Polarização não é majoritária no país

 

Apesar da polarização envolver toda a sociedade, o antagonismo é puxado por pequenos grupos de 5% da população, simultâneos a outros 15% de semiativistas. Há uma maioria de 60% de brasileiros entre os dois polos, chamados pelo filósofo e colunista Pablo Ortellado de “invisíveis”.

Pesquisa da Quaest da última semana de março endossa a tese: 19% se dizem lulistas, 12% bolsonaristas e 66% preferem outro nome.

Ortellado integra o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, que desenvolveu o método mais seguro de contabilizar o número de participantes em manifestações.

Sua conclusão resulta de uma ampla pesquisa liderada por ele para investigar a natureza da polarização política no país, também observada no resto do mundo que faz intenso uso das redes sociais. Ela mostra, na prática, por que o Centro praticamente desapareceu do cenário político brasileiro.

Essa invisibilidade ele atribui à agitação de ativistas nas redes sociais, que criam a ilusão de serem o todo. “Quando dividimos o Brasil entre petistas e bolsonaristas representamos o país de forma imprecisa e bloqueamos propostas independentes”, alega, e adianta que a divisão desses polos se concentra em guerras culturais e de valores morais sobre família e sexualidade.

E, o que afasta os dois grupos não é a divergência, e sim a animosidade até violenta contra os adversários.

Ortellado descreve o polo conservador como um pouco maior, pardo e com escolaridade de ensino médio. Enquanto os progressistas, mesmo sendo porta-vozes dos oprimidos, são mais brancos, escolarizados, mais ricos e concentrados no Sudeste.

Por atribuir o domínio do establishment aos progressistas, os conservadores desconfiam da Justiça, das universidades públicas e da grande imprensa. Enquanto os progressistas, que se viam como revolucionários, se acomodaram e passaram a defender o status quo. Será que a regra serve para o resto do mundo?

Para o filósofo, o desafio é dar visibilidade a essa maioria silenciosa e não polarizada para conseguirmos resgatar o espaço do consenso. "Se não desarmarmos o antagonismo entre os pequenos grupos, corremos o risco de assistir a uma espiral crescente de hostilidade que pode precipitar a violência política ou a ruptura institucional" (que por muito pouco vimos acontecer).

O pior é que, por enquanto, não há nenhum sinal à vista de que isso possa acontecer...