Novo golpe em andamento

 

Cozinhe em banho-maria o crime de golpe de estado com pitadas de abolição violenta do Estado de Direito. E o que sai do caldeirão? A redução dos seis anos e 10 meses em regime fechado de Bolsonaro para um período entre dois a três anos.

Que tal? Nem Merlin seria capaz de tal mágica, executada pelo rei da vaselina, Paulinho da Força. Nas internas, Bolsonaro até topa, desde que a prisão seja domiciliar. As crises de soluço já se foram, e com o novo horizonte pela frente, os vômitos também devem ter ficado para trás.

Como se sabe, Paulinho já tinha garantido que não haveria anistia ampla geral e irrestrita para o ex-presidente. Ardiloso como ele só, é esta a solução que costura com o Centrão. Como se Bolsonaro não atentasse contra o Estado de Direito – o que não lhe permite anistia, conforme nossa Constituição.

E os 1.200 presos pelo 8 de janeiro ficariam imediatamente em liberdade. Quer dizer, o quebra quebra na Praça dos Três Poderes, as ameaças de ruptura da democracia e de matar Lula, Geraldo Alkmin e Alexandre de Moraes não passaram de histórias da Carochinha, para boi dormir.

Com diz o jornalista Luis Nassif, bomba no aeroporto de Brasília, invasão da sede da PF, tentativas de explodir postes de alta tensão. Era tudo brincadeira.

O acordo ainda vai depender, porém, do STF. O ministro Luís Roberto Barroso já manifestou alguma tolerância a esse tipo de solução, contudo, é de se duvidar que Alexandre de Moraes embarque nessa canoa furada.

E essa gente que pede anistia argumenta com a pacificação do país. Como se iludiu Juscelino Kubitcheck, que na Revolta de Jacareacanga abriu um inquérito para investigar o marechal Castelo Branco, rapidamente arquivado. Pois Castelo cassou JK quando assumiu a presidência no golpe militar de 1964.  

E João Paulo Burnier, anistiado por JK, chefiou a tortura a Rubens Paiva nos porões da ditadura militar (entre outros).

A anistia  de 1979 justificou a pacificação, porque os anistiados lutavam pela democracia. Agora quer se anistiar os que lutam contra a democracia. Que pacificação é essa?

O Centrão quer votar a maracutaia de Paulinho até a próxima quarta-feira. Só que, depois do Senado garantir a tramitação a jato da PEC da Bandidagem, o grupo cobra compromisso público de apoio de Davi Alcolumbre.

Como se viu, a maciça aprovação na Câmara à isenção do imposto de renda a quem ganha até R$ 5 mil não foi exatamente um ato de sensibilidade social. E sim o medo do calor das ruas demonstrado pelo histórico 21 de setembro.

E o que leva o Centrão agora a não temer nova reação, diante da impopularidade da anistia entre os brasileiros - como se viu na pesquisa do Datafolha do fim de setembro, pela qual, 54% da população é contra o perdão a Bolsonaro e aos golpistas?

Ou seja, é mais um novo golpe em andamento.