Boulos, o sucessor de Lula

 

A direita sentiu o baque da nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria Geral da Presidência. Nikolas Ferreira (PL-MG) se apressou em postar nas redes fotos de Boulos em manifestação do MTST de 2017, que terminaram por levá-lo a 10h de detenção na PM-SP.

Kim Kataguyri (União-SP), por sua vez, disse que a indicação é ótima para a direita porque o político será um péssimo ministro como foi um péssimo deputado na Câmara (questão de ponto de vista...).

Foi uma jogada de alto risco, porque Lula sabe muito bem que precisa de puxadores de votos da esquerda em 2026 – Nikolas ficou em primeiro lugar em 2022 e Boulos em segundo.

Só que o deputado do PSOL-SP é apontado como sucessor de Lula à esquerda – cargo vago até então (e também ainda não ocupado na sucessão de Bolsonaro). É jovem (tem 42 anos), é capaz de mobilizar os movimentos sociais, coisa que o PT perdeu de vista, e vestiu luva de pelica no radicalismo para se tornar mais palatável a país conservador.

Ele teria o potencial de trazer para o Planalto o motoboy, o entregador, o motorista de aplicativo, o microempreendedor individual, a massa que tomou o lugar dos operários no país e hoje é espinha dorsal da nova economia urbana.   

Boulos já disse não saber se vai concorrer a deputado em 2026, o que vai depender de Lula. Só que ele teria de sair do ministério em abril, e admite que até lá não teria como fazer seu trabalho com começo, meio e fim.

Como lembra Flávia Tavares, no Canal Meio, o Centrão e direita têm prefeitos, vereadores, igrejas, rádios, associações e máquinas regionais, capazes de transformar discurso em voto. E têm as emendas parlamentares, que mudaram a correlação de forças entre Legislativo e Executivo.

O próprio Bolsonaro declarou no ato de junho de 2025, na Paulista, que se eles conseguirem 50% da Câmara de 50% do Senado, “eu mudo o destino do Brasil. Quem assumir a liderança vai mandar mais que o presidente da República.”

Antes dessa ameaçadora previsão, já assistimos ao Centrão irrigar suas bases com as emendas parlamentares e transformar o governo em refém. O poder real hoje está no Parlamento e o Executivo não passará de uma sombra se não mostrar um mínimo de força.

Hoje são 363 parlamentares do Centrão e menos de 130 progressistas. Portanto, o desafio de Lula não se limita a vencer a eleição majoritária, ele tem de fazer bancada no Congresso e refazer sua base social.

O presidente terá de ligar os fios da representação e da mobilização, a fim de redesenhar o mapa político brasileiro. Desafio hercúleo, do qual Boulos representa peça chave para o futuro das forças progressistas.