Liberou geral

 

Após degustar o poder de declarar a 'graça' – desgraça que não acontece no país desde os anos 1940 –, Bolsonaro instituiu no país o princípio do liberou geral.

É nessa base que ele pretende reagir se o STF derrubar a tese do marco temporal sobre as terras indígenas. A medida propõe que os povos indígenas só terão direito a terras já ocupadas desde 5 de outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição.

Colírio ao agronegócio ogro e aos grileiros.

“Se conseguir vitória nisso, me resta [sic] duas coisas: entregar as chaves para o Supremo ou falar que não vou cumprir. Eu não tenho alternativa”, declarou o presidente na abertura do Agrishow, em Ribeirão Preto.

Isso após mais uma motociata movida a dinheiro público.

Sabe-se que o presidente já tinha o indulto na manga para o caso de condenação de seus filhos. O brutamontes Daniel Silveira – para quem Bolsonaro se lixa - foi apenas o piloto de provas para fomentar mais uma crise com o STF.

A ministra Rosa Weber, relatora das ações da oposição contra o decreto, deu dez dias para Bolsonaro se explicar. Para quem conhece o desdém presidencial pelo sexo feminino, imagina-se que ele deve ter rido do aviso, também ignorado pelo Congresso sobre as emendas secretas.

A oportunista deputada bolsonarista Carla Zambelli não perdeu tempo. Propôs um projeto para ampliar a anistia a todos os investigados ou processados por crimes políticos entre 1º de janeiro de 2019 a 21 de abril de 2022. Quer dizer: liberou geral.

Entre eles, Allan dos Santos, Roberto Jefferson, Oswaldo Eustáquio, Zé Trovão e Otoni de Paula.

E, apesar da boa vontade de convidar as Forças Armadas a acompanhar o processo eleitoral, o ministro Fachin acabou por abrir as portas do inferno.

Em meio ao tiroteio de Bolsonaro às urnas eletrônicas – para armar o circo diante de uma possível derrota - , a medida teria legitimado a atuação dos milicos onde não são chamados. O lugar deles, como se sabe, é na defesa do país.  

Já a nota acima do tom do ministério da Defesa sobre as declarações do ministro Luís Roberto Barroso, encomendada pelo presidente, divide o STF. De qualquer forma, cumpre seu papel de cortina de fumaça aos nossos reais problemas.

Mais uma estratégia para disfarçar a crise econômica, o desemprego, a inflação, a ausência de políticas públicas para Educação, Saúde e Habitação. E o pior de tudo: a fome.