Gênio do mal da direita americana

 

O  Iluminismo sombrio (Dark Enlightment) começou a nascer em 2007, pelo cientista de computação Curtis Yarvin (foto), a partir do seu blog Unqualified Reservation, com o pseudônimo Mencius Moldbug. Trata-se de uma corrente filosófica que rejeita os princípios do IIuminismo tradicional, como democracia, igualdade e liberdade e a crença no progresso da humanidade por meio da ciência.

Parece familiar para quem já ouviu falar de Olavo de Carvalho ou dos princípios da direita americana. Ele questiona se esses conceitos nos levaram a um mundo melhor. Ou se criaram sociedades frágeis, niveladas por baixo e vulneráveis. Defende que a sociedade deve ser governada por uma empresa comandada por um CEO, com poder absoluto.

Filho de diplomatas, Yarvin, 52 anos, acha a democracia um erro histórico. O inimigo é um sistema invisível que ele chama de “A Catedral”, espécie de “Igreja secular” formada por três pilares: universidades e intelectuais que criam as ideias dominantes; a grande imprensa, que espalha essas ideias e a classe artística, que as populariza.

Juntas, essas instituições ditariam o que é verdadeiro, abraçam dogmas morais, marginalizam os hereges e transformam os jornalistas, acadêmicos e artistas em sacerdotes do mundo contemporâneo. Sua proposta é derrubar a democracia, fechar universidades e abolir a grande imprensa.

Suas ideias influenciaram milionários americanos. E qualquer semelhança com Donald Trump não é mera coincidência...

Apesar de descrito como um libertário, Yarvin não integra a tradição do liberalismo político, ou do libertarianismo de direita. Ele é um ativista de ideias autoritárias, defende que a sociedade americana precisa de uma reinicialização forçada para virar uma espécie de feudalismo coorporativo. Vê a igualdade de direitos como uma força que corrompe e enfraquece a civilização.

Essas ideias permaneceram restritas a blogs obscuros e fóruns da Internet até que bilionários do Vale do Silício prestaram mais atenção, como Peter Thiel, fundador do PayPal, que investiu numa startup de Yarvin e financiou espaços onde suas ideias circulam. Thiel já declarou que não acredita que liberdade e democracia sejam compatíveis. Os defensores do iluminismo sombrio dizem ter moldado o código fonte intelectual adotado pela nova direita populista americana.

O Iluminismo Sombrio não controla a direita americana, seus valores, porém, aparecem de formas variadas no grupo, desde o fascínio por líderes fortes e empresariais, até a ideia de que é preciso demitir em massa os servidores de carreira em Washington, plano apelidado de Rage (Retired All Government Employees).

Figuras centrais do trumpismo bebem dessa fonte, como Steve Bannon, que troca ideias com Yarvin e reassume protagonismo com o afastamento de Elon Musk; J.D. Vance, vice-presidente americano, amigo que cita suas ideias.   

Seus conceitos estão por toda a parte no discurso da nova direita americana. E o papel ideológico do Iluminismo Sombrio na nova direita populista foi tema de grande reportagens nos últimos meses nos EUA e Europa. Sua influência, lamentavelmente, cresce no Brasil.

(Fonte: jornalista Rodrigo Silva no Fronteiras do Estadão)