Para fugir da polarização

 

Embora o quadro ainda seja muito turvo, a tal alternativa da terceira via começa a ganhar contornos. Essa semana, como se sabe, presidentes do PSDB, DEM, PV Cidadania e Podemos, além de representantes do MDB, se reuniram e, por enquanto, têm apenas um consenso: não apoiam nem Lula, nem Bolsonaro. O número de brasileiros que se posiciona hoje a favor de uma nova alternativa é maior que o apoio a ambos, argumenta o presidente do PSDB, Bruno Araújo.

Só que a fragmentação se mantém forte. Embora o presidente do DEM, ACM Netto, afirme que não apoiará Bolsonaro, é recente o rompimento do antigo correligionário, Rodrigo Maia, pela adesão de Netto a Arthur Lira, o candidato do capitão à presidência da Câmara. Ou seja, tudo é possível...

Outro problema é o saco de gatos que se digladiam no PSDB. Embora governe o estado mais rico do país e seja o ‘pai’ da vacinação no Brasil, Dória saiu derrotado essa semana. Seus rivais, Tasso Jereissati e Eduardo Leite ameaçam formar uma dobradinha para enfrentar o paulista, que padece de intenções de votos nas mais recentes pesquisas de opinião.

Três membros desse grupo, alinhavado na carta de abril, já pularam do barco. Luciano Hulk mantém suas juras de amor eterno à Rede Globo e Sérgio Moro percebeu que sua fama não é das melhores entre os eleitores. Além de ter assumido um ministério de Bolsonaro, foi considerado suspeito pelo STF para julgar Lula. Amoedo também caiu fora. 

E quem parece emergir no meio desse terreno pantanoso? Acertou quem disse Ciro Gomes, a bordo de sua passagem por todos os cargos relevantes da política, sem nunca ter o nome manchado por denúncias de corrupção. Até o general Santos Cruz parece ter alguma simpatia por esse paulistano de alma cearense, desde que "tome sua dose diária de Lexotan."

As duas desistências citadas marcam alguma vantagem para Ciro, que mostra-se disposto a se aproximar do centro e abre as portas tanto ao Cidadania quanto ao PSD. Também demonstra simpatia por Mandetta para seu vice, o que pode vir a ser uma boa acomodação para esse instável tabuleiro.

As negociações continuam a pleno vapor e serão calibradas pelos resultados das próximas pesquisas de opinião. Levam os que estiverem em alta nas intenções de voto. É sempre mais uma luz no fim desse túnel, que promete muito sangue e ranger de dentes se chegarmos polarizados a 2022.