A queda de um baralho podre

  

“Já está escrito, já está previsto/ Por todas as videntes, pelas cartomantes/ Tá tudo nas cartas, em todas as estrelas/No jogo dos búzios e nas profecias/Cai o rei de Espadas/Caio rei de Ouros/Cai o rei de Paus/Cai não fica nada."

Quando Ivan Lins e Vítor Martins lançaram “Cartomante”, em 1975, sucesso retumbante dois anos depois na voz de Elis Regina, jamais poderiam imaginar o quão proféticos seriam em relação a este histórico fim deste 2025.

O castelo de cartas começou a ruir ontem para os generais Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, ambos presos e levados para o Comando Militar do Planalto, em Brasília. O mesmo aconteceu com o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, também encaminhado ontem para uma força militar da Marinha na capital.

E eram 4h40 quando o Ás de Ouros, mandante da trama golpista, assinou o início do cumprimento de sua sentença de 27 anos e três meses na mesma Superintendência da PF, em Brasília, onde já estava em prisão preventiva.

(Segundo a jornalista Rachel Madow, de uma TV canadense, Trump falava com Bolsonaro na sexta-feira à noite, quando o ex-presidente tentava arrancar a tornozeleira, e disse a um repórter acreditar que o veria "muito em breve". O plano era a fuga para a embaixada americana durante a vigília convocada por Flávio  e, depois, para os EUA. A informação só não bate com o fato do ex-presidente não falar inglês, embora pudesse haver alguém ali para fazer a tradução.) 

Bolsonaro, assim como os fugitivos Ramagem, o ex-diretor da Abin e detentor de informações privilegiadas; Carla Zambelli, o réu Eduardo Bolsonaro e Allan dos Santos têm em comum a ideia de que a lei foi feita para os outros. Não para eles, porque não merecem ser presos.

Aparentemente, o ex-presidente só não se escafedeu como os aliados porque foi pego com a boca na botija ao tentar violar a tornozeleira, parte crucial do plano. Agora a PF passa a investigar a pista de pouso a 200 m da mansão onde estava Bolsonaro, de Geraldo Piquet, irmão de Nelson, o aliado Campeão de Fórmula 1 que o visitou no último dia 5.

Alguém acredita nessa história de surto?

Enquanto isso, o New York Times de segunda-feira trouxe reportagem de capa, sustentando que Trump teve de se sujeitar a Lula, que não recuou um passo da defesa da soberania brasileira. E mostrou que é capaz de abandonar aliados se os seus próprios interesses falarem mais alto.

Em disputa ilusória para 2026 travada em pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Lula cresceu 5 pontos no cenário espontâneo, citado por 32% dos eleitores. Inelegível e preso, Jair Bolsonaro (PL) caiu três pontos e foi lembrado por 18%. Tarcísio foi citado por 2,1% e Ciro Gomes (PSDB) por 1%.

A queda do Ás de Ouros arrastou consigo um baralho de cartas apodrecidas. Capaz de transformar militares em bandidos, evangélicos em fariseus e seguidores em idiotas.