Crianças não são mães

 Primeiro o marmanjo reacionário Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara, tentou enfiar na nossa goela abaixo um projeto que criminalizava meninas vítimas de estupro que faziam aborto. Agora, a deputada Chris Tonietto (PL-RJ) presta o desserviço de atrapalhar o aborto dessas menores.

A patricinha, 34 anos, que teve o privilégio de fazer curso superior na UFF, se diz defensora da vida. E a vida dessas meninas violentadas quando ainda podiam estar brincando de boneca, arrastando por toda a existência um ser fruto de violência? Com essas pobres coitadas ela não se incomoda?

Ricas recorrem a clínicas clandestinas, pobres, que se danem.

Depois que sobretudo parlamentares conseguiram brecar o odiento projeto de Sóstenes, Tonietto – não por acaso presidente do PL Mulher RJ (que mulheres são essas que ela defende?) -, o traz de volta, repaginado, como PDL 3/5.

Aprovado na Câmara dos Deputados na última quarta-feira por 317 a 111, o projeto revoga uma resolução do Conanda  – destinado a fiscalizar normas de direitos da criança e do adolescente, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos –do início deste ano, que permite o aborto em qualquer período de gravidez a crianças estupradas.

Resolução extensiva ao risco de vida da gestante ou quando o feto apresentar anencefalia. O PDL 3/5 está no Senado, onde espera-se que não seja votado com a mesma total falta de humanidade de seus pares na Câmara.

“Querem, mais uma, vez obrigar que crianças sejam mães, mesmo quando vítimas de estupro, carregando uma violência no próprio corpo e dificultando o acesso ao aborto legal”, denuncia a deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP).

A alegação de Tonietto para a barbárie é “seu conteúdo, além de ilegal, importa na promoção de uma política atentatória ao mais basilar dos direitos humanos: a vida”.

Essa criatura desumana não poderia ser mais infeliz não só em criar o PDL 3/5, como pelos argumentos que a levaram a propô-lo. Imagino a jovem deputada cheia de regalias que, do conforto de seu alto padrão de vida, é capaz dee infernizar vítimas mirins que não têm a quem recorrer.

E, como se sabe, a maioria dos estupros são cometidos por pessoas próximas, da família das vítimas.

O que será que Tonietto ganha com isso? Projeção política na direita? Incentivo ao machismo e ao reacionarismo inerente a seus pares do PL e de outros partidos do Centrão? Mais votos? Mais dinheiro? Como pode ser tão cruel? 

No mais, ontem a Primeira Turma do STF rejeitou os recursos de todo o Núcleo Crucial e manteve a prisão por 27 anos e três meses de Bolsonaro e as penas dos demais. O julgamento virtual termina na próxima sexta-feira 14.