FAs a ser denunciado e é réu na ação penal. Ficou em silêncio quando depôs à PF. Até agora, não há informações públicas sobre quando será seu depoimento ao STF.

Antes da reunião dos comandantes das Três Forças, em 17 de dezembro de 2022, o general Augusto Heleno já havia comunicado ao brigadeiro sua convocação a um encontro de emergência com Bolsonaro, naquela data.

Embora Heleno não mencionasse qual seria o teor da reunião, Baptista Júnior já entendera que a conversa seria sobre uma ruptura democrática. E, naquele dia, o brigadeiro avisou a Heleno que as Forças Aeronáuticas não apoiariam uma tentativa de golpe, conversa também registrada pela PF.

Como se sabe, após a pressão do ministro Alexandre de Moraes, Freire Gomes terminou por confirmar tanto a proposta de Bolsonaro quanto a adesão de Garnier. E, após o depoimento de Baptista Júnior, já não resta a menor dúvida sobre a principal tese da acusação contra Bolsonaro.

E também sobre qual dos ex-comandantes tem coragem.