Capitalismo mais que selvagem

 

O ego de Donald Trump não é movido só por campanhas anti-imigração, tarifas que arruínam economias ou malabarismos superestimados (pelo próprio) pelo cessar fogo no Oriente Médio (com vistas ao Prêmio Nobel da Paz – se Maria Corina ganhou esse ano, nada impede que ele ganhe no próximo...)

Segundo a Forbes, nunca houve enriquecimento na presidência dos EUA como a do líder republicano, cuja fortuna combinada à da família saltou em 70% em relação ao ano anterior a sua eleição.

O crescimento meteórico é atribuído à entrada da família no universo das criptomoedas, conforme o Estadão. Antes da eleição, Trump criou a World Liberty Financial (WLF), de criptomoedas, em sociedade com os filhos. A promessa era “libertar” os americanos do sistema bancário tradicional por estruturas descentralizadas (DeFi), com um token nativo – o $WLFI, sem intermediários.

Tudo via aplicações em blockchain, que tenta imitar um banco, sem ser um banco. Substitui os gerentes, os contratos são automáticos e o “mercado” decide quem ganha, quem perde e quanto vale cada ativo. E o token WLFI é um tipo de “moeda” que move o ecossistema da WLF.

Trump prometia a liberdade financeira quando anunciou a WLFI, com os mesmos incentivos que movem muitas das criptomoedas: a crença de que o valor de um token cresce na proporção de quantos passam a acreditar nele.

Em março, com Trump já na presidência, a WLFI lançou uma stablecoin, a USD1. E o chinês Justin Sun, investigado pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA por manipulação de mercado e promoção de criptomoedas suspeitas, surgiu como parceiro no projeto. As investigações foram congeladas. Mais que uma grotesca coincidência.

Cada vez que é comprado um USD1, a empresa diz guardar um dólar “de verdade” num fundo seguro, os títulos do governo americano. Estes, rendem juros que vão para a BitGo, que cuida do dinheiro, e para a WLF, criadora da moeda.

Da qual a família Trump é dona majoritária. Ou seja, o investidor empresta seu dinheiro e eles lucram com os juros. Como é Trump quem indica o chefe do Banco Central - que define a taxa de juros no país - a mesma pessoa que influencia no valor dos juros tem lucros familiares direto dos rendimentos desses juros, pelo “novo dólar”.

Ou seja, o presidente dos EUA criou um império financeiro paralelo protegido por seu governo. E fica cada vez mais milionário, enquanto as instituições americanas empobrecem.

Ontem, por sinal, os EUA ferveram de norte a sul com os milhares de americanos que foram às ruas em mais de 2.600 manifestações contra Trump. Também houve registros de atos em Londres, Madri e Barcelona. Eles criticam as políticas de imigração, segurança, os cortes de verbas nas universidades e a presença da Guarda Nacional nos grandes centros.