O consórcio da hipocrisia

 

Quando eu disse aqui que a extrema direita tinha encontrado no morticínio do Rio de Janeiro a sua tábua de salvação, nem podia imaginar o quanto estava certa. Foi estarrecedora a coletiva ontem do “Consórcio da Paz” (foto), realizada entre os sete governadores de direita da federação.

Cláudio Castro, governador do Rio, foi quase que alçado a herói nacional no encontro. A Operação Contenção, que já matou 121 pessoas é um atestado de incompetência, porque os óbitos não acontecem em operações bem sucedidas.

(Segundo a Revista Fórum, a operação foi encomendada pela Polícia Civil porque o Comando Vermelho (CV) estaria invadindo áreas de milicianos na Penha e no Alemão).

Jorginho Mello, governador de Santa Catarina, foi eleito marketeiro do grupo de oportunistas, ao vender a ideia da “Paz” através da guerra. Em sua malfadada operação, Castro 'descobriu' que a cidade do Rio reúne a maior fatia do Comando Vermelho (CV). PCC virou café pequeno...

E, assim como Flávio Bolsonaro disse sentir inveja das execuções dos traficantes’ venezuelanos pelos EUA, que já deixaram 61 mortos – sem ser possível provar que as vítimas fossem de fato traficantes -, Castro mandou matar suspeitos como se criminosos fossem. E desconsiderou essas mortes.

Romeo Zema (MG) e Ronaldo Caiado (Goiás) fizeram do encontro um palanque eleitoral, ressaltando que o consórcio garante a Paz, enquanto o governo federal investe no crime. Propõem uma integração das polícias e da inteligência e demonizam a PEC da Segurança, quando representam apenas sete estados e só o governo federal pode unir os 27 estados.

(Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior participaram remotamente, preferiram ficar fora daquela foto...)

Foram prometidas a aquisição de equipamentos de última geração (sem especificar quais) e abundante inteligência.

Só que desprezam a maior fonte de inteligência do país: a PF. Apesar dos elogios de Castro às ADPF – regras do STF para a atuação da polícia nas favelas -, a Corte Suprema e o governo federal foram acusados pelos demais de acirrar a violência. Eles são o 'bem', Lula e o STF são o "mal".

Um show de hipocrisia.

Só que a explosão de violência de terça-feira veio da Operação Contenção, sem o MP, a Defensoria Pública, Bombeiros e uma central de emergência que evitassem o caos instaurado após a matança, provocado pelas retaliações do CV. Que planejamento de dois meses foi esse?

A barbárie continuou ontem pela proibição dos defensores públicos acompanharem a perícia dos corpos no IML, para aferir se eles estavam ou não entre os 69 nomes denunciados e se de fato estariam ligados ao CV. Os 121 mortos já indicam que a matança extrapolou a território da bandidagem...

Caiado destacou a quantidade de traficantes provenientes de outros estados. Nada de novo para uma facção presente em 20 estados da federação. Era como se Castro descobrisse a pólvora do crime organizado, no estado em que a segurança pública é dominada desde 2018 por seus aliados bolsonaristas.

A maior apreensão já feita de fuzis – 117, nesta foram 93 –, se deu em 13 de março de 2019, na casa de um vizinho e amigo de Bolsonaro ligado a Ronnie Lessa (executor de Marielle Franco), no condomínio Vivendas da Barra. Como se sabe, o capitão foi o maior responsável pelo liberou geral das armas.   

E a PF descobriu, na Operação Forja, em 15 de outubro, uma fábrica no Rio capaz de montar 3.500 fuzis/ ano. Só com o uso da inteligência, sem nenhuma morte.