Quando a Justiça tarda e falha

 

A cada dia novas informações maculam mais a Lava Jato. Poucas, talvez, tenham o alcance das falsas acusações feitas ao ex-reitor Luiz Carlos Cancellier (foto), da UFSC, que terminaram em morte.

Era o dia 17 de setembro de 2017, quando a delegada Érika Marena, integrante da Lava Jato, comandava a Operação Ouvidos Moucos, que deteve, sem provas, Cancellier e outros seis professores da universidade.

A UFSC e a residência do reitor, próxima, foram cercados por mais de 100 policiais. A delegada justificou o estardalhaço da operação pela certeza da causa.

Cancellier foi levado de camburão à Penitenciária da Agronômica, onde ficou 36h em cela de segurança máxima. Dias depois de liberado pela juíza que substituiu a que havia decretado sua prisão, ele jogou-se do último piso de um shopping de Florianópolis.

“Minha morte foi decretada quando fui banido da Universidade”, dizia seu bilhete suicida. Quase seis anos depois, no dia 11 de julho, o TCU concluiu que Concellier não cometera nenhuma irregularidade.

Pagou o erro alheio com sua própria vida.

Em entrevista à Carta Capital, Acioli Cancellier desabafa: “Sempre tive a certeza da inocência de meu irmão e dos outros indiciados. Nenhum deles teve direito à defesa”.

O ex-reitor e os professores eram acusados de desviar R$ 80 milhões. “Desse total foi movimentado apenas 9% na gestão de meu irmão. Mais de 90% eram de responsabilidade de outras gestões. Só ele foi levado à prisão e à morte, sem acusação qualificada ou clara aos advogados”.

Accioly chegou a entregar à PF uma representação contra a delegada Érika Marena ainda em 2017. Nunca recebeu resposta. Ele soube que a denúncia foi analisada pelo corregedor da PF e Marena acabou inocentada.    

Como chegou a ser noticiado na imprensa, foram encontrados indícios de diálogos entre Marena e o ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol, cassado pelo TSE.

Após conhecer a nova decisão do TCU, o ministro Flávio Dino prometeu apurar responsabilidades. Para Acioli, o maior erro foi a PF ter deflagrado a operação sem ouvir os acusados.

Por enquanto o consolo da família foram as desculpas apresentadas por Lula. Espera-se que a verdade venha à tona, os verdadeiros culpados sejam punidos, bem como os responsáveis pelo erro crasso.