Adolescentes, alvos da vez

 

A interrupção da vacinação dos adolescentes não portadores de comorbidades, o mais novo absurdo do governo Bolsonaro no combate à pandemia, começou depois de o presidente ouvir críticas de uma comentarista da Jovem Pan – rádio, como se sabe, alvo de 'agrados' do governo.

Conforme o Antagonista, em seguida o presidente cobrou um posicionamento do ministro Marcelo Queiroga, que já ensaia autorizar outro anseio presidencial, a liberação do uso das máscaras, ainda essenciais ao combate da Covid-19.

O programa era o “Pingos nos Is”, de conteúdo bolsonarista, comandado por outro fã do capitão, o jornalista Augusto Nunes. O resultado foi a exclusão dos jovens de 12 a 17 anos do programa nacional de imunização contra a Covid, na contramão da recomendação anterior feita no dia 2 .

“Atenção: recomenda-se que, antes de qualquer vacinação, seja verificada nas bulas e respectivo (s) fabricante (s), as informações fornecidas por este (s) sobre a (s) vacina (s) a ser (em) administrada (s). Até o momento, no Brasil, a vacinação contra a covid-19 não está indicada para indivíduos menores de 18 anos”, defendeu a comentarista Ana Paula Henkel no programa de Nunes.

A vacinação dos adolescentes ocorreria em seguida à aplicação da 1ª dose nos adultos e foi autorizada pelo ministério da Saúde em 2 de setembro. Só que a autorização foi imediatamente deletada do site após a nova decisão.

O argumento usado pela Jovem Pan foi o aumento dos casos de miocardite entre os adolescentes após a segunda dose, feita pelo Centro de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Só que o mesmo CDC sustenta, assim como a Anvisa, que apesar dos casos raros, os adolescentes devem se vacinar.

E, para jogar lenha nessa fogueira, o ministério apoiou-se ainda no exemplo da recente morte de uma jovem de 16 anos após tomar a primeira dose da vacina da Pfizer. Só que 70 especialistas indicaram que o óbito não foi causado pelo imunizante, e sim pela doença autoimune da adolescente.

Bolsonaro negou ter dado a ordem a Queiroga, disse que foi apenas uma “recomendação”. Com mais esse equívoco – será mais um pretexto para economizar gastos com as vacinas? – o governo pode estar condenando os adolescentes à morte.

Assim como fez o governo ao induzir ao óbito de 3 entre cada 4 vítimas da Covid-19 com sua política negacionista - como sustentam os especialistas -, os adolescentes agora podem ser os alvos da vez.