Escolas de andar para trás

 

Se Lula anunciasse que as aulas de história seriam ministradas por sindicalistas, imaginem a reação? Pois é, recentemente Tarcísio de Freitas, governador de SP, enfiou pela goela abaixo dos paulistas a criação de 100 escolas cívico-militares.

Alguém viu alguma denúncia de fôlego sobre isso na grande imprensa? Nenhuma. Enquanto o escândalo do INSS, iniciado pelo governo Bolsonaro, domina as manchetes e empurra a culpa para o irmão de Lula. A iniciativa é de estarrecer.

Conforme a Revista Fórum, professores capacitados serão substituídos por militares e policiais aposentados, com salários maiores e tempo de ensino menor que os mestres com a devida formação necessária à atividade.

Assim como sindicalistas tentariam impor uma formação de esquerda a seus alunos, o que os titulares de Tarcísio vão ensinar às suas ‘vítimas’? 

Que o movimento militar de 64 não foi um golpe, e sim uma revolução? Que foi bem sucedida, sobretudo por ter afastado 'terroristas' da cena? Que essa história de tortura não passa de falácia? Que não se tratou de uma ditadura? Que João Goulart era um comunista, assim como Rubens Paiva?

Os alvos dessas escolas de engessar cérebros são as cidades do interior, para capturar politicamente essas regiões mais afastadas da capital. De forma que as escolas serão mais preocupadas com uniformes engomados e meninos de cabelo reco, ao mesmo tempo em que vão impregnar as jovens cabeças de ideologias reacionárias.

Karl Marx, Michel Foucault (foto) e Marilena Chauí serão solenemente ignorados, como se nem existissem. Quem serão os ideólogos dessa turma de conservadores, Plínio Salgado? General Olympio Mourão Filho? Marechal Castelo Branco? Golbery do Couto e Silva? Jair Messias Bolsonaro?

Será um exercício diário de fazer esses estudantes andarem para trás, como escolas reacionárias que se prezem.

Isso sem que essa iniciativa nefasta tivesse gerado qualquer reação da sociedade civil. Imaginem a farra que um Nikolas Ferreira faria com uma escola ministrada por sindicalistas?  

Pelo modelo militar, essas aulas serão atividades extracurriculares – uma espécie de Moral e Cívica adaptada para mais de 60 anos depois, como se a sociedade fosse a mesma -, onde policiais militares trabalharão desarmados, embora se responsabilizem pela entrada e saída dos alunos.

Eles jamais ensinariam a seus alunos que a renda dos brasileiros subiu 4,7% e a desigualdade social caiu 17%, graças a programas sociais e ao reajuste do salário mínimo, enquanto o rendimento dos mais ricos subiu só 1,5%, conforme dados divulgados essa semana pelo IBGE...

O modelo já se mostrou um fracasso em números e por isso foi descontinuado pelo governo federal após decisão de Lula. Segundo o documento que pôs fim a essas escolas, o Ministério da Educação alegou que elas induzem ao desvio de finalidade das Forças Armadas e das forças de segurança.

Que falta fazem Brizola e Darcy Ribeiro nessas horas...